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Como no ’29

Bloomberg não é uma revista de gossip.

Todavia, estes são alguns dos vídeos em destaques, isso é, as entrevistas e reportagens consideradas mais importante segundo o editor de Bloomberg, o principal serviço de informação financeira do mundo:

…mais umas quantas reportagens acerca de Rolex, Party de VIP’s, etc.

Repito: Bloomberg não é Vanity Fair, não é uma revista que agrada a fantasia mostrando a vida dos bilionários, é um serviço top de informação financeira profissional nos Estados Unidos, tem a ambição de fornecer uma cobertura diária do mundo financeiro e económico, para saber e reflectir acerca do que está a acontecer no mundo, em termos de implicações para o investimento, como o Financial Times.
Hoje, no entanto , na América o domínio dos bilionários é tão completo, total e flagrante (como Warren Buffett disse há vários anos: “Há uma guerra de classes em curso e os ricos estão a ganhar”) que já não resta mais senão falar sobre a vida, as personalidades, os eventos daquele 0.1% da população (aliás, seria o 0.001% se considerarmos os verdadeiros bilionários).

Hoje Bloomberg é apenas um exemplo do que aconteceu nos Estados Unidos e não só, a vitória total do Big Money, do Real Money, dos de “um bilião de Dólares para cima”, da nova classe dos Masters of the Universe, dos bilionários globais, internacional, que vivem entre Davos, Londres, New York, Los Angeles, San Francisco, Dubai, Singapura (com vivendas espalhadas nas Caraíbas, no Pacífico, na Suíça, na Sardenha…)

Este triunfo de riqueza global explica a euforia dos mercados nos últimos dois anos, porque as estatísticas mostram que a riqueza financeira total (o valor de títulos, ações, imóveis, arte, joias…) subiu, só nos Estados Unidos, de cerca de 40 triliões de Dólares. Donde chega este dinheiro todo? Para responder, podemos espreitar os Quantitative Easing da Federal Reserve, 9.000 biliões de Dólares que não resolveram os problemas do desemprego nem da economia, mas empurraram para cima os assett financeiros. E os Quantitative Easing não apareceram apenas nos Estados Unidos.

Como na década dos anos ’20, a última vez que viu-se uma concentração tão extrema de riqueza em tão poucas mãos e uma tal euforia especulativa, chega-se a um ponto onde os bilionários e os seus conselheiros, advogados, consultores, banqueiros, massagistas, chefes cozinheiros, jardineiros, pilotos de aviões particulares e outros vários servidores não são suficientes para apoiar a economia real. Porque a maioria dos bilionários usa os seus biliões para investir em títulos, em ações, em imóveis, na arte, em fundos especulativos…mas tudo isso não cria riqueza para a maioria da população, não atinge a tal economia real. Somente uma pequena fração destes investimentos implica directamente a produção de bens e serviços.

Uma das provas (entre as muitas) é que as empresas do S&P 500 (o topo: as 500 empresas dos EUA com maior capitalização) têm agora níveis recorde de dinheiro, e, ao mesmo tempo, níveis recorde de endividamento: ficam endividadas a baixo custo (cortesia da Federal Reserve) para depois comprar de volta as suas próprias ações com um ritmo de 700 biliões por ano (que, diga-se, é o exacto contrário da razão pela qual foi criada a Bolsa de Valores).

Esta concentração de riqueza, com base na expansão continua da dívida, atinge todavia um limite, tal como em 1929: porque o dinheiro não pode produzir dinheiro ao infinito, não podes ter ganhos financeiro de 10% por ano enquanto o rendimento renda real dos 90% da população está parado ou até em declínio.

O jogo do enriquecimento (e, em grande parte, da manipulação e da influência) só funciona se forem abertos novos mercados, com novas massas de trabalhadores e consumidores, com novos sectores imobiliários prontos para ser inflados.

Mas o sistema começa a ranger também na China, na Turquia, na África do Sul, na Indonésia, na Tailândia, no Brasil: são estas as “novas” economias e são estas que têm os piores dados, cujos mercados financeiros já estão a perder quotas há meses.

E multiplicam-se os relatórios sobre as bolhas imobiliárias em Países como China, Austrália, Canadá, Suécia, Noruega, Holanda, Grã-Bretanha, África do Sul, Dubai, Singapura, Hong Kong…

Ipse dixit.

Fontes: Cobraf, Bloomberg (alguns links: 1, 2, 3)