Silent Weapons for Quiet Wars: o falso verdadeiro

Silent Weapons for Quiet Wars (“Armas Silenciosas para Guerras Tranquilas”) é um curto documento
(menos de 30 páginas) datado 1979 e supostamente encontrado em 1986 numa fotocopiadora IBM comprada num leilão de equipamentos militares.

É apontado como sendo um documento do Grupo Bilderberg, portanto é destinado a uma restrita elite político-económica-militar, e (sempre “supostamente”) encontrava-se na posse dos serviços secretos da Marinha os Estados Unidos.

A tradução integral pode ser lida  no blog Armas Silenciosas Para Guerras Tranquilas (obrigado Paulo pela indicação!).

Mas que dizer do documento?
Esquecimento? Fuga de notícias? Falso? Ou outro ainda?

Responder não é simples, porque na verdade há duas respostas, diametralmente opostas:

  1. Armas Silenciosas para Guerras Tranquilas é um falso, e nem particularmente bem feito.
  2. Armas Silenciosas para Guerras Tranquilas é autêntico, pois descreve como funciona a nossa sociedade.

O problema? Ambas as respostas estão correctas.

Falso

O documento é mal feito e muito datado.

As teorias apresentadas reflectem uma maneira de pensar típica da década dos anos ’50, hoje ultrapassada, mas são outros os pormenores que denunciam o documento como falso. Já um documento secreto que afirma “eu sou um documento secreto” faz sorrir; e uma “elite” que define a si mesma como “elite” parece uma anedota.

Rothschild, Rockfeller, Nova Ordem Mundial, Terceira Guerra Mundial: o documento não poupa nada, tornando-se assim uma autêntica bíblia do cidadão mártir.

Doutro lado, não é possível avaliar o documento sem falar da pessoa que tornou tudo público:  William “Bill” Cooper. É ele o autor de Behold a Pale Horse, o livro de 1991 que entregou ao grande público Silent Weapons for Quiet Wars: Cooper é por sua vez visto como um mártir, assassinado pela elite. Pena que os quem ainda veneram o “sacrifício” dele, esquecem dalguns pormenores interessantes, que ajudam em perceber quem realmente era Cooper.

Não vamos analisar ao pormenor o livro de Cooper, pode ser suficiente lembrar a afirmação segundo a qual no ano de 2000, os Illuminati usariam a nave espacial Galileo para detonar 22 quilogramas de plutónio em Júpiter, o que causaria uma reacção nuclear que transformaria o planeta num novo Sol. Cooper disse ainda que essa nova estrela seria chamada Lúcifer e seria apresentada como um milagre ou um sinal de que o Anticristo era um Deus e que o Messias apareceu.

Isto, obviamente, tudo de acordo com os documentos ultra-secretos que Cooper afirmava ter lido na Marinha Militar (e, olhem só, também Silent Weapons for Quiet Wars estava na posse da Marinha).

Tanto para tranquilizar o Leitor: o ano 2000 já passou e Júpiter ainda está aí, como planeta.

Queremos falar da Spear of Destiny, a lança arma que perfurou o costado de Jesus na cruz, e de outras relíquias que segundo Cooper dão aos líderes mundiais poderes sobrenaturais?

E porque não citar os dos dois submarinos, um americano e outro russo, que uma vez por ano encontram-se debaixo do Polo Norte para que Moscovo possa receber as instruções do Grupo Bilderberg? Pode parecer uma técnica um pouco estranha (e fria), mas segundo Cooper é a única para não serem espiados…

Ah, obviamente Cooper estava na posse de fotografias da base secreta que fica na Lua, no interior da cratera Copérnico. Claro, ora essa.

Chega para perceber quem fosse William “Bill” Cooper, a única pessoa que teve nas mãos o original de Silent Weapons for Quiet Wars?

Verdadeiro

Tudo inútil? Não.

Apesar de ser um documento falso (e Cooper admitiu publicamente ter forjado muitos documentos falsos ao longo dos anos, como forma de “despistar” os poderes ocultos), escrito de forma pobre e até um pouco patético, Silent Weapons for Quiet Wars não é uma leitura inútil.

Pelo contrário: pessoalmente aconselho dar uma vista de olhos no documento. Porque o conteúdo é provavelmente a única coisa decente que alguma vez surgiu da mente de Cooper: nele está descrito um conjunto de técnicas que, de facto, foram/são/serão utilizadas para o controle das massas.


Não por acaso, Silent Weapons for Quiet Wars tem muitos pontos de contacto com as 10 estratégias de manipulação mediática descritas por Noam Chomsky:

  1. A estratégia da distracção
  2. Criar problemas e depois oferecer soluções.
  3. A estratégia do gradualismo.
  4. A estratégia do atraso.
  5. Tratar o público como crianças.
  6. Utilizar o aspecto emocional mais do que a reflexão.
  7. Manter o público na ignorância e na mediocridade.
  8. Estimular o público a ser complacente com a mediocridade.
  9. Reforçar o sentido de culpa.
  10. Conhecer as pessoas melhor de quanto as pessoas conhecem a elas mesmas.

Cooper, além das “revelações” citadas, costumava apresentar como “novidades” dados que na verdade eram conhecidos há muito (ver o caso do Majestic 12, sempre no mesmo livro dele): não admira, portanto, que no meio das visões interplanetárias alucinadas tenha conseguido encontrar também uma resumida análise dos mecanismos de base realmente utilizados no âmbito do controle das massas.

Nem podemos esquecer que tais mecanismos, por sua vez, não representavam uma “estreia” absoluta: Goebbels trabalhava neles quando Cooper ainda nem estava nascido. E Goebbels, por sua vez, nada mais fez que descodificar técnicas em uso há milénios: porque a natureza humana é fraca, a mente dele é manipulável, e ao longo da História determinados princípio sempre tiveram como resultado um relacionamento causa-efeito bem conhecido e experimentado.
 
Silent Weapons for Quiet Wars, portanto, é um documento falso mas não inútil. Uma vez depurado dos elementos espúrios (Illuminati…), pode ser lido como um interessante resumo daquilo que é possível encontrar no funcionamento da nossa sociedade: em particular, mostra quais os princípios em voga após a Segunda Guerra Mundial, a partir dos quais o poder partiu para construir o que temos debaixo dos nossos olhos nos dias de hoje.


Silent Weapons for Quiet Wars é um documento falso que, até quando o Homem existir, será sempre verdadeiro.




Ipse dixit.

Fontes: Armas Silenciosas para Guerras Tranquilas, William Cooper:Behold a Pale Horse (ficheiro Pdf, inglês) 

6 Replies to “Silent Weapons for Quiet Wars: o falso verdadeiro”

  1. Olá Max: é impressionante como a imbecilidade humana sempre foi e continua sendo fonte de riqueza! Os sujeitos escrevem montes infindáveis de asneiras…e ganham dinheiro, falam uma enormidade de besteiras, fundando uma igreja, por exemplo, e ganham muito dinheiro, promovem uma guerra fraticida…e ganham muito mais dinheiro. Que seria dos poderosos se, num passe de mágica, a maioria das pessoas ficasse minimamente inteligentes? Abraços

  2. Olá Maria.

    Não sou uma pessoa pessimista, aliás, detesto profundamente o pessimismo porque traz só resignação, aceitação do presente negativo e inacção.

    Todavia, tenho que admitir: ao falar dos homens estou a mudar, e de que maneira…

    "a imbecilidade humana sempre foi e continua sendo fonte de riqueza!"

    É isso.

    A imbecilidade é a arma do poder, que enriquece com a nossa ignorância.

    A imbecilidade é a arma que o povo utiliza para continuar a ser ignorante e escravo.

    A imbecilidade é a sina de quem poderia fazer algo, porque rico ou poderoso, mas que nada faz porque convencido de que é assim que as coisas têm que funcionar.

    A imbecilidade é o motor que leva o escravo a gastar tempo e/ou dinheiro em livros cheios de disparates, teorias sem pés nem cabeças, que supostamente mostram ao escravo quanto é escravo, sem que nada possa mudar isso.

    A imbecilidade é o pecado que, aliado à auto-indulgência, faz que o poderoso crie intrigas que derretem como neve ao Sol.

    A imbecilidade é o vicio do escravo que julga estas intrigas "obras poderosas", criadas por mentes superiores, escapando-lhe com isso a simplicidade até infantil do tudo.

    A imbecilidade é o destino último do poderoso, que tenta replicar projectos que mil vezes faliram no passado e que mil vezes falirão no futuro.

    A imbecilidade é a cegueira do escravo, que ainda não entendeu nada daqueles projectos.

    A imbecilidade é o traço em comum do poderoso e do escravo. Isso é: da totalidade da nossa raça. O que parece-me um pouco preocupante.

    "Que seria dos poderosos se, num passe de mágica, a maioria das pessoas ficasse minimamente inteligentes?"

    Nada, porque logo a seguir alguém encontraria a forma de continuarmos todos alegremente imbecis. E, sendo esta a verdadeira natureza humana, ninguém, poderoso ou escravo, conseguiria resistir ao chamamento.

    Grande abraço!!!

  3. Olá Max
    Sairei um pouco do seu artigo, mas acho válido.
    Você citou Noam Chomsky. Tenho buscado entender o que esta pessoa defende, afinal. Pelo pouco que vi, ele se apresenta como crítico das políticas americanas. Mas seu ponto de vista ainda se respalda no sistema, ou seja, defende o indefensável. Define os EUA como a terra mais livre existente na atualidade, inclusive; de maneira muito semelhante ao discurso de Olavo de Carvalho. É algo análogo ao que talvez seja o propósito desse documento tratado pelo seu artigo. Chama a atenção para o verdadeiro problema, mas disfarça sobre os causadores. Seriam verdades misturadas com mentiras; o mecanismo da dissimulação.
    Enfim, é o que há de mais importante, que não encaixa nos discursos destes dois.

  4. E por falar em documentos que revelam o que já sabemos:

    http://www.cartacapital.com.br/blogs/rede-latinamerica/nixon-avisou-que-ia-dar-um-pe-na-bunda-do-chile-e

    PS: você não é imbecil. Eu não sou. Maria não é. Não se trata de natureza humana, apenas de uma quantidade impressionante de bem treinados, dos escravos aos poderosos.

    Segundo Darwin, o mais forte sobrevive. Por milênios as nossas sociedades beneficiam os imbecis. Mas não podemos perder a esperança de que algum dia uma meritocracia vingará e, finalmente, seremos recompensados.

  5. P.S. – Segundo DArwin o mais apto sobrevive… O mais forte?! I rest my cased!
    Sobre as "armas sileciosas" não tenho mais nada a dizer… Aliás, nem sei porque disse! 😉
    carry on…

  6. Estás muito melhor estás, da perna! 🙂

    In plain sightr, the sheep think its rain… 😉

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