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ONU: a essência da inutilidade

A ONU. O que seria de nós sem as Nações Unidas?

A história desta organização começa em 1919 com o nome de Sociedade das Nações.
Não teve muito sucesso: alguns Países entraram, depois saíram, outros entraram só depois e saíram na mesma, outros ainda nem quiseram saber nada disso.

Pelo que, em 1946, eis uma mão de verniz: novo nome (desta vez ONU) e, sobretudo, o apadrinhamento das cinco Nações que ganharam a Segunda Guerra Mundial (Estados Unidos, União Soviética, Reino Unido, China e França).

Hoje são 193 os Países que fazem parte da organização: a quase totalidade dos Estados independentes.
Apesar disso, apenas um País decide o que a ONU deve pensar, dizer, aprovar, rejeitar.

A confirmação, se alguma vez fosse necessária, de que a ONU é um fantasma para uso e consumo dos Estados Unidos chega da conferência de paz realizada em Montreux sobre a Síria, com o participação de cerca de quarenta Países. Um dia antes da inauguração, o Secretário-Geral Ban Ki-moon pediu ao Irão para participar. Coisa que causou a “forte irritação” dos americanos: e isso foi o suficiente, pois na mesma noite Ban Ki-moon decidiu retirar o convite.

Assim, nesta conferência participam a Austrália ou o México, Países que ficam do outro lado do mundo, mas não o Irão, que com a Síria faz fronteira. É verdade que o Irão apoia Assad, mas o mesmo acontece com Rússia e China que, todavia, podem participar.

Outro paradoxo é que o “não” americano chegou no mesmo dia em que foi oficializada a interrupção do enriquecimento do urânio iraniano, isso enquanto abrandam os reactor de Natanz, Fordow, Arak, como confirmado pela AIEA, a Agência Internacional de Energia Atómica.

Mas tudo isso não importa, o Irão permanecem no “Eixo do Mal”.
E se o Irão for o Mal, quem é o Bem? Os norte-americanos, obviamente.

A ONU, para eles, representa um óptimo recurso: se for necessário, é uma instituição respeitada e competente; se Washington não precisar, volta a ser o que realmente é: um fantasma.

Com o apoio da ONU foi justificada a ocupação do Afeganistão: 12 anos de guerra, a criação de
governos fantoches, eleições farsas (nas próxima concorrerá o irmão de Karzai, o actual presidente do País; e o irmão dele é um conhecido traficante de droga) e, claro, os assassinatos de dezenas de milhares de civis (os norte-americanos também foram capazes de ver combatentes talibãns em doze crianças que estavam a recolher lenha num bosque).

Mas deve dizer algo o facto dos guerrilheiros serem capazes de resistir doze anos perante o mais poderoso exército do mundo, cujos comandantes, bem como o governo-fantoche, são obrigados a permanecer barricados na protegida “zona verde” da capital.

Por outro lado, os media do Bem e dos seus aliados fazem circular um fluxo contínuo de informações falsas.
Como aquela segundo a qual os talibãns têm o apoio dos serviços secretos do Paquistão.

Se fosse verdade, teriam pelo menos alguns mísseis Stinger para combater a aviação que os coloca num estado de inferioridade quase insuperável. O resistência do Afeganistão tinha Stinger, mas quando o ocupante era a Rússia. E quem fornecia os Stinger na altura? Não, não era o Paquistão…

Os media ocidentais fazem circular películas como Lone Survivor (“O Sobrevivente” em português), um bom filme, feito bem, com bons actores (Ben Foster tem futuro, acho eu), mas que transmite mais uma vez a mensagem do costume: nós, os Bons (e heróicos), estamos aqui para libertar o País desta banda de criminais assassinos sem coração, cujo único prazer é matar tudo e todos.

Os media fazem circular a falsa notícia da retirada dos ocupantes até o final de 2014. É chamada de “retirada”, apesar de 80 mil soldados norte-americanos permanecerem no Afeganistão, apesar das bases da aviação militar dos EUA continuarem activas.

Onde está a ONU em tudo isso?

Em 2001, com a guerra já desencadeada, a ONU apresenta o “suporte aos esforços internacionais para erradicar o terrorismo”. A partir daí, começa a lamentar: envia observadores e descobre que a guerra provoca mortos e feridos e que dura muito; descobre que o Afeganistão voltou a ser o primeiro produtor mundial de ópio; repara que as condições dos habitantes parecem ter piorado um pouco, um esquisito (e talvez imprevisível) efeito secundário da guerra.   

Doutro lado, o que poderia fazer o simpático quanto inútil Ban Ki-moon?
A ONU tinha dito “não” à invasão do Iraque, mas o Bem tinha decidido que era hora de eliminar Saddam Hussein e as terríveis armas de destruição maciça dele. Resultado: 750 000 mortos (valor subestimado) e uma feroz guerra civil que ainda hoje causa centenas de mortes por semana.

Pouco mal: o Bem entretanto foi-se.
E a ONU agora tem outras prioridades.

Nota: O Sobrevivente (Lone Survivors o título original) não deve ser confundido com O Sobrevivente (título original: Rescue Dawn) de 2007.

Ipse dixit.

Fontes:Imdb, Massimo Fini