Portugal: tranquilos, é com “eles”

Nos últimos tempos, o blog dedicou cada vez menos espaço aos acontecimentos de Portugal, pela simples razão que acho já não haver esperança.

Hoje todavia, é necessário abrir uma excepção.

Ontem o Ministro das Finanças, Vítor Gaspar, número dois do Governo, demitiu-se, reconhecendo o falhanço das suas escolhas.
Hoje o número três do Governo, Ministro dos Negócios Estrangeiros e líder do partido da coligação, Paulo Portas, demitiu-se.

Há poucos, o Primeiro Ministro falou ao País: não foram as esperadas demissões mas as palavras duma pessoa demasiado envolvida nos jogos de poder.

Algumas considerações:

  • O Governo acabou e não há maneira de voltar atrás. É possível teoricamente continuar com um Governo de minoria, mas seria um calvário que o País não tem condições de suportar. Demitir-se e voltar às eleições é nesta altura uma atitude democrática e de respeito para as dificuldade nacionais. Manter-se ostentosamente no cargo apesar da realidade é sinal de mero interesse pessoal.
  • O legado deste Governo é o pior do que seria possível imaginar: aumentou o desemprego, a dívida pública, o deficit, reduziu-se aos mínimos termos a economia. Não há surpresa nisso, tendo sido amplamente previsto nestas páginas também: não é possível tratar uma condição de aperto económico (fictício) com um aperto ainda maior (austeridade real).
  • Os juros da dívida hoje dispararam e isso apesar da tão pulicitada “reencontrada confiança dos mercados”. A anterior baixa dos juros foi devida a um conjunto de condições, entre as quais a presença em Portugal do dinheiro da Troika (FMI+BCE+UE) e uma estabilidade institucional de fachada. Faltou o essencial, uma séria reforma estrutural, nem sequer realmente projectada: perante isso, bastou a queda da estabilidade de fachada para os mercados perder a dita confiança.
  • Uma das figuras mais triste neste história toda é aquela do Presidente da República: em dois anos conseguiu destruir completamente o papel de “árbitro” super partes, função que nesta altura e no próximos meses seria extremamente necessária. Escondendo-se atrás das normas, Cavaco Silva decidiu apoiar de forma inequivoca o Governo em detrimento de todos os outros partidos. Não é possível avaliar o falhanço total deste Governo sem incluir nele as atitudes mesquinhas, cobardes e calculistas do Presidente da República.
  • Interessante realçar como o Governo caiu não por uma iniciativa popular mas por causas endógenas. Os Portugueses continuam a aceitar tudo e mais alguma coisa, sem aparente reacção que possa ir além de estéreis greves e das limitadas e politizadas manifestações nas ruas. O País é destruído mas o próprio quintal fala mais forte.
  • Só como curiosidade: este é o terceiro governo consecutivo do Centro-Direita (PSD ou PSD-CDS) que não consegue chegar ao fim natural: em 2004 Durão Barroso fugiu após ter arranjado um “tacho” na União Europeia, em 2005 o governo Santana Lopes foi demitido por desespero, em 2013 o governo Passos Coelhos implode. Isto deveria sugerir alguma coisa.
  • Se tudo isso não for suficiente, o líder da oposição é José Seguro. Isso é: ninguém. Como afirmado em abertura, acho já não haver esperança.

Uma eventual demissão do Primeiro Ministro teria viabilizado umas eleições legislativas em contemporânea com as autárquicas, poupando assim alguns milhões de Euros (existem os tempos previstos pela lei: 55 dias). Sem demissão, Portugal fica com um executivo moribundo e graves dúvidas acerca da instabilidade ao longo dos próximos tempos.

Mas, queridos Portugueses, não se preocupem e continuem a pensar que é “com eles”, não é convosco. Cuidem do vosso quintal e não esqueçam o Big Brother Vip.

Ipse dixit.

6 Replies to “Portugal: tranquilos, é com “eles””

  1. -> A recente chamada de António José Seguro e do próprio Paulo Portas à reunião anual do Grupo Bilderberg já deixavam antever este cenário…
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    -> Um caos organizado por alguns – a superclasse (alta finança – capital global) pretende 'cozinhar' as condições que são do seu interesse:
    – privatização de bens estratégicos: combustíveis… electricidade… água…
    – caos financeiro…
    – implosão de identidades autóctones…
    – forças militares e militarizadas mercenárias…
    resumindo: estão a ser criadas as condições para uma Nova Ordem a seguir ao caos – uma Ordem Mercenária: um Neofeudalismo.
    {uma nota: anda por aí muito político/(marioneta) cujo trabalhinho é 'cozinhar' as condições que são do interesse da superclasse: emissão de dívida e mais dívida, implosão da identidade autóctone, etc…}
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    Anexo
    Para 'cortar' com as regras da superclasse (alta finança – capital global), há que:
    1-> retirar poderes aos políticos (um sistema menos permeável a lobbys); ex: auto-estradas 'olha lá vem um', nacionalização de negócios "madoffianos" (ex: BPN), etc… ora, como é óbvio, o Contribuinte tem de defender-se: "O Direito ao Veto de quem paga" [blog 'fim-da-cidadania-infantil'].
    .
    2-> chamar a participar (nota: quando existe um buraco financeiro num banco…) os accionistas, os obrigacionistas e os depositantes… e não… o contribuinte.
    Contrariando os interesses da superclasse, deve existir uma Banca pública forte… por motivos óbvios: É MUITO MAIS FÁCIL DE CONTROLAR um ou outro abuso de um gestor público… do que… os buracos (sem fim à vista) 'cavados' pela alta-finança (capital global).
    .
    3-> garantir o Direito à Sobrevivência das Identidades Autóctones… ou seja: há que mobilizar aqueles nativos que possuem disponibilidade emocional para abraçar um projecto de Luta pela Sobrevivência [nota 1: os 'parvinhos-à-Sérvia' (vide Kosovo) que fiquem na sua…; nota 2: os 'globalization-lovers' que fiquem na sua… desde que respeitem os Direitos dos outros… e vice-versa]… ver blog "SEPARATISMO-50-50!".

  2. A unica pergunta que eu faria ao Dr Paulo Portas e ao Dr José Seguro era se os seus recentes convites, para a participação na Reunião anual do Grp Bilderberg, tinham alguma coisa a ver com os recentes acontecimentos em Portugal.
    O Dr Paulo portas ao fazer cair o Governo e ao Seguro para ser ele o próximo governante são exactamente as peças chaves para o que está a acontecer.
    …e o que eles t~em a dizer acerca do seu convite?

  3. Max. E aí? Vai nos explicar? Se realmente Evo Morales foi forçado a pousar… quem tem autoridade de fazer tantos países colaborarem ao mesmo tempo? Como funciona isso?

    Precisamos aprender essa eficiência de diplomacia internacional para melhorar as relações comerciais!!! 🙂

  4. "Quem é esse? Vocês deviam votar nele para presidente! :)"

    O José Gomes Ferreira é jornalista. Trabalha no canal de televisão do vídeo.

    Deixo o link de um dos programas dele relacionado com este tipo de questão…

    Abraço

  5. Eu como já vejo isto a ir para um 2º bailout já nem digo nada. Mas aqui a maior responsabilidade é sem dúvida do Coelho a nomear quem nomeou (sabendo-se o que se passou com os swaps). O portas é lógico que não esperava isto após o senhor "não acerto uma" se tenha demitido. Talvez o Macedo…mas assisti em diferido a um primeiro-ministro em coligação a nomear a Sra. Swap ao lado de um Cavaco "não se passa nada" meia hora depois do Portas ter dado com a porta….paisinho governado por doidos. Agora a minha dúvida também mencionada e bem pelo participante Ricardo é saber como se passou o que se passou com o Morales, se uma embaixada é terreno internacionalmente tido como território de quem ocupa, muito mais é o avião presidêncial de qualquer chefe de estado do mundo, já agora se fizessem isso ao air force one como seria? O snowden nem nas asas cabia lol. Bananeiros são os governos europeus afinal…
    Nuno

Obrigado por participar na discussão!

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