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A Grande Colheita no Afeganistão

Afeganistão? Pois: também aí há uma guerra e é algo que dura há 13 anos.

O que há no Afeganistão? Não muito: alguns terroristas (assim dizem), ferro, cobre, lítio, mas sobretudo ópio, um mar de ópio.

Mas não é isso que agora interessa.
Agora é altura para espreitar o Commander’s Guide to Biometrics in Afghanistan: Observations, Insights, and Lessons. (“Guia para Oficiais das medidas biométricas no Afeganistão: observações, notas e métodos”).

Mais simplesmente: um programa de pesquisa com o qual o Exército dos EUA está a tentar obter os dados biométricos de toda a população do Afeganistão.

Através do uso de dispositivos electrónicos, impressões digitais, recolha de amostras de DNA e “entrevistas” feitas à população, os militares dos EUA está tentar identificar e catalogar os 25 milhões de Afegãos que vivem não apenas nas cidades e nas aldeias, mas também aqueles que vivem em montanhas ou nas cavernas. Os perfis individuais incluem uma avaliação do eventual nível de perigo do sujeito.
Parece o enredo duma película de ficção científica, não é?
Mas não: os documentos estão disponíveis (pontos 2 e 5 do FOIA, o Freedom of Information Act, a lei federal que regula o acesso aos documentos do Estado) e podem ser consultados (links abaixo).

Eis algumas passagens:

O objectivo declarado do esforço que ocorre no Afeganistão é a classificação biométrica de toda a sua população.

Todos os dados recolhidos são enviados para o DOD (Department of Defense, Departamento da Defesa), através da ABIS (Sistema Automático de Classificação Biométrica), no West Virginia, onde são recolhidos e partilhados com o DHS (Department of Homeland Security, Departamento de Segurança Interna) e o FBI. A colaboração com outras nações torna possível a utilização dos dados por parte do DOD contra governos estrangeiros ou para a aplicação da lei.

O Guia para Oficiais sugere para registar todos, mesmo as pessoas que morreram, aos quais o DNA é extraído através de tampões orais […] O benefício para as forças norte-americanas e da coligação, em termos de proteger o público e de identificação dos indivíduos perigosos, é tão grande que os oficiais têm que ser criativos e persistentes no seu trabalho, de modo a catalogar o maior número possível da população afegã.

O Exército dos EUA está a utilizar três métodos para recolher essa enorme quantidade de dados: o BAT (Biometric Automated Toolset), o HIIDE (dispositivo portátil de autenticação) e o SEEK (kit de registo electrónico).

O BAT é usado principalmente pelos fuzileiros navais da Marinha e consiste dum computador portátil com dispositivos que fazem a varredura das impressões digitais, do íris e recolhe o material fotográfico.

O HIIDE recolhe as mesmas informações, mas é um dispositivo ainda mais portátil.

Todos os três sistemas de recolha podem apoiar-se em mais de 150 servidores dos EUA espalhados por todo o território do Afeganistão, através dos quais podem fazer qualquer upload e download em tempo real de toda a informação biométrica, com a lista dos sujeitos considerados potencialmente perigosos.

Qual a ideia em recolher os dados biométricos de 25 milhões de pessoas agora que a guerra está perdida e quando o País deverá ser abandonado no prazo de poucos meses? É normal e sobretudo legítimo que os EUA recolham estas informações (muito) pessoais e as guardem (e partilhem) nos bancos de dados de três distintas instituições? E por qual razão o Afeganistão?

Temos ainda que acreditar na hipótese do terrorismo?

Se assim for, isso significa que serão precisas recolhas de dados biométricos me muitas outras zonas: na Coreia do Norte, que tem um arsenal nuclear capaz de destruir o sistema solar, no Iraque, que ainda escondem depósitos de armas  de destruição em massa, na Palestina, que querem derrubar israel dos pobres judeus e submetê-los a um segundo Holocausto, no Irão, onde apedrejam mulheres adúlteras a cada dia, na Somália, onde atacam todos os dias os navios neutros para obter o dinheiro do resgate, na Venezuela, que tenciona exportar o Comunismo para o mundo todo… afinal, há potenciais terroristas à cada esquina.

Dúvida: por enquanto será só no Afeganistão ou a recolha já estará activa em outras partes do mundo?

Ipse dixit.

Fonte: U.S. Army: U.S. Army Commander’s Guide to Biometrics in Afghanistan (ficheiro Pdf, inglês)