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BRICS: algo não funciona?

Os BRICS representam até hoje a mais válida alternativa ao imperialismo dos Estados Unidos e dos relativos aliados.

Todavia há alguns problemas: o crescimento do Brasil abranda, a China tem de encontrar novos mercados e resolver os crescentes problemas internos, a Índia atravessa uma fase complicada que bem pode piorar nos próximos tempos.

Estes são apenas alguns exemplos.

É falida a ideia dos BRICS? Nada disso. Mas não seria mal parar para pensar.

Os problemas económicos da Índia reflectem a falência global: o subcontinente indiano será a próxima vítima entre as economias emergentes. Nos últimos 10 dias, a Rupia (a moeda de Nova Delhi) caiu até atingir o nível mais baixo de sempre e a economia indiana pode estar à beira duma grave crise. Na verdade, a economia indiana está em apuros já há alguns tempos e só o optimismo pró-BRICS conseguiu não ver os sinais. Até agora.

Mesmo que haja uma ligeira recuperação no mercado, os investidores vão continuar a trabalhar num liam de insegurança: todas as medida tomadas até agora (subir das taxas de importação de ouro, controles de capitais, liberalização do investimento estrangeiro, etc .) tiveram o efeito oposto ao desejado. Tudo o que o governo faz parece ser muito pouco, muito tarde ou até contraproducente.

São os sintomas duma crise de pânico no mercado financeiro. Isso não quer dizer que o colapso seja
inevitável, mas é claro que é possível. A verdadeira surpresa em tudo isso é que os investidores e os políticos indianos estão surpreendidos. Por alguma razão, parece que ninguém tinha pensado que as coisas poderiam virar para esta direção, embora a história de todas as crises financeiras do passado, e até das mais recentes, teria que ter ensinado algo, pelo menos ao longo dos últimos dois anos .

O problema? “Crédito” significa “dívida”.

O valor da Rupia face ao Dólar ao longo deste ano

O crescimento da produção tem estado em declínio durante vários anos, o investimento privado encontra-se em queda há 10 trimestres consecutivos; a produção industrial diminuiu em relação ao ano passado, mas a taxa de inflação dos preços ao consumo ainda é de dois dígitos e mostra todos os sintomas da estagflação (aumento dos preços enquanto baixam os rendimentos).

O comércio com o exterior é o elo mais fraco: as exportações claudicam, mas as importações crescem, de modo que o deficit comercial voa (tal como o deficit orçamental). Resultado: desde Junho do ano passado, 12 biliões de Dólares foram retirados do País pelos investidores.

Custos do governo indiano para obter empréstimos ao longo deste ano

Esta situação é o resultado de desequilíbrios internos e externos que se acumularam durante anos. A economia indiana em expansão foi construída baseando-se no consumo ao crédito (uma armadilha agora tristemente conhecida no Ocidente) e no investimento principalmente feitos partir de fluxos de capital de curto prazo. Isso resultou num boom das actividades em sectores como a construção civil e o imobiliário (olha olha, como na China…) em vez de que no comércio (que na China, pelo contrário, permanece como o ponto central) e criou uma sensação de euforia financeira que levou a uma enorme super-expansão do crédito para empresas e famílias.

Infelizmente, este crescimento também foi “perdido” no sentido de que não conduziu a melhorias significativas na vida da maioria da população, com investimentos em infra-estruturas básica, alimentação, saúde, higiene ou educação. Estes aspectos não foram adequadamente desenvolvidos.

Há uma história, citada há meio século pelo histórico da economia Charles Kindleberger, que reza mais ou menos assim:

Um País é “descoberto” pelos investidores internacionais e começam a chegar grandes capitais. Estes recursos ajudam a criar um boom em todo o País , mas também a crescer a taxa real de câmbio. Este aumento do câmbio reduz os incentivos para os exportadores e para aqueles que produzem produtos que substituem os exportados. Assim, os investidores olham para os sectores não comercias​​, como a construção e o imobiliário: assim aumenta o valor dos patrimónios, dos bens imobiliários e das ações. A contrapartida é um crescente deficit em conta corrente, ao qual não será prestada atenção enquanto o dinheiro continuar a girar e a economia a crescer.
Depois, todas as bolhas explodem.

É suficiente pouco: uma mudança nas condições globais, uma forte desaceleração no crescimento nacional, a instabilidade política ou até os problemas económicos dum País vizinho.
Mas as bolhas explodem, está na natureza delas.

Na Índia, dizem que foi Ben Bernanke, o chefe da Federal Reserve dos Estados Unidos, a introduzir uma boom eram consideradas virtudes, então começa-se a falar de “capitalismo ineficiente” e os ratos abandonam os navios.
mudança negativa, mas poderia facilmente ter sido algum outro factor: quando os mercados “cheiram” algo perigoso, quando recusam aquelas características que durante o

Este, que pode bem ser o futuro próximo da Índia, não é uma novidade. De todo.

É essencialmente o mesmo processo que já passou por várias partes do mundo:

  • América Latina na década dos anos ’80
  • México em 1994-95
  • Sudeste da Ásia em 1997-1998
  • Rússia em 1999-2000
  • Argentina em 2001-02
  • Estados Unidos em 2008
  • Irlanda, Grécia e Portugal mais recentemente.

O problema dos BRICS? Talvez seja este: estar demasiado próximos do modelo ocidental.
As alternativas existem: mesmo por aí, na América do Sul.

Ipse dixit.

Relacionado: Est…Est…Estagflação!!! Santinho.

Fontes: The Guardian, The Washington Post
Gráficos: The Washington Post