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Há coisas que não mudam

Dallas, EUA, 1963

– Chefe, temos que tramar um gajo com o homicídio do Presidente.
– E quem é este?
– Um tal Oswald.
– E como é que teria morto o Presidente?
– Com uma carabina.
– Então, Smith, não há crise: ponham o recibo de compra da carabina na secretária dele.
– Genial, Chefe, genial!
– Pois, é por isso que sou chefe…

E foi assim que a policia encontrou na secretária de Oswald o recibo da carabina Mannlicher-Carcano adquirida três meses antes via correio.

– Chefe, pensava…sabe, este é um caso duma certa importância…o recibo não será pouco?
– Achas? Então tira uma foto de Oswald com a carabina.
– Ó Chefe, Oswald está morto, lembra-se? Enviámos o Ruby…
– Eu sei que está morto. Smith, nunca ouviste falar de fotomontagem?

Nasceu assim a fotografia de Oswald com a carabina na mão e a sombra do nariz diferente das sombras do ambiente.

Duas provas: agora sim que o caso podia considerar-se fechado. 

Oklahoma City, EUA, 1995

– Chefe, temos que tramar um gajo por causa do Murrah Building.
– E quem é este?
– Um tal Timothy McVeigh.
– Não há crise, Smith, não há crise: ponham o recibo de compra da carabina na secretária dele.
– Ó Chefe, foi uma bomba, não uma carabina…
– Uma bomba? E como é que conseguiu pôr uma bomba no Murrah Building?
– Com um furgão cheio de estrume.
– Então encontrem um pedaço do furgão e liguem-no ao gajo.
– Fantástico, Chefe, fantástico!
– Óbvio, sou o chefe…

E foi assim que a quatro prédios de distância foi encontrado um pedaço do furgão, com tanto de número de série: com isso foi possível descobrir que o meio tinha sido alugado por McVeigh, três dias antes do atentado.

– Chefe, pensava…sabe, aquela do furgão foi uma boa ideia mas…não será pouco?
– Achas? Ponham um recibo na secretária dele.

E foi assim que a policia encontrou na secretária de McVeigh o recibo do estrume adquirido três meses antes.

Duas provas: agora sim que o caso podia considerar-se fechado.

New York, EUA, 2001

– Chefe, temos que tramar uns quantos islâmicos por causa das Torres Gémeas.
– E quem são estes? Bah, deixa, afinal são islâmicos…ponham o recibo de compra do estrume nas secretárias deles.
– Ó Chefe, foram dois aviões desta vez…
– Dois aviões cheios de estrume? Ó Smith, mas quem é que voa em dois aviões cheios de estrume?
– Chefe, pode esquecer o estrume?
– Posso, claro que posso, sou o chefe. Então ponham os documentos dos islâmicos nos destroços das Torres Gémeas.
– Excelente, Chefe, Excelente!
– Normal: sou o chefe.

E foi assim que o passaporte dum dos terroristas islâmicos foi encontrado a três prédios de distância das Torres Gémeas, com fotografia e nome perfeitamente legível.

– Chefe, pensava…sabe, aquela dos documentos foi uma boa ideia mas…não será pouco?
– Outra vez? Ó Smith, inventem algo, sei lá, peguem numa mala, juntem algumas coisas, algo do género…

E foi assim que em Boston foi encontrada uma mala cheia de testamentos, Corãos e, obviamente, o manual para pilotar um Boeing 767.

Duas provas: agora sim que o caso podia considerar-se fechado.

New York, EUA, 2013

– Chefe, lembra-se daquela coisa dos aviões, dos islâmicos, das Torres Gémeas?
– Eh? Ah, sim, vagamente…
– Sabe, Chefe, há alguém que fala de drones, diz que foi isso que atingiu as Torres e não dois Boeing. Temos que fazer mudar de ideia, não acha?
–  Pois, eu bem tinha dito para pôr o recibo do estrume nas secretárias…então façam isso: ponham um pedaço de avião algures, tá bom?
– Maravilhoso, Chefe, simplesmente maravilhoso! Um pedaço…ehi, Chefe: um avião é grande, um pedaço de avião é grande também. Passaram 12 anos, não podemos pôr um trem de aterragem por cima duma árvore…
– Porque não? Depois explicas que foram os pássaros a esconde-lo no ninho.
– Mas pesa centenas de quilos, ninguém vai acreditar!
– Achas? Experimenta pôr o recibo do trem na secretária dos pássaros, vais ver se não acreditam.
– …
– Ok, ok, então mudamos: olha, Smith, não temos aí perto uma mesquita? São 5 anos que estamos a vigia-la, dia e noite. Passa no Departamento dos Recursos Avançados, requisita uma corda, vai até a mesquita, diz à policia para deixar-te passar e põe o trem de aterragem num lugar onde não dê nas vistas.
– Chefe, este é o melhor plano alguma vez imaginado!
– Sou ou não sou o Chefe?

E foi assim que na traseira duma mesquita foi encontrado o trem de aterragem dum dos aviões que embateram nas Torres Gémeas, com tanto de número de série.

– Feito, Chefe, engoliram esta também.
– Muito bem. Ah, Smith, ligaram aqueles dos Recursos Avançados: querem a corda de volta.
– A cord…!?!?!

Ipse dixit.