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O reformado investidor

Finalmente uma boa notícia.

As poupanças de 500 milhões de cidadãos da União Europeia podem ser utilizadas para financiar investimentos de longo prazo, impulsionar a economia e ajudar a preencher o vazio deixado pelos bancos após a crise financeira.

Isto é o que se pode ler num documento da UE, como informa a agência Reuters.

Cada um poderá ajudar activamente a retoma económica. Mas mais do que isso, tudo será feito para o nosso bem (tudo é sempre feito para o nosso bem): a ideia das Mentes Pensantes de Bruxelas, de facto, encontrar uma maneira de afastar os 28 Países-membros da forte dependência dos empréstimos bancários e financiar as pequenas empresas privadas, com projectos de infra-estrutura e outros tipos de investimento.

Diz o documento:
A crise económica e financeira tem afectado a capacidade que tinha o sector financeiro na canalização de fundos para a economia real, especialmente para investimentos de longo prazo.

Pelo que, eis a altura certa para pôr as mãos nos bolsos dos cidadãos.

No segundo semestre deste ano, a Comissão procurará garantias e estudará um projecto de lei “para mobilizar uma maior quantidade de fundos de pensão para torna-los empréstimos de longo prazo”.

Ah, pois, pequeno pormenor: não será uma ajuda voluntária aquela dos cidadãos, tudo será feito com base nas leis. E mobilizará também os reformados, estes parasitas sociais.

O facto é que os bancos queixaram-se acerca dos obstáculos que devem ser superados antes de poderem emprestar o dinheiro para a economia, isso por causa das regras após a crise que obriga a manter um limite de segurança que os bancos consideram muito maior do que seria oportuno.

Alguém poderia perguntar: mas não são os mesmos limites que existiam há poucos meses, quando o Banco Central Europeu fez o seu Quantitative Easing? Na altura em que um rio de dinheiro voou para os cofres do bancos e destes, supostamente (muito supostamente), até a economia real, não houve problemas?

Mas isso agora não interessa.
Até o final deste ano, o executivo da UE concluirá um estudo sobre a possibilidade de introduzir uma conta poupança europeia, dedicado aos privados, cujo dinheiro será depois investido em empresas de pequeno porte.

Outras medidas para aumentar o financiamento da UE estão na fase de estudo, e com estas muitas pessoas serão capazes de contribuir até com quantidades relativamente pequenas de dinheiro (chama-se “fundo do barril”), que será usado para criar um grande grupo de financiamento.

Tentamos um resumo.

Os bancos desperdiçaram um oceano de dinheiro em investimentos alucinados, os fundos disponibilizados pelo BCE serviram para tapar os buracos, agora as Mentes Pensantes olham para os trocos que as pessoas conseguiram salvar ao longo dos anos e com estes querem relançar a economia.

Parece um óptimo plano, sobretudo tendo em conta que será feito para “afastar os 28 Países-membros da forte dependência” dos bancos.

Deve ser por isso que a UE empenhou-se a rever as normas acerca dos financiamentos após as queixas dos bancos. E que os bancos poderão recolher fundos para si e incluir estes como “novos fundos de liquidez”. E que os “gestores patrimoniais terão um papel que poderá propor a revisão das regras da UE sobre os direitos dos accionistas”.

Sim, é um óptimo plano.
Querido reformado, o que quer fazer com aquele dinheiro todo? Leva-lo para a cova? Faça você o que deveria fazer um Estado: invista em infraestruturas, invista nas empresas e veja o lucro privado aumentar. E paciência se depois não haverá dinheiro para os medicamentos, cedo ou tarde todos temos que morrer.

O quê? Não quer? Egoísta.
Mas pouco mal, tanto chega a lei…

Ipse dixit.

Fonte: Reuters