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Porque uma lobby é injusta e quais as maiores

No artigo anterior vimos como o conceito de lobby não esteja necessariamente ligado ao de corrupção, até que um dois lugares (Estados Unidos e Bruxelas) as lobbies são reconhecidas.

Portanto, estamos nos limites da legalidade: eu formo e pago um grupo de pessoas parta que estas “informem” os políticos e pressionem (sempre legalmente) os mesmos.

A prática formativa pode consistir em seminários, conferências, encontros informais: em qualquer caso, tudo regular. 

Mas o facto de ser legal e reconhecida não significa que a ideia de lobby justa também.

E percebe-lo é simples: vamos fazer um exemplo.

Carros brancos ou castanhos?

Eu, Max, decido que na minha rua não devem transitar carros de cor castanha. Porque? Porque não gosto desta cor. Então, como tenho outras coisas para fazer, contacto uma pessoa para que esta influencie o vereador municipal do trânsito: a cor castanha é má, traz azar, assusta os pombos, e coisas assim.

O meu vizinho é rico, adora a cor castanha, e quer que todos os carros que transitem na rua sejam daquela cor (e o meu é branco!). Tendo mais recursos financeiros, contacta não uma mas 10 pessoas para influenciar o vereador, organiza também seminários com buffet livre para explicar todas as vantagens da cor castanha: relaxa, faz lembrar a madeira, etc. etc. e para a Páscoa envia-lhe também uma caixa de vinho tinto (eu sou mais pobre e envio só um postal).

O Leitor quem pensa que terá mais hipóteses de sucesso?
Claramente o meu vizinho, que tem mais instrumentos de pressão.

E é exactamente isso que se passa na realidade: uma lobby não é para todos mas só para quem tiver possibilidades para isso. Assim, quem mais recursos económicos tiver, mais pressão poderá exercer e, consequentemente, mais possibilidades de ver o seu ponto de vista aprovado terá.

Mas se assim for, como é possível que o conceito de lobby seja aprovado?

22.000 % de boas razões…

Nos Estados Unidos, por exemplo, a existência das lobbies é admitida porque o legislador incluiu o fenómeno no princípio da liberdade de expressão, um direito defendido pela Constituição. Portanto, o legislador achou que a lobby é apenas uma outra forma na qual um indivíduo pode apresentar livremente as próprias ideias.

Trata-se dum ponto de vista voluntariamente ingénuo: não é possível equiparar uma lobby financiada por uma multinacional a um grupo de cidadãos que decidem unir-se para defender uma causa.

O resultado é que o fenómeno lobbistico nos EUA abrange todos os níveis políticos, desde o Congresso até os condados. Só em Washington, os lobbistas são (oficialmente) 12.000. Um exército de pessoas que não fazem outra coisa a não ser pressionar os políticos.

Mas resulta? Afinal tantas pessoas assim devem custar imenso dinheiro, isso sem contar os eventos organizados para os políticos (os tais seminários, etc.).
A resposta é: sim, resulta. E resulta muito bem.

Uma série de estudos publicados mostraram que os gastos das lobbies podem render grandes retornos financeiros. Por exemplo, no caso das 50 empresas que mais gastam com lobbies em relação aos seus activos, a conclusão é que as despesas duma lobby era um “investimento espectacular”, mesmo apesar da crise financeira dos últimos anos. Em alguns casos foi encontrado um retorno de 22.000%. Isso é: uma empresa gasta 1.000 Dólares numa lobby e esta consegue render 220.000 Dólares.

Vale a pena, não é?

Nomes? Do costume

Última pergunta: quais são as lobbies mais poderosas do mundo?
Já vimos no artigo anterior da anomalia em Bruxelas. Mas há mais do que isso.

Eis as 10 principais lobbies dos Estados Unidos (em ordem alfabética):

Os nomes? Não é preciso reporta-los, é só lembrar quais são as maiores multinacionais do planeta.

Por exemplo:
– no caso da lobby agro-alimentar: Kraft, Unilever, Monsanto, Phillip Morris, International Paper, etc.;
– no caso da energia: ExxonMobil, Royal Dutch Shell, BP, Total S.A., Koch Industries, Chevron Corporation, ConocoPhillips, General Electric, etc.;
– no caso da farmacêutica: Roche, Johnson and Johnson, Pfizer, Glaxo, Novartis, etc.

Os nomes do costume.
Entre as lobbies étnicas (desta vez em ordem de importância):

  1. israelita
  2. cubana
  3. armena

Ipse dixit.

Relacionado: O que é uma lobby

Fontes: The Washington Post, Journal of Management, Social Science Research Network: Measuring Rates of Return for Lobbying Expenditures: An Empirical Case Study of Tax Breaks for Multinational Corporations (link para abstract e download ficheiro, inglês), Business Pundit