Ufo: os Clássicos – Thomas Mantell

Continuemos com a série dedicada aos objectos voadores não identificados? E continuemos, mais uma vez com um clássico da ufología.

Sete meses após o caso Roswell, há lugar um caso que teve uma enorme relevância entre os mass media: a morte do Capitão Thomas Mantell. Ainda hoje não é nada claro o que aconteceu naquele dia nos céus do Kentucky. Como sempre, antes vamos ver quais os factos.

Os factos

No dia 7 de Janeiro de 1948, o aeroporto militar de Godman em Fort Knox (Kentucky, EUA) recebe um relatório da polícia local acerca dum incomum objecto aéreo perto da cidade de Maysville. Os relatos falam dum objecto circular com um diâmetro entre 75 e 90 metros, também observado nas localidades de Owensboro e Irvington.

Por volta das 13h:45, o Sargento Quinton Blackwell observa o objecto a partir da torre de controle de Fort Knox, episódio confirmado por outras duas outras testemunhas nas mesma instalação. O comandante da base, Coronel Guy Hix, fala dum objecto “muito branco”, do tamanho de “cerca de um quarto da lua cheia” que “através dos binóculos parece ter uma borda vermelha em baixo”. O objecto permanece aparentemente parado ao longo duma hora e meia.

Observadores do aeroporto militar de Clinton County, no Ohio, descrevem o objecto “como tendo a aparência de um cone vermelho, flamejante, arrastando uma névoa verde gasosa” e observam o fenómeno por cerca de 35 minutos. Um outro observador no aeroporto militar de Lockbourne, sempre no Ohio, observa que “pouco antes de desaparecer veio para muito perto do chão, ficando aí por cerca de dez segundos. Em seguida, subiu a um ritmo muito rápido de volta à sua altitude original, 10 mil pés, estabilizando-se e desaparecendo nas nuvens, posição 120 graus. A sua velocidade era superior a 500 Mph ao nível de vôo”.

Um grupo de quatro caças P-51 Mustang, liderado pelo Capitão Thomas Mantell já se encontra no ar, perto da base de Godman Field, e os pilotos são avisados para que interceptarem o objecto. Dado que um dos pilotos se está com pouco combustível, volta para trás, enquanto os outros três continuam a missão.

Nesta altura há divergência acerca do que afirmam os pilotos: segundo alguns, Mantell relata um objecto que “parece metálico e de enorme tamanho”, segundo outros o mesmo é “tão pequeno e indistinto” que nem conseguem identificá-lo.

Às 15h:15, os dois colegas de Mantell, o Tenente Clemmons e o Tenente Hammond, ficam com pouco ou nada oxigénio disponível, portanto decidem regressar à base não ultrapassando os 22.500 pés, enquanto o Capitão decide continuar e ultrapassa os 25.000 pés (7.600 metros).

Poucos minutos depois, o avião precipita em espiral e cai na área de Franklin, perto da fronteira com o Estado do Tennessee. O objecto sai do alcance dos observadores.

Hipóteses

Logo a seguir, uma série de boatos sensacionalistas começam a circular sobre o acidente. Nomeadamente:

  • o disco voador era um míssil soviético
  • o disco voador era uma nave espacial que abateu o caça de Mantell
  • o corpo do piloto foi encontrado crivado de balas
  • não havia o corpo do piloto
  • o avião tinha sido completamente desintegrado no ar
  • os destroços eram radioactivos e/ou magnetizados

A realidade é mais simples. Ao atingir os 7.600 metros, o piloto entrou em hipóxia (falta de oxigénio, algo que pode começar a manifestar-se a partir dos 3.000 metros) e desmaiou: o avião, fora de controlo, entrou em espiral e precipitou.

A questão é: o que viu Mantell?
As explicações oficias foram essencialmente duas.

Vénus
O caso Mantell foi investigado pelo Project Sign (o primeiro grupo de pesquisa da Força Aérea para a investigação dos relatos de OVNIs). A conclusão foi a seguinte: dado que o planeta Vénus tinha sido alvo duma perseguição por parte dum F-51 várias semanas antes, e consideradas as semelhanças entre os dois avistamentos, Mantell morreu tentando alcançar o planeta Vénus. Um major da Força Aérea que foi entrevistado por vários repórteres afirmou categoricamente que “era Vénus”.

Trata-se duma altamente insatisfatória. Tinha sido o Dr. Josef Allen Hynek (que mais tarde será uma figura de primeiro plano da ufología mas que na altura era um “negacionista” ao serviço da Administração) a fornecer esta explicação, reconhecendo mais tarde que estava incorrecta por algumas razões: Vénus, mesmo que tivesse sido possível observa-lo (o dia estava cheio de nuvens), teria tido as dimensões dum ponto luminoso, nunca de um “objecto” metálico. E nenhuma das testemunhas falou em “ponto luminoso”.

Balão
Dado que a ideia de Vénus não tinha tido muito sucesso, mais tarde o caso foi reexaminado pela equipa do Project Blue Book (o terceiro estudo conduzido pela Força Aérea após o citado Project Sign e o Project Grudge). A nova explicação (outra vez sugerida pelo Dr. Hynek) individuou no balão do tipo Skyhook o objecto seguido por Mantell.

Os lançamentos deste tipo de balões eram secretos e muitos pilotos não o conheciam. Segundo Hynek, os balões tinham um revestimento de plástico transparente, o que poderia dar a impressão de uma superfície metálica. As dificuldades que tiveram os caças para alcançar o balão neste caso seriam explicadas pela presença de correntes de jacto de alta altitude.

A ideia é que, dado que os balões Skyhook eram secretos na altura, nem Mantell nem os
outros observadores teriam tido a capacidade de
identifica-lo.

Esta é portanto a hipótese final acerca do caso Mantell, aquela ainda hoje divulgada: mas tem algumas falhas.

Em primeiro lugar, os balões eram utilizados para fins científicos nos EUA desde 1904; e poucos meses antes do caso Mantell, os detritos de aspecto metálico do “balão” de Roswell tinham ocupado as capas de todos os diários. Afirmar que nenhuma das testemunhas poderia reconhecer um objecto daquele tipo não faz sentido.

Depois não podemos esquecer quem foram os protagonistas deste acontecimento.

Mantell, apesar de ter apenas 26 anos, era um piloto experiente (2.167
horas de voo), uma medalha Distinguished Flying Cross por acção corajosa durante o desembarque na Normandia em 1944 e uma medalha do ar para actos de heroísmo.

O Sargento Quinton Blackwell, operador da torre de controle na base de Godman, e o Comandante, Coronel Guy Hix, estavam acostumados a observar os fenómenos no céu; o mesmo pode ser dito do pessoal da base de Clinton County e daquela de Lockbourne (e nem falamos ao pormenor da observação desta última localidade, sumariamente descrita acima).

Quatro pilotos, oficiais e pessoal vários da força aérea, todos que observam um fenómeno aéreo e nenhum dos quais consegue imaginar um balão após o que se passou em Roswell poucos meses antes? Caças militares que não conseguem alcançar um balão por causa das correntes de jacto? E por qual razão o balão desapareceu pouco depois? Para não falar de Vénus…

Segundo as testemunhas:

  • aparência dum cone vermelho, flamejante, arrastando uma névoa verde gasosa
  • tamanho de cerca de um quarto da lua cheia
  • através dos binóculos parecia ter uma borda vermelha em baixo 
  • veio para muito perto do chão para depois voltar a subir
  • a sua velocidade era superior a 500 Mph

Não parece um balão.
Ou estavam todos bêbedos ou aquele não era um balão…

Conclusão

Pouco mais pode ser dito acerca do caso Mantell. A explicação do balão não era nova já na altura (ver Roswell) e teria voltado a aparecer com frequência nas seguintes décadas, até hoje. Também aquela de Vénus. Neste sentido, a USAF nunca teve problemas de fantasia, conseguindo até explicar um avistamento de massa como “sol reflectido pelas barrigas de aves em voo”.

A realidade é que não pode ser dita uma palavra definitiva acerca do caso Mantell que, por isso, mantém-se como um dos casos mais emblemáticos da ufología moderna.

Ipse dixit.

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4 Replies to “Ufo: os Clássicos – Thomas Mantell”

  1. Sugestão pouco clássica. Para um thread:
    Aquela história ou estoria de gado morto, "clinicamente" cortado sem manchas ou restos de sangue.

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