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SITE: a fábrica dos vídeos

Donde chega a maioria dos vídeos do Estado Islâmico?
Donde chega a maioria dos vídeos dos Jihadistas?
Qual o grau de confiança que estes vídeos têm?

Aqui, intenção não é pôr em causa a brutalidade e o fanatismo do ISIS. Isso está fora de questão.

Mas temos a certeza de que tudo o que nós apresentado seja verdade?
Por exemplo: se descobrirmos que, na prática, todos os vídeos mais marcantes têm uma única fonte? E que esta fonte nem é muçulmana mas é declaradamente sionista e anti-muçulmana? Mudaria alguma coisa?
Talvez sim.

Pegamos no vídeo dos cristãos egípcios decapitados na praia. Qual a origem? Temos a certeza de que seja autêntico? E como? Quem dá esta certeza?

A origem é o SITE (Search for International Terrorist Entities, “Pesquisa de Entidade Terroristas Internacionais”), a principal organização americana que monitoriza os jihadista na internet. Não apenas difunde como também certifica a autenticidade dos vídeos.

Não estamos a falar uma plataforma qualquer: SITE é o principal ponto de referência no mundo para os jornalistas que lidam com o terrorismo internacional, e em particular com os extremistas islâmicos.

SITE afirma manter o controle das principais redes terroristas globais, intercepta mensagens secretas, distribui (com generosa recompensa) áudio e vídeo aos principais network do planeta. Em 2011, por exemplo, traduziu o longa declaração escrita pelo Comando Geral de Al-Qaeda que confirmava a morte de Osama bin Laden.

Em suma, SITE tem um peso específico assinalável: todos conhecemos a importância das imagens, o impacto que estas têm na opinião pública e até nas decisões oficiais dos governos. Portanto, vale a pena tentar perceber o que é este SITE.

Directora e fundadora de SITE é Rita Katz.
Rita nasceu em 1963 em Bessora, no Iraque, de família judaica. Após a Guerra dos Seis Dias, o pai dela foi preso pelas forças de Saddam Hussein, acusado de espionagem em favor de Israel e após um ano foi enforcado na praça pública, em Bagdad.

Poucas semanas depois, a mãe de Rita consegue fugir do Iraque e voltar para Israel, na cidade costeira de Bat Yam. Estes são os anos em que Rita, ainda jovem, estuda na Universidade de Tel Aviv e tornar-se uma sionista convencida.

Em 1997, começa a trabalhar para um instituto de pesquisa no Oriente Médio. O seu primeiro trabalho a leva a descobrir a identidade de uma fundação que apoia Hamas. Eufórica, improvisa-se agente secreto: disfarça-se como uma mulher muçulmana, vestindo uma burka e pequenos gravadores; participa em conferências para a recolha de donativos, visita mesquitas, participa de eventos para a liberdade da Palestina, trabalha como um investigador disfarçado.

A sua experiência tem como fruto um livro autobiográfico, Terrorist Hunter: The Extraordinary Story of a Woman Who Went Undercover to Infiltrate the Radical Islamic Groups Operating in America (“Caçadora de Terroristas: a Extraordinária História de uma Mulher que Disfarçou-se para se Infiltrar no Grupos Radicais Islâmicos que Operam na América”. Na prática, o título já é metade do livro…).

Em 2002 funda, juntamente com Josh Devon, o SITE, com a ajuda de várias agências federais e de grupos económicos privados. SITE começa a fornecer informações sobre a presença de células islâmicas ultra-radicais nos Estados e determina o fecho duma série de organizações, bem como a abertura de dezenas de investigações por parte das autoridades judiciais.

Em poucos meses, a empresa expande a carteira de clientes e hoje podemos encontrar nela figuras de proa do governo, as principais agências de segurança (FBI, NSA…), Ministérios Públicos e media internacionais.

Rita Kazt continua a encontrar vídeos, como a decapitação do jornalista norte-americano Steven Sotloff, em algumas salas de chat jihdistas, protegidas por senhas: acrescenta o logo de SITE e distribui tudo com uma tradução em Inglês.

E aqui surge a dúvida: quanto é de confiança um trabalho deste?
Para responder, temos que ir atrás, até o mês de Outubro de 2010.

Na altura, Informação Incorrecta publica um artigo acerca dum improvável vídeo de Adam Yahiye Gadahn, rapaz do EUA que afirma ser islâmico, membro de Al-Qaeda e ameaça todos os habitantes do “Império do Mal”.

A história de Adam pode ser resumida desta forma: um rapaz americano, neto dum
influente membro da lobby israelita, que decide não seguir o
cristianismo (?!) para converter-se ao islamismo e lançar mensagens
vídeo que são difundidos por um grupo, o SITE, dirigido por Judeus que
têm contactos de alto nível na Administração e no governo dos Estados
Unidos.

Bastante claro, não é?

Rita Katz

O problema é que Rita vê o mundo divido em duas partes: sionistas e terroristas, mais nada. Grupos de caridade, grupos humanitários, pessoas que ajudam as populações árabes, todos fazem parte da segunda categoria. Claro que a seguir chegam as queixas, mas a sorte de Rita é ter uns juízes que conseguem iliba-la sempre das acusações.

A confiança no trabalho de SITE continua imutada. Não importa se Rita engana-se e apresentas as imagens do videogame Fallout 3 como os planos dos terroristas para um ataque nuclear contra o Ocidente. Rita tem sempre razão e obriga o diário The Daily Telegraph a retirar o artigo com o qual era denunciado o erro grosseiro.

SITE continua como a principal fonte de informações áudio e vídeo acerca do terrorismo islâmico.
Alguém poderá perguntar: mas como distinguir um vídeo falso, de mera propaganda, por um vídeo autêntico? Como eliminar a suspeita de que alguém faça um upload apenas para satisfazer a sede de procura do SITE? Como ter a certeza de que não seja até o mesmo SITE a carregar determinados vídeos?

Resposta? Não há certeza nenhuma, não há maneiras de verificar. É este o fascínio do SITE: a realidade pode ser construída ou manipulada, tudo fica ao sabor de Rita Katz. O que é mais do que suficiente para os órgãos de comunicação ocidentais.

 

Ipse dixit.

Relacionado: Terrorismo Made in USA

Fontes: SITE, Il Fatto Quotidiano, Kotaku, Wikipedia (versão inglesa), The New York Times, The New Yorker