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Insólito: a Nasa e os antigos astronautas – II

Lembra-se o Leitor do artigo dedicado a quanto afirmado pela Nasa acerca dos Ufo?

Não se lembra? Não há crise, este é o link.

Já leu? Muito bem, agora podemos proceder.
Porque em boa verdade não é aquele o primeiro exemplo de Nasa & Ufo do passado.

Poucos anos atrás, Richard Stothers, professor da Universidade de Harvard e membro do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa, publicou um extenso estudo argumentando que alguns acontecimentos “estranhos” registados em muitas crônicas antigas podem ter sido provocados pelo fenómeno Ufo.

Não escondo que este é um assunto para o qual nutro um profundo carinho. Na altura não havia internet, não havia imbecis a fazer upload no Youtube com a foto editada do avô para apresenta-la como a prova dum original extraterrestre capturado pela FBI. Claro, havia outros problemas. Mas vamos com ordem.

Contrariamente a quanto podem pensar os que não costumam interessar-se ao fenómeno Ufo, a descrição de objectos voadores não identificados é razoavelmente constante ao longo da história, desde os tempos antigos. Embora muitos destes poderiam ser atribuídos a fenómenos naturais (e, com certeza, em muitos casos tudo não passava duma manifestação natural mas ainda sem explicação na altura), Stothers escreveu que “continua a existir um pequeno número de relatórios desconcertantes e, independentemente da explicação que desejarmos dar-lhes, é um fenómeno que atravessa todas as idades e diferentes culturas”.

A seguir, eis cinco dos casos que Stothers relatou no seu estudo.

Os carros voadores

O historiador Flávio Giuseppe, na obra Antiguidades dos Judeus (escrito por volta do 65 d.C.), dá notícia dum episódio ocorrido na Judéia:

No dia  21 do mês de Artemisium aconteceu um fenómeno milagroso. O que estou prestes a dizer pode ser considerado por muitos um conto, não fosse a presença de testemunhas oculares e as calamidades resultantes do fenómeno. Na verdade, antes do sol, em todas as partes do país têm sido vistos batalhões armados acelerando através das nuvens no ar.

Pronto, já começamos mal…
Este pode bem ter sido um fenómeno conhecido como Fata Morgana, isso é, uma espécie de miragem: evento análogo foi observado nos céus da Suécia, muitos séculos depois, com o exército alemão a marchar entre as nuvens. Na verdade, os Alemães encontravam-se centenas de quilómetros mais a Sul.

A Fata Morgana é um fenómeno raro mas bem documentado e com uma explicação científica que não deixa dúvidas (é uma inversão térmica com a contemporânea presença dum conduto atmosférico): contrariamente à miragem, na qual as imagens ilusórias apresentam-se ao nível do terreno, a Fata Morgana mostra imagens reflectidas no céu.
Vamos ver o segundo caso.

Milhares de soldados romanos testemunham Ufo

Plutarco relata um fenómeno testemunhado por milhares de pessoas. Em 74 a.C., o exército romano estava a preparar-se para travar uma batalha com as forças do rei Mitrídates VI, na região da moderna Turquia:

Sem alguma mudança aparente do tempo, de repente, o céu rasgou-se e um enorme corpo de fogo como chama foi visto posicionar-se entre os dois exércitos. Na forma parecia um cacho de uvas e a cor era como prata derretida. Ambos os lados foram surpreendidos com a vista. Esta maravilha, como é dito, ocorreu na Frígia, num lugar chamado Otryae.

Sem dúvida um algo bem mais interessante. Stothers salienta que os meteoritos precipitados normalmente só escuros, negros, não parecidos com “prata derretida”, o que sugere que não era um meteorito. Plutarco também não faz nenhuma menção ao impacto, falando de “posicionamento” entre os dois exércitos.

Afirma o pesquisador que se tivesse ficado no terreno, sem dúvida teria sido visto como algo sagrado, tornando-se um objecto de culto na Frígia (como aconteceu, por exemplo, com a Pedra Negra conservada na Caaba em Meca); mas as crónicas históricas posteriores não mencionam nada disso. 

Durante a Segunda Guerra Púnica

Muitos avistamentos foram reportados durante e após a Segunda Guerra Púnica (218-201 a.C.), no Annales Maximi do escritor Lívio. Este é um pormenor importante: Lívio não era um simples “conta-histórias” como o grego Heródoto, mas um historiador rigoroso. E os factos (de qualquer natureza) eram inseridos nos Annales só após uma investigação das autoridades.

Tito Lívio relata que, no Inverno de 218 a.C., Roma testemunhou um “espectáculo de navios brilhante no céu”. Em 217 a.C., “escudos redondos (parmas) foram vistos no céu de Arpi [Italia do Sul, ndt]”. Em 173 a.C., “em Lanuvio [33 km de Roma, ndt] um espectáculo duma grande frota foi visto no céu.”

É improvável que formações de nuvens pudessem impressionar ao ponto de acabar nos Annalis. Outras hipóteses (asteróides por exemplo) podem ser excluídas por causa do número envolvido (“uma frota”) e o factod e não ser relatada nenhum aparente queda. 

Cabelos de Anjos

Nos modernos casos ufológicos é comum ouvir testemunhas falar duma substância branca caída do céu e conhecida como “Cabelos de Anjo”. Mas não é um fenómeno recente. Já no Antigo Testamento é relatada a Queda da Mana.

E em 196 d.C., o historiador Dião Cássio escreveu:

A chuva fina que se assemelha a prata caiu do céu sobre o Fórum de Augusto. Na verdade, não vi como tinha caído, mas notei que havia e com ela plaquei algumas moedas de bronze; mantiveram a mesma aparência por três dias, mas no quarto dia toda a substância tinha ido embora.

Dois outros casos de chuvas parecida foram relatados em Cales (perto de Napoli) em 214 a.C. e em Roma, em 98 a.C.

A besta de cerâmica

O irmão de Papa Pio foi testemunha de um avistamento que ocorreu por volta de 150 d.C. perto da Via Campana:

Num dia ensolarado, a ‘besta’ semelhante a uma obra de cerâmica com cerca de 100 metros de largura, multi-colorido no topo e com raios de fogo abaixo, caiu no chão, levantando uma nuvem de poeira, acompanhado por uma “menina” vestido de branco.

Bah…não é para contradizer o cientista da Nasa, mas acho ser este um caso um pouco “assim”.
De facto Papa Pio I tinha um irmão, Hermes, mas este foi o único testemunho do evento. Além disso, Hermes é considerado um dos “Pais da Igreja”, pelos seus escritos de género apocalíptico: visões, alegorias, linguagem complexa rica de simbolismo. Na obra Haermae Pastor, (o “best seller” dele”) Hermes descreve Cristo como uma espécie de anjo, algo parecido à menina vestida de branco.


Enfim, como testemunha é um pouco suspeito.

Todavia, fica o fundamental: não apenas um cientista da Nasa trata do assunto, como até é o mesmo

ente espacial americano que disponibiliza o documento numa das suas páginas online.

São estes os únicos casos de alegados Ufo na antiguidade? Longe disso, o número de fenómenos “esquisitos” é bem mais amplo, ao ponto de ser impossível cita-los todos. Valem as mesmas considerações feitas no início: é impossível estabelecer quantos foram fenómenos naturais não explicados e quantos acontecimentos não naturais.

Reportamos apenas um dos casos mais emblemáticos.

No ano de 776 d.C., um objecto voador foi avistado durante o cerco do Castelo de Sigiburg, em França. Os Saxões cercaram os Franceses, quando de repente um grupo de discos (escudos flamejantes) apareceu voando sobre o telhado da igreja. Aos Saxões pareceu que os Franceses estivessem a ser protegidos por estes objectos e, portanto, fugiram.

Existem duas imagens do incidente, ambas no manuscrito do século XII, o Annales Laurissenses (um livros de eventos históricos e religiosos). Uma das imagens pode ser observada acima, à direita.

A teoria dos Antigos Astronautas, das visitas de Ufo em tempos passados, é algo que provavelmente nunca poderá ter uma demonstração definitiva. Não faltam testemunhos, falta a possibilidade de analisar o fenómeno nos moldes da Ciência, como ela é hoje entendida, pelo que será sempre um confronto entre opiniões e nada mais. A atenção da Nasa, todavia, é um ponto a favor dos que apoiam a ideia pela qual o fenómeno Ufo nada tem de “moderno”.

Ipse dixit.

Fontes: R. Stothers (via Nasa) – Unidentified Flying Objects in Classical Antiquity  (Ficheiro Pdf, inglês)