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O Papa foi-se

Pois é: o Papa foi-se.

Ás 11:49 (hora de Roma), Bento XVI anunciou em latim (gentilmente traduzido por mim…até que enfim: as horas aborrecidas no Liceu servem para alguma coisa):

Bem consciente deste acto, com plena liberdade, declaro de abdicar do ministério de Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, a mim entregue pelas mãos dos cardeais no dia 19 de Abril de 2005.

Eis o texto integral, tal como lido pelo Papa:

Bene conscius sum hoc munus secundum suam essentiam spiritualem non solum agendo et loquendo exsequi debere, sed non minus patiendo et orando. Attamen in mundo nostri temporis rapidis mutationibus subiecto et quaestionibus magni ponderis pro vita fidei perturbato ad navem Sancti Petri gubernandam et ad annuntiandum Evangelium etiam vigor quidam corporis et animae necessarius est, qui ultimis mensibus in me modo tali minuitur, ut incapacitatem meam ad ministerium mihi commissum bene administrandum agnoscere debeam. Quapropter bene conscius ponderis huius actus plena libertate declaro me ministerio Episcopi Romae, Successoris Sancti Petri, mihi per manus Cardinalium die 19 aprilis MMV commissum renuntiare ita ut a die 28 februarii MMXIII, hora 29, sedes Romae, sedes Sancti Petri vacet et Conclave ad eligendum novum Summum Pontificem ab his quibus competit convocandum esse.
Fratres carissimi, ex toto corde gratias ago vobis pro omni amore et labore, quo mecum pondus ministerii mei portastis et veniam peto pro omnibus defectibus meis. Nunc autem Sanctam Dei Ecclesiam curae Summi eius Pastoris, Domini nostri Iesu Christi confidimus sanctamque eius Matrem Mariam imploramus, ut patribus Cardinalibus in eligendo novo Summo Pontifice materna sua bonitate assistat. Quod ad me attinet etiam in futuro vita orationi dedicata Sanctae Ecclesiae Dei toto ex corde servire velim.

Tradução:

Vou-me embora.

Bento XVI vai permanecer no cargo de top manager do Vaticano até o dia 28 de Fevereiro, data em que a Igreja ficará temporariamente sem guia. Em Março o concelho de Administração de Deus irá reunir-se para eleger o novo Chefe.

As razões do abandono? A idade, as condições de saúde, o bem da Igreja. Ao que parece, Bento XVI, nome de arte de Joseph Aloisius Ratzinger, não sofre de nenhuma doença em particular: simplesmente está cansado. O que, considerada a idade (86 anos), é compreensível.

E nem é o primeiro caso de Papa que abdica: antes dele já tinham renunciado Clemente I, Ponziano, Silveiro, Bento IX e Celestino V. Bento XVI será o primeiro nos últimos 600 anos, mais ou menos.

O mesmo Bento XVI já tinha antecipado numa entrevista sucessivamente publicada num livro (ano 2010) algumas dúvidas:

Quando um Papa chega a tomar consciência de não ser mais capaz fisicamente, mentalmente e espiritualmente de desenvolver o cargo recebido, então tem o direito e nalgumas circunstâncias também o dever de demitir-se.

Em Março, como afirmado, começará o percurso para a eleição do novo Papa, que deverá estar pronto perto da Páscoa. Já circulam vozes segundo as quais poderia ser favorecido um Pontífice africano. Mas são as vozes que costumam circular nesta altura, depois é sempre eleito um europeu.

Reacções

Imediatas as reacções no mundo.

O porta-voz do governo alemão afirma que o executivo “reagiu com emoção e turbamento”, dá para imaginar, sem dúvida.
A mesma simpática Angela Merkel afirma ser esta uma notícia “que emociona”. E conhecendo a natureza delicada da mulher, também é simples imaginar as lágrimas a caírem.

Segundo o inútil Presidente italiano Giorgio Napolitano, tratou-se dum acto “de grande coragem”. 

Também o homem Goldman Sachs, Mario Monti, comentou: “Estou muito emocionado com esta notícia inesperada”. Outras lágrimas.

Por enquanto não há uma reacção oficial do Presidente de Portugal, Cavaco Silva. Provavelmente ainda tentam fazer-lhe entender o que se passou.

Também Leonardo, o verdadeiro autor deste blog, quis lembrar Bento XVI:

Um grande homem que fez muito em prol da Humanidade. Por exemplo, lembro de quando decidiu doar todas as riquezas do Vaticano aos pobres da África. Ou de quando ameaçou excomungar os Presidentes ocidentais se não tivessem parado de bombardear os civis na Líbia e no Afeganistão. Ou de quando defendeu abertamente contra tudo e todos os Palestinianos atacados na Operação Chumbo Fundido. Ou de quando começou a gritar como um louco para que fossem respeitados os direitos dos índios da América do Sul. Isso sem esquecer o empenho para que a praga da pedofilia fosse definitivamente erradicada da Igreja. Enfim, um grande homem, sem dúvida. Vai fazer falta. Aliás, já sinto falta. Que tristeza. Max, da-me uma bolacha que estou triste e com falta do Papa.

Informação Incorrecta faz votos duma rápida recuperação para o sr. Ratzinger e para que a Igreja encontre um sucessor à altura.
Não vai ser difícil.

Ipse dixit.