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O petróleo acaba? Nem pensar

Então: a era o petróleo está prestes à acabar? A realidade será feita de automóveis eléctricos? Acabam os navios petroleiros que naufragam e poluem o mar?

Nada disso. O petróleo veio para ficar. E vai ficar ainda ao logo dum tempinho.
Bastante tempinho.

No máximo será possível ver um crescimento na utilização do gás. Mas o petróleo ficará ainda como fonte energética primária. Com boa paz dos ambientalistas.

Culpa de quem? Da América.
A verdadeira novidade deste começo de século XXI é a revolução energética norte-americana, ou seja, a revolução energética do shale gas (gás de xisto) e do tight oil (petróleo do xisto betuminoso); revolução que já é visível no mercado dos hidrocarbonetos, apesar dos preços muitas vezes não competitivos.

Hoje, o gás de xisto já representa cerca de 25% da oferta de gás natural nos Estados Unidos e de acordo com as previsões pode chegar até 50% em 2030 (ou ainda antes). Milhares de novos poços de gás têm sido escavados na Pensilvânia, Texas e Oklahoma. Outros seguirão em breve.

Petróleo, gás, hidratos…

Mas não apenas gás: também petróleo. Tem havido uma explosão na produção de ouro negro no North Dakota. A Bakken/Three Forks, uma formação de xisto betuminoso que estende-se entre North Dakota e Montana tem um potencial de produção equivalente aos dum grande País do Golfo Pérsico. Só que este fica dentro dos Estados Unidos.

E este é apenas o começo. O futuro será uma cada vez maior de-convencionalisação da oferta de tight oil nos EUA, petróleo de areias betuminosas no Canadá, extra-heavy oil na Venezuela, pré-sal no Brasil.

petróleo internacional, especialmente por aquele oriundo do continente americano. Nas próximas décadas, veremos um aumento exponencial na quantidade deste “petróleo não convencional”:
Mas sempre petróleo será.

As novidades não chegam só do continente americano e do petróleo: no passado dia 12 de Março, o Ministério da Economia do Japão tornou público a primeira extracção submarina de gás (no Mar de Honshu) a partir de cristais congelados de hidrato de metano. As reservas potenciais daquele que é usualmente chamado “gelo que queima” são imensas: as estimativas variam entre 16 e 27 triliões de metros cúbicos. Uma enormidade.

Mas há mais: há também um boom de petróleo convencional, pois a produção das explorações clássicas cresce em todo o mundo com um ritmo inesperado.

Todavia, o factor mais marcante neste quadro geral é sem dúvida a explosão na produção de petróleo dos Estados Unidos. Não apenas o petróleo não está a acabar, como o Hemisfério Ocidental está a tornar-se o novo Paraíso petrolífero e gasifero do século XXI. Em particular, os EUA podem atingir em 2020 uma produção de 11,6 milhões de barris por dia entre petróleo e gás, tornando-se o segundo maior produtor de petróleo do mundo depois da Arábia Saudita. Além disso, segundo a AIE (Agência Internacional de Energia), na mesma data os EUA tornar-se-à um exportador de gás natural, alcançando em 2035 a marca da independência energética. Isso terá implicações geopolíticas importantes, por exemplo nos Países do Oriente Médio e da Federação Russa que correm o sério perigo de perder a posição preeminente como produtores e, em particular, como exportadores de hidrocarbonetos.

Na verdade, isso já está a acontecer em relação a Moscovo: no ano passado, a Gazprom (que detém o monopólio do gás russo) assistiu a uma imponente redução dos lucros (-15%, cerca de 6,5 biliões de Dólares) e a uma diminuição das exportações para os Países da União Europeia (- 9%).

Porquê?

Na base desta “revolução energética” há a tecno-ciência, assim chamada Technological Revolution: o advento de mais eficazes, sofisticadas e acima de tudo mais baratas aplicações tecnológicas para a investigação geológica, desenvolvimento e extracção dos depósitos convencionais e não convencionais.

Em particular, a utilização combinada de duas tecnologias, horizontal drilling e hydrofracking (perfuração horizontal e o já conhecido fracking, ver notas a seguir ao artigo), especialmente concebidas para a exploração de poços não-convencionais, está agora a difundir-se com o efeito de baixar os preços e aumentar a rentabilidade dos poços já considerados exaustos ou quase. Com estas tecnologias, a vida útil dos campos é prolongada.

Resumindo: a era do petróleo pode estar ainda bem longe do fim, apesar dos clichés. E petróleo não significa apenas gasolina, mas também plástico. Como aquele do rato que o Leitor segura na mão.

O uso maciço do petróleo pode durar muito mais tempo, mas é provável que esta nova fase posa ser uma fase de transição. Já estão em marcha novas formas de criar energia, é o cenário futuro prevê que hidrocarbonetos e outras formas de energia renovável vivam juntos ao longo de alguns tempos.

Quanto tempo? Difícil fazer previsões. Talvez vale a pena lembrar que a Idade Média é também considerada um período histórico de transição: e durou cerca de mil anos. De certeza que esta “revolução ” na exploração do petróleo irá atrasar o desenvolvimento das fontes energéticas alternativas.

Único detalhe: no caso do fracking será preciso convencer as pessoas de que os terremotos são algo natural, que a extracção de petróleo nada tem a ver com isso.
Mas este não será um grande problema.

Ipse dixit.

Relacionados acerca do fracking:
Fracking
Fracking: ao pormenor – Parte I
Fracking: ao pormenor – Parte II
A lata e o poço

Fontes: Limes,