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A Ucrânia, a Venezuela e o mundo do lucro

Há mais ou menos três anos, o simpático blogueiro (eu!) escrevia que era este um tempo de grandes
mudanças e que, todo somado, era bom estar presentes aqui, mesmo nesta altura.

Passados três Natais, o simpático blogueiro ainda está satisfeito de poder assistir a estas mudanças: só que descreve-las começa a ser complicado.

A Ucrânia, por exemplo. O ex-presidente Yacunoic não era um santo, não há dúvidas acerca disso. Só que a cura parece bem pior do que o remédio. O País é dividido, com uma vaga “vontade” de entrar na União Europeia (aos coitados ainda não foram explicadas um par de coisas…) dum lado e fogos de resistência pró-Rússia (ver o caso da Crimeia) do outro: uma situação que ameaça precipitar a Ucrânia numa guerra civil, nesta altura facilmente diagnosticável.

Os ucranianos (e a UE) são utilizados como fantoches, a real vontade deles nada conta: nos bastidores há o choque entre os Estados Unidos do fantoche Obama e a Rússia de Putin. Este não entende baixar os braços e é simples perceber a razão: o que fariam os EUA, por exemplo, se o México ameaçasse tornar-se uma colónia chinesa?
Doutro lado do Atlântico há o caso da Venezuela.
Maduro não é Chaves, isso ficou claro, e não basta passar as noites na tomba do defunto líder para obter o apoio das massas. Mas o movimento é o mesmo, com uma oposição que explora a altura de fraqueza do regime e a vontade duma parte da população, seguindo as indicações que chegam do exterior. Neste caso a única dúvida é: faltam mesmo os géneros de primeira necessidade? Porque isso, num dos principais Países exportadores de petróleo, não seria tão facilmente compreensível nem justificável.

Em qualquer caso, este é um “pormenor” (se o leitor for Venezuelano não é tão “pormenor”), pois o que conta é que também aqui há forças superiores em jogo. E, mais uma vez, seguir o fio leva até Washington.

Tudo isso é muito complicado mas, paradoxalmente, ajuda a entender algo.

As derrotas convenientes

 
Em primeiro lugar: sim, este é um tempo de mudança e grande até.
Não sabemos como será o futuro e fazer previsões neste sentido é mais complicado agora do que há alguns anos atrás. Se dum lado quem mexer os fios já não faz questão de esconder-se, do outro os objectivos (que são claros) podem trazer desenvolvimentos não esperados.

O caso dos Estados Unidos é particularmente significativo. Um País em crise, com os indicadores de pobreza e de desemprego que teimam em não descer depois de ter alcançado níveis nunca vistos antes; com as contas públicas à beira do colapso; um País que ficou derrotado no Iraque (pois se a ideia era implementar a democracia, só de derrota é possível falar), no Afeganistão, no Líbia (em pleno caos), no Egipto (idem).

Um País deste deveria antes tentar resolver os problemas internos e só depois, eventualmente, pôr o nariz fora de casa. Mas não é isso que acontece: pelo contrário, Washington parece ter decidido acelerar as mudanças no exterior, contra o rival russo dum lado e com a tentativa de expansão na América do Sul.

Estamos perante uma desesperada prova de força para cimentar a posição de super-potência?
Não.

Porque na verdade pobreza e desemprego não interessam a uma elite que joga em Wall Street e que vê os próprios lucros crescer dia após dia. E o mesmo pode ser dito acerca da situação financeira federal: simples efeitos colaterais, até saudáveis segundo o ponto de vista.

Porque se a democracia ficou derrotada no Iraque, o mesmo não pode ser dito pelas empresas que exploram o caos no País, desde as milícias privadas dos contractors até as companhias petrolíferas. Tal como acontece na Líbia. E no Afeganistão, o cultivo do opio retomou como e mais do que antes.

No horizonte das multinacionais há agora o gás da Ucrânia (além, claro, duma aproximação às fronteiras da Rússia, um mercado de 150 milhões de consumidores). As motivações políticas já não contam: não há aqui o livre mercado contra o Comunismo, é apenas um choque entre interesses corporativos.

E, na América do Sul, há as reservas de petróleo da Venezuela, além do enfraquecimento das recentes alianças comerciais da região. Ou alguém realmente acredita que Washington esteja assustada com o “socialismo” de Maduro?

Então não é nada complicado compreender quem realmente governa o mundo, o que se esconde atrás das palavras: escreve-se “democracia”, lê-se “lucro”, pronuncia-se “liberdade”, entende-se “dinheiro”.
Tudo o resto é apenas conversa, boa para encher os artigos dos diários mas inútil para perceber quem mexe os fios das marionetas.

O problema é que esta nova governance mundial já não é mitigada por considerações de oportunismo político: aliás, a política parece ter sido completamente dobrada perante os interesses corporativos, muito mais do que acontecia no passado. Obama revela-se por aquilo que sempre foi: um fantoche que actua segundo as ordens da governance mercantilista, tal como as Mentes Pensantes de Bruxelas ou as Nações Unidas. Comparem, por exemplo, um Obama com um Ronald Reagan ou uma Margaret Tatcher: não notam diferenças?

Tudo isso acarreta riscos desconhecidos até agora: um mundo regido só e unicamente pelas leis do lucro não é um bom mundo. E se o Leitor pensar “mas sempre foi assim”, então irá ficar surpreendido com o que virá nos próximos tempos.

Ipse dixit.