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O fascismo gay

O administrador delegado de Mozilla, o colosso “pai” do navegador Firefox, foi obrigado a demitir-se após uma semana da tomada de posse. Brendan Eich, este o nome, não perdeu o cargo por causa de má gestão ou ilegalidades, mas por ter uma opinião “politicamente incorrecta”: era contrário aos casamentos gays. 

Em 2008, Eich tinha doado 1.000 Dólares aos promotores dum referendum acerca da Proposition 8, a consultação que levou ao anulamento dos casamentos gays na Califórnia.

Uma doação perfeitamente legal, com a qual Eich exprimia uma sua opinião pessoal. Mas uma dupla de programadores informáticos gays começou uma batalha no site de encontros Ok Cupid, convidando ao boicote.

Eich tentou defender a sua posição das páginas do New York Times, convidando a não confundir as opiniões pessoais com aquelas do trabalho. Mas nada: o inventor da linguagem de programação Java foi obrigado a demitir-se.

E a presidente de Mozilla, Mitchell Baker, até pediu desculpa:

Sabemos que as pessoas ficaram zangadas e sentiram-se atingidas: não conseguimos permanecer fieis a nós.

Agora, algumas notas.

Eu nunca tive problemas com gays. Até tive e ainda tenho amigos gays. É um daqueles aspectos aos quais simplesmente não ligo: a vida sentimental e sexual duma pessoa diz respeito somente a ela e ao seu partner, ponto final.

Pelo menos assim pensava até hoje. Porque agora começo a ficar farto.

Aqui estamos a falar de “delito de opinião”: chegamos ao ponto no qual uma pessoa não pode exprimir uma ideia sem correr o risco de ser despedida. Isso tem um nome: fascismo. E, como nos melhores regimes fascistas, ao falar de gays não é possível ter uma opinião que seja diferente daquela ditada pelo regime: ser gay é bom, ser gay é trandy, ser gay está na onda, temos que respeitar os gays. E se pensas de forma diferente, o fascista és tu.

Eich nem disse ser contra os gays: Eich afirmou ser contrário aos casamentos gays. O que fez foi uma doação para um grupo que era o reflexo de parte da população. A maior parte da população, pelo visto, pois o referendum foi ganho pelos que eram contrários aos casamentos gays. Tudo perfeitamente legal, pois não existe (ainda) uma lei que obrigue as pessoas a aceitar todos os pedidos da comunidade gay.

Mas se é “obrigatório” o respeito em relação aos gays (algo que eu julgava ser implícito até ontem), este respeito não existe para quem pensar de forma diferente. Este é racismo ao contrário. A acusação não é de Eich ter licenciado ou desfavorecido um dependente gay; não é de ter proibido aos gays de usar Firefox; e nem é de ter falado publicamente mal dos gays: simplesmente, foi obrigado a despedir-se com base nas suas opiniões pessoais, nas suas preferências sexuais. Exactamente as queixas da comunidade gay.

É possível fazer uma doação para a NRA (a National Rifle Association), que difunde a cultura das armas, e ser eleito para o Congresso dos Estados Unidos; é possível doar dinheiro aos Cientologistas, que estupidificam as pessoas, e ninguém fica escandalizado (e até podes ganhar um Óscar); é possível ser membro da NAMBLA, a North American Man/Boy Love Association (organização pró-pedofilia) e ser honrado como um grande artista (é o caso do poeta Allen Ginsberg); mas ser contrário aos casamentos gays significa excomunhão automática.

Lamento, mas tal como já afirmado, tudo isso tem um nome: fascismo gay.
Estas atitudes jogam contra a causa gay e obrigam pessoas até agora liberais (como eu) mas contrárias a qualquer tipo de fascismo a escolher atitudes diferentes.

Ipse dixit.

Fonte: Corriere della Sera, BBC News