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A “solução ” do Ayatollah

Pelo visto, os protagonistas da série “Psicopatas no poder” são muitos, mas muitos mesmo.

Pegamos no Ayatollah Ali Khamenei, o Imam guia suprema do Irão e ex-Presidente do País.
Khamenei respondeu via Twitter a nove perguntas. Eis a tradução:

1. Porque o regime sionista deveria ser eliminado?

Até agora, durante os seus 66 anos de existência, o chamado regime sionista tem procurado atingir os seus objectivos por meio de infanticídios, assassinatos, violência, punho de ferro, vangloriando-se disso perante o mundo inteiro.

2. O que significa a eliminação de israel do ponto de vista do Imam Khamenei?

O único significado reside em pôr fim aos crimes israelitas e eliminar este regime. É claro que a eliminação de israel não significa que haverá um massacre de judeus na região. A República Islâmica já propôs à comunidade internacional um mecanismo prático é lógico sobre como implementar este processo.

3. Qual é a maneira correcta de eliminar israel?

Todas as pessoas de origem palestiniana, inclusive muçulmanos, cristãos e judeus, onde quer que estejam, seja no território palestiniano, em campos de refugiados, em outros Países, ou onde quer que estejam, iriam participar num referendo que seria organizado de forma pública.

4. O que aconteceria com os imigrantes não-palestinianos?

O novo governo, que iria tomar posse depois dum referendo entre o povo de origem palestiniana, uma vez no poder irá decidir se os imigrantes não-palestinianos que imigraram para este País nos últimos anos continuarão a viver na Palestina ou se voltarão para os seus Países de origem.

5. Como iria funcionar o referendo proposto?

Iria ser programado de forma honesta e lógica, e isso pode ser bem compreendida pelo público em geral de todo o mundo, com o apoio das acções independentes e dos seus governos. É claro que não esperamos que os usurpadores sionistas se rendam facilmente a essa proposta, é aqui que o ponto ainda a ser definido, qual seria a posição que assumem os governos, as nações e as organizações de resistência.

6. Até o referendo ter lugar, como enfrentar israel?

Até o dia em que este regime assassino e infanticída não for eliminado por meio de um referendo, um confronto poderoso e resoluto de resistência armada é o único tratamento para este regime vergonhoso. A única maneira de lidar com um regime que comete crimes além da imaginação e do pensamento é uma oposição resoluta e armada.

7. Qual é a acção mais urgente a ser tomada no confronto militar com israel?

A Cisjordânia e a Faixa de Gaza devem ser armadas, tais como todos aqueles que estão interessados no destino da Palestina deveriam accionar-se para armar a população da Cisjordânia, de modo que, graças à mão forte deles e à fraqueza do inimigo sionista, as tristezas e os sofrimentos da população palestiniana possam ser reduzidos.

8. Quais são as soluções não consideradas aceitáveis?

Nós não queremos nem uma guerra clássica com um exército de Países muçulmanos, nem gostaríamos de atirar os imigrantes judeus para o mar, e certamente nem uma arbitragem da ONU ou de outras organizações internacionais.

9. Porque é negado um qualquer compromisso proposto?

Que os mísseis de Gaza tenham provocado os crimes de israel é uma conclusão errada. Na Cisjordânia as únicas armas da população são as pedras, não existem muitos outros tipos de armas lá. Mas este regime massacra e humilha a população, destrói as casas e as fazendas deles. O facto de Yasser Arafat ter sido envenenado e morto por israel num momento em que ele estava a mostrar a sua total cooperação com os sionistas demonstra que, do ponto de vista de israel, a “paz” é simplesmente um truque que leva a outros crimes e outra ocupação de terra.

Este blogue nunca foi delicado com o regime nazista de israel. Todavia, é muito difícil seguir com seriedade as palavras de Khamenei.

Nem falamos aqui da possibilidade real de pôr em prática a ideia dos referendos, há dois outros pontos que julgo serem mais importantes.

1.
Khamenei insiste em apresentar como não viável a coabitação entre hebreus e palestinianos. Sim, há o tal referendo no qual, com uma aparência democrática, todos poderiam participar (e adivinhem qual seria o resultado?).
 Mas logo a seguir é reconhecido que o novo governo eleito entre o povo de origem palestiniana deveria decidir o que fazer com os imigrantes judeus (supostamente Khamenei fala aqui dos territórios de Gaza, da Cisjordânia e do problema dos colonatos).

Desta forma, o Ayatollah parece confirmar que um entendimento pacífico entre as duas comunidades seja impossível. Khamenei prefere ignorar as características do regime nazista de Tel Avive, não reconhece que a propaganda tem moldado amplas camadas da sociedade israelita (não apenas as mais ortodoxas), construindo uma base de recíproco ódio sobre o qual nada pode crescer.

Não é esta a via. Não é seguindo israel na sua estrada de ódio racial que será possível resolver o problema entre os dois povos. Não é com um referendo “prático é lógico” que, magicamente, décadas de choque podem ser apagadas. Tornar os hebreus “estrangeiros na terra deles” é exactamente a mesma receita aplicada pelo regime sionista nos territórios do povo palestiniano, com os resultados que todos podemos observar. A “solução” de Khamenei contém já de início os germes para uma nova guerra.

Não acho que “paz” signifique atirar povos dum lado para outro do planeta. É claro, uma operação de educação, o erradicar gerações de ódio, são coisas que demoram, é um trabalho difícil, por vezes frustrante. Mas é a única maneira de obter algo que possa ser definido como “Paz”. Tudo o resto é apenas conversa, boa para os eleitores ou os fieis, mas que na prática mantém intactas as razões do ódio.

2.
Khamenei ignora voluntariamente um “pormenor”: o sionismo não nasce nem está totalmente concentrado em Tel Avive ou Jerusalem. O sionismo é parte integrante duma acção política com uma visão muito mais ampla, uma visão que tem os Estados Unidos (e boa parte do Ocidente) entre os protagonistas absolutos.

Pegar nos hebraicos que vivem há décadas em israel, ocupar a terra deles, destruir as casas, substituí-los na integra, não significaria nada, pois o projecto isrelita não começou em israel e não acabaria com a queda de Jerusalem: esta é uma visão digna do tempo das Cruzadas.

A região de israel é apenas a expressão local dum modo de entender a (impossível) coexistência entre povos: uma visão baseada no racismo, desta vez não étnico mas económico, onde há Países fortes e Países que devem ser apenas explorados ou utilizados para os fins dos mais ricos. É neste clima racista (difundido em muitas outras áreas do planeta) que podemos encontrar a “atmosfera” ideal na qual podem desenvolver-se e crescer proliferar aberrações como o sionismo.

Sionismo que, lembramos mais uma vez, não pode ser identificado com israel todo mas com aquele regime militar e político que há décadas oprime e sufoca a liberdade dos hebreus.

Ao ignorar tudo isso, Khamenei fica com um lugar cativo na fila dos psicopatas que querem só guerra, tensão constante, prevaricação, dos que trabalham contra a Paz. É a mesma fila dum Barack Obama e dum Benjamin Netanyahu, porque o jogo é o mesmo.

Ipse dixit.

Fonte: Twitter