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Grécia: a vitória de Syriza

E agora começa o divertimento.

Pela primeira vez na Europa, um partido definido de “Extrema Esquerda” ganha o poder. E alia-se com um partido de Extrema Direita.

Melhor ver o que aconteceu.

Os resultados

Eis os resultados finais, com número de votantes, percentagem e deputados eleitos no Parlamento grego. A participação foi de 63.9%:


Syriza ganha sem margens para dúvidas: faltam apenas dois deputados para obter a maioria absoluta.
Pelo que, o movimento de Alexis Tsipras aliou-se com Anel, o partido dos independentes gregos, para formar um governo. Tsipras já jurou e é o novo Primeiro Ministro da Grécia.

Outras notas.

Nova Democracia, o partido conservador de centro-direita que liderava o anterior governo, sofreu uma queda brutal, perdendo quase metade dos deputados. Pode agradecer as políticas de austeridade que implementou ao longo dos últimos anos.

Aurora Dourada, de Extrema Direita, mantém o mesmo número de deputados mas passa de quinto para terceiro partido nacional.

O Movimento Socialista perde mais de metade dos deputados: também Anel, o partido dos independentes, perde (antes tinha 20 deputados) e já não é o quarto partido.

Cresce ligeiramente o Partido Comunista (de 12 para 15 deputados) mas o outro grande vencedor destas eleições é O Rio, movimento ao mesmo tempo fortemente crítico em relação aos partidos tradicionais mas firmemente europeísta: de zero para 17 deputados é obra.

E agora?

Então? Então boas notícias.
A Grécia já tem o seu novo governo e é um executivo anti-europeísta.

Pode parecer um governo estranho, nascido da união dum partido de Extrema Esquerda com um de Extrema Direita. Mas assim não é.

Syriza não é um partido comunista mas de inspiração social-democrata. Não a Social-Democracia à portuguesa, como aquela do PSD, que de social-democrata não tem nada. Um Social-Democracia verdadeira, muito mais moderna e aberta ao dialogo quando comparada com o velho Comunismo.

A demonstração é dada pela coligação com ANEL, o partido dos Independentes. Os diários de regime definem ANEL como um partido de Extrema Direita, mas isso não está certo. ANEL nasce duma divisão interna do partido de centro Nova Democracia: e a separação teve como causa a política de austeridade do governo de Nova Democracia. ANEL é um partido fortemente anti-austeridade e contrário às políticas da Troika (UE-FMI-BCE).

É conservador e nacionalista, disso não há dúvidas: mas não faltam pontos de entendimento com Syriza, os principais dos quais são a independência da política e da economia gregas em relação à União Europeia e o forte sentimento anti-austeridade. É uma coligação que pode funcionar e a rapidez com a qual a coligação de governo foi formada é um óptimo sinal.

E agora, o que acontecerá? Agora, como afirmado, começa a parte divertida.
Em primeiro lugar será preciso ver se o novo governo será capaz de manter as promessas eleitorais. Se assim for, uma saída da Zona Euro parece inevitável, pois Bruxelas é clara: os orçamentos nacionais devem respeitar determinados parâmetros. E como isso é possível só com medidas de forte austeridade, um governo que tenha como ponto principal o fim da austeridade é um governo que decide não respeitar os tais parâmetros.

…e ainda outro prego no caixão

Mas será mesmo assim? Isso é, a Zona Euro estará disposta a perder a primeira peça?
Eu não é certo.

Uma saída voluntária do Euro enfraquece Bruxelas, pois há o risco de desencadear uma reacção em cadeia. Se depois esta saída não acaba num desastre pelo País que abandona a moeda única mas, como é provável, torna a economia deste mais competitiva (desvalorização da nova moeda, exportações em alta), então as coisas na Zona Euro iriam complicar-se ainda mais.

De facto, qualquer País que actualmente implemente a austeridade ganharia uma voz mais importante, o que pode abrir uma série de perigosas excepções na política de rigidez de Bruxelas.

A saída da Grécia bem pode ser o início do fim do Euro.
E em Bruxelas sabem disso. Quando é que o Banco Central Europeu anunciou a compra de milhares de milhões de Euros em dívida dos Países europeus? Três dias antes das eleições na Grécia. Se acham isso um mero acaso…

Portanto, é só esperar. E provavelmente a espera para as próximas novidades nem será tão demorada: tudo está nas mãos de Syriza.

Ipse dixit.