A Opus Dei e a Finança ética

O Leitor foi à Missa?
Muito bem, é Domingo.

Então eis uma notícia para complementar o dia espiritual.

A Pontifícia Universidade da Santa Cruz, que depende da Opus Dei (sempre seja louvada), decidiu que os seus alunos, futuros sacerdotes, devem aprender economia e finanças para entender melhor o significado do seu apostolado e a direcção a ser tomada no social.

Até aqui é compreensível, vivemos numa sociedade dominada pelas escolhas económico-financeiras, a realidade é esta: não se vive de só espírito, tentem pagar o almoço apenas com uma oração.

Já não é suficiente que alunos da Opera fundada por Escrivá de Balaguer (sempre seja louvado) conheçam a teologia, a filosofia, o direito canónico e os princípios da comunicação. Por isso, eis a ideia de criar um curso chamado “Economia para Eclesiásticos” graças ao qual, esta é a intenção, os futuros sacerdotes poderão aproximar-se do mundo real.

O professor que educará os futuros padres acerca das maravilhas do produtos derivativos e commodities será o Barão Brian Griffiths de Fforestfach. Se já o apelido parece difícil de pronunciar, eis o lema oficial do Barão: Ofn Yr Arglwydd y Dyw Doethineb, algo que segundo Google Translator pode ser traduzido na linguagem humana como “A Sabedoria do Senhor Causa Temor”. Só não percebi se o Senhor em questão for o mesmo Barão ou o outro. Mas vamos em frente.

O curso sabiamente gerido pelo Barão tem o título de “Os desafios culturais e éticos para a finança contemporânea”. E material de conversa não irá faltar, disso temos a certeza.

Há apenas um pormenor que deixa um pouco perplexos. Nada de grave, ora essa: mas o Barão é o vice-presidente executivo da Goldman Sachs International. Isso é, o símbolo da especulação mais repugnante, que estrangula os pequenos investidores, que joga com as commodities e deixa inteiros Países à beira da fome, que hipoteca o futuro nosso e aquele das futuras gerações. Esta simpática empresa, na figura de seu vice-presidente, será quem ensina aos padres os fundamentos da economia e da finança.

Seria um pouco como entregar um curso de boas maneiras nas mãos do Jack o Estripador.

Brian Griffiths e o seu improvável apelido é um banqueiro que tem responsabilidades em ter contribuído a agravar a situação de Países como Grécia, Portugal, Espanha, Italia, multiplicando uma dívida pública improdutiva. Ele chefia um dos bancos que mais exploraram as fraquezas do sistema monetário internacional para aumentar os lucros da elite. E agora explicará o que é ética da finança aos futuros sacerdotes.

O simpático Barão Griffith

Naturalmente, Griffiths é um membro da Câmara dos Lordes (portanto, pertence à nomenklatura inglesa) e foi conselheiro para a privatização de Margaret Thatcher (sempre seja louvada) no mercado doméstico.

Pertence ao grupo de tecnocratas que apoiam a criação de um grande mercado global, sem as limitações das fronteiras, dos direitos aduaneiros: um mercado global, que envolve a remoção dos estados nacionais e a submissão deles a um conjunto de estruturas supranacionais, de facto nas mãos da Alta Finança.

Pergunta: mas em teoria o mundo católico não deveria ver estas figuras com hostilidade?
Sim, sem dúvida. Em teoria.

Mas depois há a realidade, feita de Antonio Fazio, o ex-governador do Banco da Itália e membro da Opus Deis. Ou de Emilio Boletim, o espanhol presidente do Banco de Santander, também ele Opus Dei. Mas poderiam ser citados o ex-Primeiro Ministro de Espanha também, Aznar, as simpatias de Ronald Reagan, o ex-Director da FBI Louis Joseph Freeh, a Rainha Fabiola da Bélgica, a esposa do ex-presidente francês Chirac…na verdade, as ligações entre Opus Dei e um certo tipo de poder, não apenas económicos, forma sempre bastante fortes.

Isso para dizer que não existe uma finança “secular” e uma finança “católica”: há apenas uma Finança, com a qual todos realizam negócios e lucros. O enorme património da Igreja Católica demonstra isso e justifica a figura do Barão Griffith como docente: se é para aprender, então melhor fazê-lo com os melhores, aqueles capazes de passar acima de tudo e todos para realizar o lucro.

E seria errado pensar nisso como uma fraqueza da Santa Romana Igreja. O simpático Barão Grigffith presidiu no passado a Fundação Lambeth, controlada pelo Arcebispo de Canterbury.

Porque sejam Católicos, sejam Protestantes, todos concordam com a frase de Escrivá de Balaguer, o fundador da Opus Dei:

O dinheiro não presta. Se for pouco.

Ipse dixit.

Fontes:La Voce del Ribelle, Il Corriere della Sera

6 Replies to “A Opus Dei e a Finança ética”

  1. porque sejam democratas ou republicanos…ou PT ou PSDB…nada importa oque importa é que o status quo seja mantido não é…opus dei ou santíssimo vaticano também…não há religiões não há partidos, apenas a conformidade das elites…quem irá discordar? Você???
    Sorry my friend You know about it…

  2. Porque a perplexidade Max? Nada mais adequadamente acertado do que os sacerdotes aprenderem a ética das finanças que vão utilizar pelo resto de suas vidas santas. Abraços

  3. Enfim a surpresa é ver o goldman saca em todo o lado, afinal o que trazem de realmente util para a sociedade? Gostava que alguem me diga algo de util e positivo vindo deles? Ensinar? So ensina o que convém, no fim rouba os parecos da opus também e falando em status quo vão roubar os ricos até não existir nada que possa ser rou… tirado. Amen
    Nuno-f.

  4. Surpresa é ver permanente destaque contra o ladrão das galinhas e esquecer de mencionar quem abriu e convidou o G&S a entrar foram eleitos até por nós. Admira-me que sintam desculpados por denunciar o que levou as galinhas mas quem nomeou o responsavel do galinheiro fomos nós.E olhando para as previsoes quem endividou o país vai ganhar as proximas legislativas, deus nos livre dos holandinhos!!

  5. Mas o ladrão de galinhas é especial pois desafia as leis da física, estä em muitos lugares ao mesmo tempo, aliás o próprio Monti, foi eleito por quem? UE lol. 100% desculpado aqui nunca votei em quem abriu a capoeira nem nos que se seguiram caro A.C.
    Nuno-f

  6. O poder político não passa de uma ferramenta do verdadeiro poder dominante, privado e classista, equacionado, invariavelmente, entre o clero, a burguesia e a nobreza secular.

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