Bom, isso agora não interessa: na verdade vamos falar do “analfabetismo funcional”. Que não é o analfabetismo “normal”.
O analfabetismo clássico é a incapacidade de ler e escrever.
Já este é um problema, pois existem Países onde poder interpretar as letras não é coisa tão comum. Se em Portugal 94.9% e no Brasil 90.0% das pessoas sabem ler, em outras comunidades de língua portuguesa a situação é bem pior: 83.8% em Cabo Verde, 67.4% na Angola, apenas 44.4% no Moçambique.
Mas estes são os problemas dos Países em desenvolvimento: o analfabetismo funcional é algo que atinge os Países industrializados e trata da incapacidade de entender quanto lido.
Esquisito? Aparentemente é: se uma pessoa sabe ler, é suposto entender quanto lido. Mas assim não é. Mesmo tendo a capacidade de descodificar as letras, falta a habilidade de interpreta-las ou de fazer operações matemáticas.
Sim, será esquisito: mas é um problema grave e muito difundido.
Um conhecido linguista italiano, o professor Tullio de Mauro, afirma:
Apenas 20 por cento da população adulta italiana
tem o mínimo de ferramentas necessárias para a leitura, a escrita e
a matemática, necessárias para orientar-se na sociedade contemporânea.
Uma taxa de alfabetização de 98.9% e uma de alfabetização funcional de 33% segundo os últimos dados. Significa que mais de 3 pessoas em cada dez observam um gráfico, o aviso duma instituição, um comunicado e não conseguem interpreta-lo.
No Brasil, segundo dados de 2005 do IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), o analfabetismo funcional atinge cerca de 68% da população. Somados esses 68% de analfabetos funcionais com os 7% da população que é totalmente analfabeta, resulta que 75% da população não possui o domínio pleno da leitura, da escrita e das operações matemáticas. Dito de outra forma, apenas 1 em cada 4 brasileiros (25% da população) é plenamente alfabetizado.
Pior: esta taxa encontra-se em aumento em todos os Países “desenvolvidos”, pois o fenómeno é subtil: um analfabeta funcional não sabe de ser tal, pode ler e escrever, portanto acha-se “instruído”.
As idades? O analfabetismo funcional atinge com mais frequência as pessoas entre os 26 e 35 anos, mas o fenómeno afecta um pouco todas as faixas etárias. Acaba-se a escola, as competências tendem a diminuir,
especialmente quando não começam novos processos de aprendizagem
relacionados com o trabalho. O analfabetismo
funcional instala-se e é mantido ao longo do tempo: aliás. reforça-se com o passar dos anos.
Culpados? Um recente estudo do OCSE parece individuar na tecnologia a grande responsável: não somos capazes de ler um mapa rodoviário ou de fazer um cálculo?
Simplesmente não temos paciência para isso? O navegador e a calculadora estão aqui para ajudar, e estes são exemplos
simples.
Mas com certeza há mais do que isso. Sentar-se na frente duma televisão e deixar que os nossos neurónios sejam massacrados também não ajuda: após horas passadas a absorver infantilidades ou autêntico lixo, o cérebro levanta bandeira branca e retira-se para tentar recuperar, deixando o espectador sozinho e mais vulnerável perante a última novela, o novo Big Brother ou o subtil noticiário.
Há 60 anos atrás, os que não sabiam ler e escrever não podiam votar e não eram considerados indivíduos verdadeiramente “livres”. Hoje, os analfabetos funcionais ainda podem votar ou
participar em concursos públicos mas é lícito duvidar da liberdade deles, da capacidade de entender o que se passa.
Quais medidas serão adoptadas para travar o fenómeno?
Nenhuma. Porque uma pessoa que não percebe é uma pessoa que pode ser manipulada com facilidade. Seja ela analfabeto ou analfabeta.
Ipse dixit.
Sugestão: Idiocracy (filme completo dobrado em Português do Brasil, do ano 2006)
Fontes: Wikipédia – Lista de países por índice de alfabetização