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A queda dos EUA? Até 2034.

A História ensina: os impérios entram em colapso, mais cedo ou mais tarde. Portanto, a probabilidade de que o império norte-americano possa colapsar é 100%.

A pergunta é: quando?

Tentamos encontrar uma resposta, com as teorias de Joseph Tainter (antropologista, historiador) e Dmitry Orlov (engenheiro e escritor). A escolha destas duas pessoas não é casual: ambas têm tratado da complexidade das sociedade e da queda dos impérios ao longo da história, incluindo as previsões acerca do Império de Washington.

Como explica o brilhante analista Chalmers Johnson, os Estados Unidos são um “império de bases” e não um império de colónias. Anexar outros Países já não está na moda, não é considerado politicamente correto.

Por exemplo, vamos lembrar das reacções histéricas após a Rússia ter retomado a Crimeia (embora a população tivesse todo o direito de auto-determinar o seu futuro e 98% votou em favor da anexão). Se as coisas tivessem sido diferentes, com os EUA no papel da Rússia, a Crimeia teria proclamado a independência após uma revolução ocultamente financiada, uma base da Nato teria sido construída no seu território e todos estariam felizes, pois a “fachada” seria respeitada.

Poucos sabem que na verdade ainda há “colónias” dos EUA: territórios formalmente independentes mas que, de facto, são ocupados por uma massiva presença militar. Samoa, Guam, Atol Johnston, Ilhas Marshall, Ilhas Marianas do Norte, Porto Rico, as Ilhas Virgens, Ilhas Wake. Deveríamos incluir as Hawaii, dado que em 1993 o Congresso pediu “desculpas” pelo facto dos americanos ter raptado a rainha das ilhas e ter ilegalmente anexado o território. Mas hoje as Hawaii já fazem parte integral da federação, depois pedir desculpas sem devolver nada custa pouco.

Nas últimas décadas tem havido uma mudança, destinada a controlar outros Países através de instituições económicas (como o FMI ou o Banco Mundial). Houve também inúmeros subterfúgios políticos, assassinatos e golpes de Estado, como explicado por John Perkins no seu Confessions of an Economic Hitmanem (“Confissões de um Killer Económico”: aconselhado). No geral, desde o fim da II Guerra Mundial, os EUA:

Nada mal considerado que os EUA são o berço da Liberdade e da Democracia. Imaginem se fossem o Império do Mal…

Existe a possibilidade de que sejam os cidadãos dos EUA a inverter os destinos do País deles? Difícil. Os cidadãos bem pouco sabem acerca do que se passa fora das suas fronteiras e são devidamente controlados. No máximo poderá haver uma secessão, por razões exclusivamente económicas internas, mas não iria ser simples.

Então? Então vamos observar: a cada ano, o Pentágono publica uma “Base de Dados das Bases” que lista todos os bens militares, incluindo terrenos, edifícios e outras infra-estruturas. A última lista apresenta:

O total é de 4.855. Muitas? Sim, mas o total está longe de ser real pois muitas no estrangeiros são bases não declaradas: o jornalista e historiador Nick Turse calculou que em 2011 o número de bases estrangeiras estava perto de 1.075. Na verdade, Washington tem espalhadas pelo mundo mais de 5.000 bases militares.

Não podemos esquecer a “ocupação económica”, feita através das corporações e do sistema de mercado: mas não é possível negar que as bases militares tenham um papel em nada secundário. Manter o império americano precisas de bases, milhares de bases militares. Será que o número de bases e as áreas ocupadas no estrangeiro podem ser um bom indicador acerca do futuro próximo do Império? Vamos ver.

A área total que pertence ao exército norte-americano teve o seu pico em 2007, com 37.408.262 hectares, e tem vindo a diminuir desde então, incluindo uma queda abrupta em 2014.

É interessante realçar como a curva do gráfico acima siga muito de perto a curva da produção do petróleo. Será um acaso ou se calhar não. O importante é que os EUA já passaram o pico máximo de extensão e estão a cair.

Olhando para os dados do período 2003-2014, podemos observar as coisas de forma um pouco mais detalhada, com uma súbita mudança para pior em 2014. A queda no número total de bases em 2006 e 2007 parece anómalo, mas a tendência continua a seguir a produção de petróleo.

É ainda mais notável o declínio das bases (e as suas extensões) no exterior. Os EUA ainda têm um
grande controle no território nacional, mas sofreram grandes perdas no exterior. Após o pico de 2004, os EUA agora estão na posse de 64% das bases militares estrangeiras: isso significa uma perda de mais de um terço no prazo duma década.

Falando da extensão territorial, os EUA ainda controlam 69% do total (pico em 2006), tendo assim perdido 31% do território antes controlado.

As razões destas quedas? Provavelmente há mais do que uma causa: a desastrosa política externa dos Estados Unidos, a crise económica, a capacidade de alienar-se as simpatias dos não-americanos, a queda na extracção do petróleo….motivos não faltam. Mas seja qual for a explicação, a tendência é inegável.

Mas agora pegamos na tese central de Joseph Tainter, a diminuição dos rendimentos dos impérios.
A relação entre a extensão militar e os gastos militares (em Dólares, com valor em 2008) está a cair de forma constante desde 1991. Atualizando os dados (valor do Dólar em 2014), vemos que a despesa se estabilizou em 2010, recuperou algo mas depois voltou a cair em 2014.

Ao mesmo tempo, a dívida federal (que financia a maior parte da despesa militar) continua a aumentar segundo uma taxa constante (e atingindo valores estrelares) e a proporção entre expansão militar e dívida mostra um rendimento negativo sobre a dívida. É isso mesmo: o império está a receber rendimentos negativos do aumento da sua dívida.

O que é historicamente normal: nos primeiros dias, os impérios são empresas com rendimentos muito elevados. Mas quando a eficiência dos gastos do governo, a dívida e os
gastos militares se tornarem negativos (isto é, quando entramos no reino
da diminuição dos rendimentos) a teoria de Tainter coloca o império num
caminho que leva directamente para o colapso.

O colapso não é necessariamente repentino, pode ser gradual, pelo menos em teoria. A economia dos EUA, no entanto, é frágil, depende do financiamento internacional (que, por sua vez, continua a aumentar a dívida existente). Isto significa depender da bondade de estranhos, e estes não são exactamente simpáticos. Muitas Nações, com Rússia, China, Índia, Brasil e África do Sul na liderança, estão a fazer acordos bilaterais para evitar o uso do Dólar.

Agora, os Estados Unidos sem a hegemonia do Dólar têm o destino marcado. Assim como Roma, o império norte-americano está a ser atacado por “bárbaros”, com a diferença de que os bárbaros de hoje estão armados de computadores, laptops e smartphones. Assim como Roma, o império está a gastar biliões para defender a sua periferia, mas isso tem um custo enorme e recaídas no interior.

Enquanto isso, os EUA estão a lutar para evitar o pânico financeiro: a Federal Reserve imprime um trilião de Dólares por ano apenas para manter os bancos solventes e vende ouro para salvar o valor do Dólar. De facto, o mercado do trabalho não recuperou da crise de 2008 e os salários caíram desde então: mas o governo publica dados fantasiosos para esconder esta situação.

Soluções? Sim, há duas.

A primeira é assumir a situação, cortar os gastos e abandonar o projecto “imperial” tal como fez a União Soviética em 1989-1990. Mas é uma estrada perigosa: além da pouca simpatia semeada pelo mundo fora, haveria sempre uma dívida enorme, com o castelo de cartas financeiro que cairia de repente e a economia a desligar-se por completo.
Nada de novo: foi o que aconteceu na já citada URSS no início dos anos 90.

A outra opção é mais provável e mais simples também: é simplesmente continuar a sorrir, pedir dinheiro emprestado e gastar até o fim. Nestas condições, é difícil que tudo possa continuar ao longo de mais duas décadas. Note-se que esta previsão é baseada numa projecção linear, isso é, que não tem em conta eventuais mudanças que poderiam acelerar o processo. Como um agravamento da crise económico-financeira, por exemplo.

Por isso: 2034 como data limite.
Faz sentido: a ordem criada após a Segunda Guerra Mundial, com dois grandes blocos que se equilibravam, ruiu com a queda do Muro de Berlim. Os Estados Unidos tiveram que inventar-se novos inimigos para justificar a sua hegemonia: o que pode funcionar ao longo duns tempos, mas não para sempre. Como na teoria-base do Capitalismo há uma mão invisível que equilibra o mercado, também há outra mão, aquela da História, que no médio e longo prazo acaba com as anomalias.

Ipse dixit.

Fontes: Cluborlov