A lista do Emir

No passado 15 de Novembro, o Governo dos Emirados Árabes Unidos (EAU) compilou uma lista de 85 organizações definidas como “terroristas”.

O governo dos Emirados observa que a lista não está completa, o que implica que pode haver outras adições, e sublinha que as organizações que agora aparecem na lista podem pedir para ser removidas (um estranho caso de “terrorismo à pedido”).

Os Emirados enfatizam a necessidade de designar estas organizações como terroristas para proteger a segurança do País. A lista inclui organizações que operam legalmente em 7 Países europeus e pelo menos dois nos Estados Unidos.

Entre aqueles que trabalham nos Estados Unidos, há o Council on American-Islamic (“Conselho Islâmico-Americano”, CAIR) e a Muslim American Society (“Sociedade Muçulmana Americana”). CAIR é normalmente percebido como uma organização fundada pelas associação entre a Irmandade Muçulmana, Hamas, WAMY e Instituto no Pensamento Islâmico (cuja liderança tem conexões directas com a Casa Branca), que foram proibidas quando o envolvimento entre estas instituições e o terrorismo tornou-se público.

É interessante notar que muitos dos membros mais importantes do Conselho Nacional de Transição da Síria, que se reuniu pela primeira vez na Turquia e é apoiado pelos Estados Unidos e outros membros da Nato, tinha ligações directas com o CAIR. A liderança da organização é conhecida por ter laços estreitos com o conselheiro da segurança dos Estados Unidos, o “Grande Arquitecto” das estratégias político-militares ocidentais Zbigniev Brzezinski. Ou, dito em outras palavras, com o dinheiro dos Rockefeller.

O porta-voz do Departamento de Estado, Jeff Rathke, comentou a lista dos Emirados Árabes Unidos:

Temos examinados a lista das organizações classificadas como grupos terroristas publicada pelo Emirados Árabes Unidos há alguns dias e sabemos que duas das organizações na lista ficam nos Estados Unidos. Estamos à procura de informações sobre os motivos dessa decisão.

O caso CANVAS

Entre as organizações terroristas, realce para CANVAS (Centre for Applied Nonviolent Action and Strategies), grupo não governamental acerca do qual vale a pena gastar algumas palavras, pois representa um bom exemplo de como os Estados Unidos utilizem estes grupos para os próprios fins.

Fundada em Belgrado e sucessivamente operante em Georgia, Ucrânia, Egipto, Tunísia, Venezuela, até premiada pelo Fórum Económico de Davos, CANVAS é dirigida por Srđa Popović (líder do grupo Otpor!, que combatia contra o então presidente da Jugoslávia Milošević) e apresenta-se como organização que sob pedido intervém para espalhar a voz dos povos com métodos não violentos.

Em 2011, o grupo Anonymous conseguiu entrar nos computadores da empresa privada de espionagem Stratfor Forecasting, Inc., roubando 200 Giga de dados. Sucessivamente, Anonymous publicou através de Wikileaks a correspondência entre Srđa Popović e os analistas da Stratfor, sendo evidente como CANVAS fosse utilizada para espiar organizações inimigas.

Não admira descobrir que a Stratfor Forecasting é conhecida como “a sombra da CIA” e que nos Estados Unidos tem ligações directas com 13 departamentos federais.

Srđa Popović também funcionava como elo de ligação entre a Stratfor e Muneer Satter, um investidor de primeiro plano da Goldman Sachs e uma sucessiva investigação de US Uncut revelou que CANVAS tinha sido fundada com o financiamento de Michael McFaul (antes consultor do Presidente Obama, ctualmente embaixador na Rússia).

Em Dezembro de 2013, a Agência de Segurança Nacional do Kuwait publicou um vídeo nos medias sociais explicando como CANVAS promovesse a dissidência no interior do País.

Curiosamente, apesar de ser oficialmente uma organização não violenta, folhetos da CANVAS sobre como preparar-se para violentos confrontos com as autoridades foram distribuídos nos sit-in de Raba al-Adwaya e Nadah, no Egipto, e durante o golpe de Estado ucraniano em Fevereiro de 2014.

A lista

Eis a lista das organizações que o governo dos Emirados Árabes Unidos indica como terrorista:

  1. Irmandade Muçulmana
  2. Al-Islah (ou Dawat al-Islah)
  3. Fatah al-Islam (Líbano)
  4. Fatah al-Islam (associação dos muçulmanos italianos)
  5. Qalaya al-Jihad al-Arab (célula jihadista nos Emirados)
  6. Usbat al-Ansar (Liga dos Seguidores) no Líbano.
  7. Suomen Islam-seurakunta (associação islâmica da Finlândia)
  8. al-Qarama
  9. AQIM ou Tanzim al-Qaidah fi Bilad al-Maghrib al-Islamial (Qaida no Magrebe islâmico)
  10. Sveriges muslimska Förbund, SMF Associação Muçulmana da Suécia ()
  11. Hizb al-Ummah (Ummah ou Partido da Nação), o Golfo e na Península Árabe
  12. Ansar al-Sharia na Líbia (ASL, os Partidários da Lei Islâmica)
  13. Det Islamske Förbundet i Norge (Associação Islâmica na Noruega)
  14. al-Qaida
  15. Ansar al-Sharia, na Tunísia (AST, os partidários da Sharia)
  16. Islamic Relief UK
  17. Daash (SIIL)
  18. Haraqat al-Shabab al-Mujahideen (HSM) na Somália (Movimento Juvenil dos Mujahidin)
  19. Fundação Cordoba (TCF) na Grã-Bretanha
  20. Al-Qaeda na Península Arábica (AQAP)
  21. Boko Haram (Jamatu Lidda’Awati Ahlis Sunna Wal-Jihad) na Nigéria
  22. Islamic Relief Worldwide (IRW) Irmandade Muçulmana Mundial
  23. Jamat Ansar al-Sharia (Partidários da Sharia) no Iêmen
  24. al-Murabitun no Mali
  25. Tehrik-i-Taliban Pakistan (Movimento Talibã do Paquistão)
  26. Muslim Brotherhood (MB)
  27. Ansar al-Din (Defensores da Fé) no Mali
  28. Abu Dhar al-Ghifari na Síria
  29. Jamah Islamya no Egipto (ou Giamat al-Islamiya, Grupo Islâmico, IG)
  30. Haqqani no Paquistão
  31. al-Tawhid na Síria
  32. Ansar al-Bayt Maqdis (ABM, os Defensores da Santa Casa e Jerusalém), agora renomeada Wilayat Sinai (Província ou Estado do Sinai)
  33. Lashkar-e-Taiba (Exército dos Puros)
  34. qatibat al-Tawhid wal-Eman (Unidade Monoteísmo e Fé) na Síria
  35. Ajnad Misr (Soldados do Egipto)
  36. Movimento do Turquestão Oriental Islâmica no Paquistão (ETIM), ou Partido Islâmico do Turquestão (TIP)
  37. qatibat al-Qadra (Batalhão Verde) na Síria
  38. Majlis al-Shura Mujahidiin fi Aqnaf Bayt al-Maqdis (Conselho Shura dos Mujahideen de Jerusalém, ou MSC)
  39. Jaish-e-Mohammed (Exército de Maomé)
  40. Abu Baqr al-Siddiq na Síria
  41. Huthi no Iêmen
  42. Jaish-e-Mohammed (Exército de Maomé), Paquistão e Índia
  43. Talha Ibn Ubaid Allah, na Síria.
  44. Hezbullah al-Hijaz, na Arábia Saudita
  45. al-Mujahidin Honud em Kashmir / Índia (Indian Mujahedin, IM)
  46. Sarim al-Battar na Síria
  47. Hezbollah no Conselho de Cooperação dos Estados Árabes do Golfo
  48. Emirado Islâmico do Cáucaso (jihadistas tchetchenos)
  49. Abdullah bin Mubaraq na Síria
  50. Al-Qaeda no Irão
  51. Movimento Islâmico do Uzbequistão (IMU)
  52. Qawafil al-Shuhada (Caravana dos Mártires) [parabéns pelo nome, ndt]
  53. Badr no Iraque
  54. Abu Sayyaf nas Filipinas
  55. Abu Omar na Síria
  56. Asaib Ahl al-Haq (Liga dos Justos) no Iraque
  57. Conselho de Relações Americano-Islâmicas (CAIR)
  58. Ahrar Shamar (Brigada de homens livres da tribo Shamar) na Síria
  59. Hezbollah no Iraque
  60. CANVAS na Sérvia
  61. Sarya al-Jabal na Síria
  62. Abu al-Fadl al-Abas na Síria
  63. Muslim American Society (MAS)
  64. al-Shahba na Síria
  65. al-Yum Mawud (Brigada do Dia do Juízo) no Iraque
  66. União Internacional de Ulama (IUMS).
  67. al-Qaqa na Síria
  68. Amar bin Yasir
  69. Ansar al-Islam no Iraque
  70. Federação das Organizações Islâmicas na Europa
  71. Sufyan al-Thawri
  72. Ansar al-Islam (Partidários do Islã) no Iraque
  73. União das Organizações Islâmicas da França (L’Union des Organisations Islâmicas de France, UOIF)
  74. Ibad al-Rahman (Soldados de Deus) na Síria
  75. Jabhat al-Nusra Front (Frente da Vitória) na Síria
  76. Associação Muçulmana da Grã-Bretanha (MAB)
  77. Umar Ibn al-Qatab na Síria
  78. Haraqat Ahrar al-Sham al-Islami (Movimento Islâmico dos Homens Livres do Levante)
  79. Sociedade Islâmica da Alemanha (Deutschland Islamische Gemeinschaft).
  80. al-Shayma na Síria
  81. Jaysh al-Islam (Exército do Islão na Palestina) na Palestina
  82. Sociedade Islâmica da Dinamarca (Det Islamiske Trossamfund, DIT)
  83. qatiba al-Haq (Brigada dos Justos)
  84. Abdullah Azam
  85. Liga dos muçulmanos da Bélgica (Ligue des Musulmans de Belgique, LMB)

Há algumas exclusões notáveis da lista dos Emirados Árabes Unidos.
Não aparecem:

  • Liwa al-Islam, que estava envolvida no ataque químico no Ghouta do leste, perto de Damasco (na Síria) e cujo líder Zahran al-Lush tem trabalhado em estreita colaboração com inteligência saudita nos anos ’80;
  • Harkat-ul-Jihad-al-Islam, em Bangladesh, conhecido por operar em Myanmar também.
  • IHH supostamente uma sociedade de ajuda humanitária mas envolvida no contrabando de armas em favor dos “rebeldes” da Síria (a IHH é designada como sendo uma organização terrorista na Holanda).
  • Libyan Islamic Fighting Group, LIFG, que foi fundamental para a derrubada do governo da Líbia em 2011, e cujo chefe Abdalhaqim Belhadj é agora o chefe do conselho militar de Tripoli. O seu vice, Mahdi al-Harati, em 2012 liderou uma brigada de 20.000 líbios em dois grandes ataques contra a Síria.  

Ipse dixit.

Fontes: Huffington Post, The Guardian, Twitter, Counterpunch, Wikileaks (1, 2 e 3), NSNBC

2 Replies to “A lista do Emir”

  1. Traduzindo: O terrorismo é unicamente oriental, muçulmano e/ou islâmico…e a civilização ocidental acredita em pai natal…por favor! O pai do terrorismo é o próprio imperialismo comandado nos bastidores do poder por sionistas anglo-saxões, o resto é tentar desfocar do principal, ocupando-nos com o secundário…

    1. Olá Chaplin!

      Em boa verdade, no texto são muito claras as ligações com a CIA e a Administração dos EUA. Depois, claro, os Emirados não podem exagerar: afinal quem manda são sempre os seus principais clientes (por enquanto: a China avança).

      É interessante realçar como a inclusão do Canvas (e não só) na lista até alguns anos atrás não teria acontecido. Mas os EUA ameaçam uma solução "autárquica" com o petróleo (o fracking) e alguns poços da Península Árabe começam a extrair menos. A lista bem pode ser uma forma elegante de lembrar aos EUA de que 1. há outros clientes (sempre a China) 2. as famílias da Península bem conhecem os jogos atrás do terrorismo internacional (Arábia Saudita, Emirados, Oman, são entre os financiadores também) e certas verdades é melhor que fiquem esquecidas.

      Toda a riqueza e a importância das famílias da Península estão ligadas exclusivamente ao mercado do petróleo: no dia em que este acabar ou os actuais clientes não adquirir em quantidade suficiente, o futuro das várias monarquia será muito curto. Por enquanto é uma hipótese ainda remota (o fracking é uma escolha limitada), amanhã quem sabe? Melhor preparar-se por tempo.

      Abraço!!!!

Obrigado por participar na discussão!

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