Site icon

Os Leitores pedem sangue

Vozes levantam-se entre os Leitores: “Basta, basta com esta economia toda, já não aturamos mais,
tratamos de algo mais leve, mais divertido: que tal uma guerra?”.

Os Leitores pedem sangue? E que sangue seja.
Todavia…

Todavia não concordo. A maior parte das guerras tem como razão questões económicas. Que muitas vezes são disfarçadas com motivações religiosas, humanitárias e mais ainda. Mas é o dinheiro que está na base.

Pegamos em dois exemplos “clássicos”: Afeganistão e Mali. Alguém acredita que os Estados Unidos invadiram o Afeganistão para combater o terrorismo? Realmente há Leitores que pensam nisso? Acho que não, temos todos maior idade e estamos vacinados, por isso é óbvio que o País asiático foi ocupado por outras razões. Sejam elas o ópio, o petróleo ou o controle da Euroásia, na base está sempre ele: o dinheiro.
E o Mali? As minas de ouro, urânio, fosfatos, manganês e bauxita controladas pelas empresas francesas e americanas explicam muito bem as razões do conflicto, não é preciso acrescentar nada.

Uma vez entendido isso, ficam claras não apenas as motivações das guerras mas também o desfecho. Se na base houvesse desentendimentos exclusivamente políticos ou religiosos, seria possível encontrar um acordo entre as partes. Mas na base há o controlo dos recursos, o dinheiro, portanto a parte mais potente no conflicto utilizará todos o recursos possíveis para ganhar. E ganhará, disso não tenham dúvida.

Os Estados Unidos deixarão o Afeganistão nas mãos dum governo fantoche, num panorama dominado pelos campos de ópio e com a construção do gasoduto controlada.
A França controlará as minas do Mali, no máximo os Tuareg ficarão com algumas dunas no extremo Norte.
A Síria irá cair, porque os recursos do Irão são imensos e Damasco é um peça fundamental no processo de cerco.

Falar das guerras é como tratar duma doença falando dos sintomas e não das causas. É como pensar que o nosso voto seja importante na democracia, sem entender que o único voto que conta é o dinheiro que temos na carteira e os bens que adquirimos com ele (estas são as verdadeiras eleições).

Falar das guerras é como ver um jogo de futebol do qual já conhecemos o resultado: em vez dos dribblings há os mísseis, em vez dos golos há o número de mortos. Mas já sabemos quem irá ganhar e raramente é a equipa mais simpática. 

Seja como for, dobro-me perante a vontade soberana dos Leitores sanguinários. E para tornar mais agradável o dia, eis uma lista dos conflictos actualmente em curso nos vários cantos do planeta (início, lugar, mortos):

1948, Coreia, 2.000.000/4.000.000
1948, Myanmar, 100.000
1948, Palestina, 14.500
1953, Nigéria, 10.000 (conflitos religiosos) 
1964, Índia, 25.000 (nordeste)
1964, Colômbia, 200.000 (guerra civil)
1967, Índia, 11.200 (Naxalita)
1969, Indonésia. 100.000 (Papua)
1969, Filipinas, 120.000
1975, Laos, 100.000
1978, Afeganistão, 2.000.000 (guerra civil)
1978, Turquia/Iraque, 100.000 (Curdos)
1987, Uganda, 12.000
1989, Índia, 68.000 (Caxemira)
1990, Senegal, 1.000 (Casamança)
1991, Somália, 400.000
1994, Angola, 1.500 (Cabinda)
1995, Etiópia, 3.500 (Ogaden)
2002, Magrebe, 6.000
2002, Chifre da África, 212
2003, Iraque, 1.455.000
2004, Níger, 10.000
2004, Baluchistão, 2.500
2004, Irão, 300
2004, Tailândia, 4.100
2004, Paquistão, 30.000 (Noroeste)
2004, Iemen, 25.000 (Sa’dah)
2005, Chade, 1.100
2006, México, 43.270 (narcotráfico)
2008, Cambodja-Tailândia, 200
2009, Sudão, 2.500
2009, Cáucaso, 1.100
2009, Iemen, 1.154 (Sul)
2010, Iemen, 1.168 (Al-Qaeda)
2011, Líbia, ?
2011, Costa do Marfim, 200
2011, Sudão, 1.500 (Darfur)
2011, Sudão, 600 (Sul)
2011, Iemen, 1.782
2011, Síria, 4.220
2012, Mali, ?
2013, Congo, ? (M23)
2013, República Centro Africana, 600?
2013, Lahad, Datu, 130?

Esta a lista de conflitos reconhecidos pelas Nações Unidas.
O número dos mortos é aproximado, pois em muitos casos uma contagem precisa é impossível. Mesmo assim, são mais de mil falecidos por ano, nada mal. O total destas guerras “secundárias” atinge os 9.000.000 de vítimas: várias vezes o número de mortes provocados pela Guerra do Vietname.

Ipse dixit.

Fontes: Várias páginas de Wikipédia em Português e Inglês.