Mas aqui surge outro problema, será que a verdade que tomamos como “verdade” é a verdadeira verdade?
Por
vezes sinto que aceito (aceitamos) como verdade apenas porque essa
“verdade” contraria a verdade de pessoas, governos, instituições que não
gostamos ou que sabemos que são “maus”, portanto tudo de bom que seja
dito sobre estes “maus” só pode ser mentira. Depois há a informação.
Vivemos num tempo em que a informação é tanta e tão rápida que se forma
uma mixórdia de informação de prós e contras, que quase se torna
impossível separar a verdade da mentira, acabamos por ficar confusos,
nem sequer sabemos que verdade procuramos.
Mais: se todas as teorias alternativas que circulam na internet fossem verdadeiras, o mundo acabaria nos próximos 30 segundos. Talvez menos.
Todavia, podemos tentar algo: fazer um pouco de limpeza (isso é, tentar encontrar uma/s teoria/s que pareçam ser mais viáveis, esquecendo as delirantes) e procurar uma chave de leitura, algo que possa dar um sentido ao que vemos. Se a chave funcionar (quando aplicada em várias ocasiões), então há boas probabilidades de que seja válida. Provavelmente não válida em absoluto, mas para explicar algumas coisas sim.
Eu escolhi uma chave de leitura que nos últimos tempos pus parcialmente de lado mas que os Leitores mais antigos de certeza se lembram: o dinheiro. Pus de lado porque acho que quase tudo (“quase”, não “tudo”) o que interessava tinha sido explorado, desde as bases da economia até os interesses das grandes empresas e famílias. Os primeiros 2 ou 3 anos do blog foram dedicados a esta “chave”.
O que descobri? Descobri que seguir o dinheiro é uma óptima sugestão para encontrar as razões daquilo que acontece. Mais uma vez: não de tudo, mas de muito sim.
Não havia armas de destruição maciça, não havia armas biológicas, não havia campos de treino de Al Qaeda ou outras ligações com o terrorismo. Nada daquilo que tinha sido contado era verdade.
Ao seguir o dinheiro, conseguimos perceber as falsas ligações 9/11 = Iraque, conseguimos explicar a maciça campanha mediática na pré-intervenção, conseguimos explicar como e porque as empresas petrolíferas ocidentais foram as únicas que ganharam com aquele conflito.
Um exemplo mais recente: o Afeganistão.
Publiquei vários diagramas que mostram o cultivo do ópio antes e depois da ocupação americana. Mais uma vez: a desculpa tinha sido Al Qaeda, as ligações com os talibãns. Falava-se de montanhas escavadas, enormes grutas nas quais os terroristas preparavam ataques mortíferos contra o Ocidente (no Youtube ainda pode ser encontrado Dick Cheney que ilustra uma destas fortalezas).
Não era verdade. Não existiam montanhas com grutas do Mal, Bin Laden (ex agente da CIA: como é que tão poucos gostam de lembrar disso?) foi alegadamente morto no Paquistão e os talibãns são alguns desgraçados que lutam com camelos e kalashnikov (e mesmo assim fizeram a vida negra ao exército high-tech dos EUA).
Os EUA agora afirmam “missão cumprida”, mas o que sobrou da guerra no Afeganistão? Um País devastado por uma década de combate, cidades nas mãos do Ocidente, as outras zonas nem por isso, e tanto, tanto ópio, até que antes da intervenção da NATO o Afeganistão nunca tinha produzido tanta heroína.
Sabem que mais? Eu achava esta ligação NATO = ópio um disparate.
Nunca tinha ouvido falar do assunto, simplesmente não sabia e quando ouvi da primeira vez não acreditei. Pensava fosse um exagero, algo inventado para desacreditar o Ocidente, o exército dos EUA em particular. Estava convencido de que os EUA tivessem ocupado o Afeganistão por motivos geopolíticos (afinal o País faz fronteira com o Irão). Mas quando vi Obama dizer “Missão cumprida” num País ainda nas mãos dos Talibans, quando vi Al Qaeda continuar alegremente a sua vidinha no resto do mundo, quando vi os diagramas da produção do ópio, o que sobra? Demorei, mas fui juntando as peças, como num puzzle. E no fim o quadro fazia sentido. Bem mais sentido do que a versão oficial.
Está certo? A resposta é simples: se não estiver certo, que alguém apresente uma explicação alternativa, baseada não nas opiniões mas nos factos. Coisa que ninguém até hoje foi capaz de fazer.
Agora, pegamos um diário, um qualquer.
Tentamos perceber como foi apresentada a guerra do Iraque, como foram apoiadas as ideias de Washington, sem duvidar, sem questionar. Tentamos entender como ainda é apresentada a guerra do Afeganistão: quantos jornalistas têm a coragem de fazer a ligação NATO = ópio, porque tão poucos omitem a ligação de Bin Laden com a CIA. Há escândalos ligados aos oficiais envolvidos no tráfego de drogas, mas estas são notícias que “fogem” dos media. Então temos que pôr uma pergunta: porquê? Porque estes aspectos são ocultados? Porque esta insistência toda em apoiar e divulgar a versão oficial, mesmo quando esta for contra as evidências?
Algo não bate certo. Nasce a dúvida e a o desejo de procurar mais. Ao utilizar a chave do dinheiro (o petróleo é dinheiro, a droga é dinheiro) conseguimos explicar outros factos aparentemente “estranhos”. Em muitos casos é bem mais simples explicar com a chave do dinheiro de que “engolir” as duvidosas versões oficiais.
Eu esforço-me para efectuar controlos cruzados, controlar a cadeia das fontes, mas sei que pode não ser suficiente se o erro for de conceito. Sei que hoje ou num outro dia qualquer pode surgir um facto que deita por terra algo em que acreditava, que pensava estar verdadeiro, que apresentei como verdadeiro.
Então por qual razão continuo? Porque já passaram 5 anos desde que abri o blog e ainda espero que este “algo” apareça. Não apenas nada disso aconteceu, mas fui eu que tive de mudar muitas das minhas ideias que estavam baseadas na versão oficial (como no caso da droga e do Afeganistão). Porque as “elites” (militares, financeiras, políticas, etc.) continuam a actuar segundo um modelo-padrão que parece ter como único objectivo o dinheiro (não esquecemos: dinheiro é poder). E porque quanto mais espreito a toca do coelho, em companhia dos Leitores, quanto mais as coisas parecem absurdas e, paradoxalmente, com cada vez mais sentido.
Repito: não há verdades absolutas, nem aqui, nem em outras páginas internet, nem nas capas dos diários. O que podemos fazer é seguir os acontecimentos, seguir o dinheiro e tentar ir além das versões oficiais que, como vimos, são sempre e inevitavelmente forjadas tendo como base as palavras proferidas nos centros do poder (corolário: se os jornalistas fizessem o trabalho deles, haveria muita menos informação e teorias alternativas na internet).
Por vezes penso, “Para que me serve saber verdade”. Só me da dores de barriga…..
Por qual razão vemos um filme? Comemos um gelado? Lemos um romance? Ouvimos música? São todas coisas “inúteis”, raramente conseguem tornar-nos pessoas melhores. Mas continuamos a fazê-las. Dão prazer, em medidas diferentes e é este o objectivo.
Cavar no caixote do lixo da humanidade pode dar prazer? Pode (prova científica: os gatos cavam sempre nos caixotes do lixo e parecem não ter intenção de parar). Porque a diferença é entre viver como um escravo, ignorante e feliz (até um certo ponto…), ou como alguém que está consciente da sua condição (mas duvido que esta seja a principal razão dos gatos).
Eu prefiro saber de ser escravo. Não gosto disso, mas aos menos não vivo num mundo que não existe e que foi criado para manter todos presos. O simples facto de conseguir ver as coisas numa óptica diferente daquela imposta já é motivo de satisfação: ver a realidade com os olhos escolhidos por outros ou tentar ver com os nossos? Este é o cerne da questão.
Inútil? Sim, inútil como ver um filme: do ponto de vista prático pouco muda. Mas não é por isso que deixamos de gostar de filmes, de gelados, de música.
A única coisa que posso fazer é tentar dar um conselho.
No Sábado parei num jardim a observar uma tília: fiquei encantado, é maravilhosa com as suas folhas delicadas, os grandes ramos no meio dos quais vivem outras criaturas igualmente maravilhosas. A humanidade pode ser um caixote do lixo, mas o mundo é muito mais do que isso: é um milagre que se renova dia após dia. E nós vivemos no meio dele: isso nunca pode ser esquecido nem desprezado.
A segunda é talvez mais importante ainda: não esquecer que estamos a falar duma espécie fundamentalmente ridícula.
Somos animais ridículos. Trabalhamos para obter algo que não existe (o dinheiro), matamos em nome de alguém que nunca vimos (os Deuses), o nosso sonho é acumular um metal do qual nenhum outro animal quer saber (o ouro), provocamos imensos estragos para obter um líquido preto, pegajoso e malcheiroso (o petróleo), nem sabemos como é que aqui chegámos ou o que há lá fora. E, depois disso tudo, olhamos para nós e concordamos satisfeitos: sim, somos deveras inteligentes.
Vale a pena enervar-se por alguém assim? Não, acreditem, não vale a pena.
Ipse dixit.