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…a propósito do Ébola:

Tema do dia? Eleições no Brasil? Nada disso: comentários de especialistas não faltam, ainda há a
segunda volta e depois tudo procede segundo as previsões (só a derrota da simpática Marina é espantosa: a “raposa de Rio Branco” conseguiu algo que até parecia impossível).

Pelo contrário, hoje vamos resolver um dos grandes problemas que afligem a Humanidade: o vírus Ébola. Que afinal pode ser derrotado e em tempos relativamente curtos.

A solução foi encontrada não por um cientista mas por um político, um Republicano: Todd Kincannon.

Todd, 33 anos, advogado da Carolina do Sul, membro do Instituto Americano dos Parlamentares e da Associação Nacional dos Parlamentares, cristão conservador da Convenção Batista do Sul, reflectiu, avaliou, e afinal encontro o tratamento, cuja receita divulgou logo no Twitter:

As pessoas com Ébola nos Estados Unidos deviam ser executadas

De facto, pode tratar-se duma forma de tratamento com amplas taxa de sucesso: dado que o vírus utiliza o ser humano (vivo) para difundir-se, eliminando o vector (o ser humano) o vírus é obrigado a parar.

Todavia, esta é uma medida que pode ser tomada no caso de surtos localizados em áreas circunscritas, quando os doentes forem em número limitado e facilmente controláveis. No caso de áreas mais vastas, como a África Ocidental, a situação muda pois os doentes podem decidir não colaborar e tentar afastar-se da cura.
Todd avaliou esta possibilidade também:

O protocolo para um teste positivo de Ébola devia ser execução imediata dos humanos e sanitização de toda a região”.

O advogado, portanto, sugere que um teste positivo dê como aplicação imediata a eliminação do vector (o doente), juntamente com a “sanitização” da região envolvida. Uma medida que tenta resolver o problema na mesma altura em que for detectada a doença, sem passar pela subministração de dispendiosos medicamentos. Uma solução pragmática e económica.
E a “sanitização”?

Devíamos bombardear a região com napalm.   

Os americanos têm acumulado uma grande experiência com o napalm, graças à colaboração dos Vietnamitas nos anos ’60: a implementação desta medida não deveria representar um problema, afinal trata-se de alguns aviões bem abastecidos com a ordem de descarregar sobre tudo o que possa ser (ou parecer) doente.

Mas Todd vai além do tratamento e individua as causas da doença: concentrar-se no vírus responsável não chega, é preciso encontrar as causas mais profundas. E Todd encontrou-as:

Os africanos têm a culpa da situação ser tão má. Eles devem deixar o canibalismo e aprender cálculo

Faltava, até hoje, um estudo epidemiológico que encarasse o canibalismo como forma de transmissão do vírus e o advogado da Carolina preencheu esta lacuna. Já o facto de comer um ser humano é questionável, mas sabemos ser este um habito muito difundido na África; o problema surge agora, no meio duma terrível epidemia de Ébola.
Comer um ser humano infectado ajuda a propagação da Ébola, esta é a realidade, e chegou a altura de enfrentar os factos: a culpa é dos africanos.
Uma prova?

Elegemos um queniano como Presidente. Agora temos Ébola e desemprego

E contra factos não há argumentos.

Seria simples nesta altura esconder-se atrás da palavra “racismo”. Mas é o mesmo Todd que explica: nada de racismo nas suas palavras, simplesmente, mais uma vez, pragmatismo.

Não há nada de errado com a necessidade de
sobrevivência

Bom, sobrevivência mas não de todos: só daqueles que não estiverem doentes e, possivelmente, que forem brancos (ou bronzeados, no máximo).

Além disso, Todd é perito em terrorismo internacional e deixa o
alerta:

Esperem até os terroristas usarem o Ébola numa bomba biológica
devido à nossa estúpida compaixão.

Mais uma vez, é dos Estados Unidos que chega a solução para os nossos problemas. Num obscuro escritório da Carolina do Sul vivia um génio, que com poucas e meditadas palavras foi capaz de resolver um drama contra o qual o resto do mundo parecia imóvel.


Quantos outros Todd haverá nos Estados Unidos? E no resto do mundo?
Epidemia, Pandemia…

Mas talvez a pergunta certa seja outra: como é que nos últimos anos, com uma regularidade impressionante, temos tido uma série de “epidemias” e “pandemias”?

Falamos das pandemias que, lembramos, são epidemias que interessam mais áreas do mundo (uma epidemia maior).

  • 2003: Sars (origem: China)
  • 2004: Aviária (origem: Vietnam)
  • 2009: H1N1 (origem: México)

São 3 pandemias em 7 anos: muito quando comparado com as pandemias no passado.
No século passado:

  • 1918: Gripe Espanhola
  • 1957: Gripe Asiática
  • 1960: El Tor (cólera) 
  • 1968: Gripe de Hong Kong
  • 1981: Sida

Acerca desta última seria preciso falar muito, mas tomamos este dado como válido: são 5 pandemias em 80 anos, contra as 3 dos últimos 7. Como é possível explica-las?

Em parte é verdade que as melhorias nos meios de transportes têm facilitado a deslocação dos seres humanos nos vários pontos do globo. É suficiente isso para justificar o aumento das pandemias?
A resposta é: não.
Analisando o caso da pandemia de 2009 (H1N1), densas dúvidas rodeiam o aparecimento desta doença (e a casa farmacêutica que produzia o relativo remédio). É lícito ter dúvidas acerca da última epidemia também, a de Ébola?
Por enquanto não pode haver uma resposta certa: contrariamente ao caso da H1N1, parece que a estirpe do vírus desta epidemia (até agora não podemos falar em pandemia) seja a mesma que há décadas flagela alguns Países africanos (o Zaire ebolavirus). Nada de novo, portanto.
E a possibilidade de que a epidemia se torne uma pandemia, envolvendo outros continentes?
Em primeiro lugar é bem não esquecer que as mortes, até a data de hoje, são “apenas” 3.439. E as mortes fora do continente africano não passam dum par.

O futuro? Eis dois cenários “razoáveis”:

  1. a epidemia é controlada e limitada aso Países africanos, que pagam assim a conta mais salada em termos de morte.
  2. a epidemia é controlada mas há surtos (extremamente limitados) em outros continentes. Em qualquer caso, são os Países africanos que pagam a conta mais salada.

Eu acho ser o segundo o mais provável, acompanhado por campanhas de prevenção que envolverão casas farmacêuticas privadas (venda de máscaras, produtos de desinfecção, etc.) e controles mais rigorosos na mobilidade das pessoas (aeroportos, navios, etc.).

Doutro lado, esta é uma boa ocasião para difundir um pouco de pânico, seria estúpido ignora-la.
O diário L’Espresso de hoje, por exemplo, assim titula:

Kamikazes virais, os jidahistas cavalgam Ébola.

Vamos ler um trecho:

De acordo com analistas dos serviços secretos internacionais, o Isis gostaria de lançar uma campanha na web com filmes que mostram os combatentes islâmicos que se inoculam sangue infectado e, em seguida, são filmado em cidades ocidentais, em locais com alta densidade de público: centros comerciais , museus, estádios desportivos.

Dito assim, parece não haver dúvida: o Isis quer difundir Ébola.
Só que algumas linhas mais abaixo pode-se ler o seguinte:

As primeiras evidências duma tentativa de desencadear uma guerra santa de “saúde” foram coletadas em Janeiro deste ano, durante uma incursão em Iblid – fronteira entre a Síria e a Turquia […]. No escritório foi encontrado um computador portátil […] repleto de milhares de arquivos, que vão desde a pregação ideológica, técnicas de guerrilha e disfarce, até o manual na fabricação de bombas e armas biológicas.

E não é o único vestígio: em Agosto, durante mais um ataque contra os homens do califado, foi encontrado abandonado outro arquivo de computador acerca de  combatentes islâmicos dedicados às realizações de armas biológicas e de estudos detalhados sobre o vírus da peste bubônica.

Janeiro, quando ninguém falava de Ébola, e peste bubônica.
Tristeza.