Portugal: as propostas do FMI

O Jornal de Notícias publica hoje um relatório do Fundo Monetário Internacional.

É muito interessante, pois trata-se da receita mágica com a qual um País (um qualquer…Portugal, por exemplo) pode sair da crise e percorrer sorridente as avenidas do bem estar.

Em primeiro lugar, o FMI afirma ter chegado a hora de adoptar reformas inteligentes. Que, por acaso, são aquelas sugeridas pelo próprio FMI. Sorte nossa.

O objectivo, afirma o documento, é eliminar as ineficiências, as injustiças e promover o crescimento.
São conceitos revolucionários e pessoalmente estou feliz de ter sobrevivido até hoje para poder ouvir alguém dizer coisas destas.

Assumida a superioridade intelectual do FMI, vamos agora ver quais as medidas propostas.

  • Corte entre 10 e 20% do número de funcionários públicos

Só esta medida permitiria poupar 2.700 milhões de Euros. Isso é genial. Pega-se em alguns milhares de pessoas, atira-se tudo para a rua, e pronto, o Estado poupa.

Claro, estas pessoas ficariam no desemprego, sem rendimentos, sem possibilidade de construir um futuro, uma reforma. São também pessoas que reduziriam drasticamente os consumos. E, ao mesmo tempo, o Estado falharia um dos objectivos primários dele, que é criar trabalho.

Não haveria também um aumento dos subsídios de desemprego? A não ser que a ideia do FMI seja também eliminar estas esmolas.  

Mas estes são detalhes e, como tais, podem ser tranquilamente ignorados.   

  • Corte nos salários da função pública

E os que conseguiram fugir aos cortes e permanecem na máquina do Estado? Salários mais baixos, assim aprendem, parasitas.
Um corte de três a sete por cento nos ordenados poderia garantir ao Estado até 760 milhões de Euros poupados. Já um corte nos suplementos dos trabalhadores da Função Pública, que pode chegar aos 30%, pouparia 300 milhões de Euros. Toda fartura.

Eu acho que se uma pessoa tiver menos dinheiro, consequentemente gastará menos, o que não é propriamente bom na óptica da economia nacional. Mas eu não sou o FMI, nada percebo do assunto, pelo que bato as palmas perante esta medida inovadora.

  • Corte nas reformas

Sejamos honestos: se já os funcionários públicos forem parasitas, que dizer dos reformados? Estes não produzem, não trabalham: limitam-se a sugar a riqueza produzida por outros.

Mas a longa vista do FMI não esqueceu-se desta classe de aproveitadores: extensão do corte nos subsídios de férias e de Natal conjugado com um segundo corte de 15% nas pensões acima de um valor mínimo, ainda não determinado.

E mais: é inevitável uma alteração nas regras de cálculo das pensões. E uma das medidas deve ser a proibição de reformas antes dos 65 anos, o que permitiria poupar outros milhões de Euros.

Acho que neste âmbito o FMI poderia ter sido um pouco mais atrevido: já alguém pensou na poupança do Estado com reformas aos 85 anos? Pensem um pouco nisso.

  • Desemprego: o subsídio é demais
O FMI observa também o sistema de protecção social e não gosta dele: diz ser “demasiado dispendioso, injusto especialmente para os mais jovens” e defende que “subsídio de desemprego continua demasiado longo e elevado”.

Pena que o FMI não avance com alguns exemplos práticos, pois seria interessante perceber o sentido de “demasiado longo” ou “elevado”.

  • Professores: rua

Portugal é um dos Países mais cultos do planeta: 6 em cada 5 cidadãos são licenciados, 7 em cada 5 tiraram um master e o nível cultural nas ruas é o mesmo que pode ser encontrado em Oxford ou Cambridge. Pelo que surge espontânea uma pergunta: professores para quê? Portugal não arrisca ser demasiado culto?

O FMI sabe disso e avança com uma grande proposta: colocar entre 30 a 50 mil funcionários da educação em regime de mobilidade especial, o que permitiria uma poupança na ordem dos 430 a 710 milhões de Euros por ano.

E os que permanecerem no activo passam a trabalhar 40 horas semanais, com uma poupança na despesa de 150 milhões de Euros por ano.

Outros 300 milhões de Euros de poupança podem ser conseguidos através do alargamento do bloco de aulas dos 45 para os 60 minutos [por acaso, a única medida com um mínimo de fundamento, nota minha].

Pôr os professores na mobilidade especial (que depois é o pré-desemprego), explica o FMI, significa poupar e também incentivar o “desempenho” dos professores “que querem ficar de fora das listas de mobilidade”.

Uma medida original e inovadora que merece todo o apoio. Formação, ensino, cultura: não são coisas que possam ser comidas, então prestam para quê?

  • Propinas e privados

Sempre em tema de educação. Esta coisa do ensino pago, afirma o FMI, não é justa: deve ser mais pago. Por isso: aumento das propinas para os estudantes universitários como forma de reduzir a despesa.

O relatório é claro:

Para alcançar poupanças significantes e duradouras e reduzir o subfinanciamento, Portugal precisa de reduzir a despesa pública com o Ensino Superior e aumentar as propinas.

Justo. Cabe ao Estado ajudar o cidadão que deseja aprender? Será que um cidadão instruído e adequadamente formado é uma riqueza da comunidade? Perante estas medidas, a resposta é óbvia: não. Por isso, quem quiser aprender que pague.

Mas não há apenas universidades, há também o ensino básico. E o FMI não descuida deste aspecto: contas feitas, o Estado consegue poupar cerca de 400 Euros por aluno numa escola privada com contrato de associação. Vamos incluir os 1,5 milhões de estudantes do ensino primário e secundário e conseguimos obter uma poupança de 580 milhões de Euros anual se o Estado apostar nos contratos com os privados.

Seria interessante poder analisar estes cálculos. Seria muito, mas mesmo muito interessante.
Mas por enquanto vamos em frente.

  • Demasiada polícia

Quanta polícia há em Portugal? Demais. Afinal este não é o Bronx.
Então, eis a solução: menos polícia.

O FMI afirma que existem polícias em excesso e que uma correcção nos números pode facilitar a vida ao Estado. Todavia não avança quantias para os cortes, o que é uma pena.

No relatório entregue ao Governo, o FMI destaca que “a densidade das forças policiais está entre as mais altas da Europa” e que “as forças de segurança representam cerca de 17% do emprego público”.

Será por isso que Portugal é um País bastante tranquilo do ponto de vista criminal?
Mas afinal o que é mais importante? Uma criminalidade reduzida e controlada ou as contas do Estado? Resposta óbvia: as contas do Estado. Então: cortes. E a reforma no sector da segurança, afirma o FMI, não deve passar tanto pelos salários excessivos mas sim pelo número de forças activas: isso é, redução dos efectivos.

  • Aumento das taxas moderadoras

O FMI afirma que os preços do Serviço Nacional de Saúde têm margem para subir.
Justo, afinal a saúde não é um direito, é mais uma questão de sorte. Uma pessoa doente é uma pessoa azarada: é justo que a sociedade fique com o azar também? Não, não é justo: o doente pode ir a morrer sozinho e levar o azar com ele para a cova. O resultado será uma sociedade com menos azar, o que é meio caminho andado tendo em vista a retoma.

É interessante verificar como aqui haja uma recuperação do antigo sentido da palavra “infortúnio”. O termo deriva da expressão do latim infortunium que indica “falta de sorte”, pois assim eram vistas as doenças até o século XVIII. O FMI parece recuperar esta visão e quem, tal como eu, gostar das tradições, aplaude a escolha.

Doutro lado, pensamos nisso: quem é que pode enfrentar sem problemas custos mais elevados para tratar da própria saúde? Os mais ricos, que são também os que mais sorte e/ou sucesso tiveram na vida. A fortuna, a sorte, passa a ser o denominador de base do Sistema de Saúde, o que tem uma certa lógica, não há dúvida.

  • Profissões privilegiadas

Explica o diário Público:

Segundo o relatório do FMI, elaborado em conjunto com a Comissão Europeia, os salários da Função Pública são “relativamente elevados” e privilegiam “trabalhadores com baixas qualificações”, uma vez que a diferenciação nos salários acontece em função da antiguidade e não do desempenho.

O documento refere que há classes profissionais (polícias, militares, professores, médicos e juízes) que têm “demasiadas regalias”, que os médicos têm salários excessivamente elevados (principalmente devido ao pagamento de horas extraordinárias) e os magistrados beneficiam de um regime especial que aumenta as pensões dos juízes em linha com os salários.

Esta é uma das mudanças propostas pelo relatório que […] o Governo está a analisar. A progressividade dos salários do Estado deve passar a ser feita em função do desempenho e não da antiguidade, como forma de “atrair profissionais mais motivados e qualificados”, como escreve o jornal.

O facto da progressividade dos salários ter que estar ligada às capacidades, aos resultados e não à antiguidade é coisa positiva. O facto de existirem profissões com excessivas regalias também é verdade. E ambas as situações devem ser corrigidas, este é um facto. Mas os problemas são também outros.

Como é que chegámos ao ponto em que determinadas profissões têm demasiadas regalias ou nas quais a carreira faz-se apenas por antiguidade e não por mérito? É evidente que há algo que não funciona no mecanismo e é aí que é preciso intervir. Limitar-se a cortar as regalias ou os salários agora não resolve os problemas: deve ser modificado o sistema, não apenas as retribuições.

Porque afirmar que os salários “são elevados” é uma piada de mau gosto: o governo e o FMI têm sorte porque o Português médio mal sabe o que se passa na vizinha Espanha, imaginem no resto da Europa. Mas a verdade é que um bom profissional em Portugal tem um vencimento miserável quando comparado com os colegas estrangeiros. Então, qual o objectivo do FMI? Nivelar os salários “para baixo” ou criar as condições para que haja desenvolvimento e uma subida dos salários, aproximando estes aos patamares europeus?
A resposta é evidente.

O desenvolvimento não é algo que apareça à porta de casa num dia de Primavera: é algo que passa pelos investimentos, os quais são feitos com o dinheiro. E se o Estado não quer gastar (coisa evidente), a única maneira de obter investimento (e crescimento) é com o dinheiro dos privados.

Conclusões

Estas as directrizes principais sugeridas pelo Fundo Monetário Internacional.
Gosto muito delas. Aumento do desemprego, redução da formação, saúde mais cara, menos segurança, pessoas mais pobres são os resultados imediatos. O que pode ser um pouco desconfortável, mas temos que observar o outro lado da moeda: o Estado poupa. E isso é suficiente para justificar qualquer medida, tudo o resto passa em segundo plano, inclusive os direitos dos cidadãos (“direitos”, sempre “direitos”…e os deveres?).

É claro que um conjunto de medidas como estas tornaria impossível qualquer retoma (o Estado poupa, os cidadãos ficam com menos dinheiro), mas também isso é secundário, pois não podemos esquecer que o objectivo primário é e sempre deve ser a poupança do Estado.

Só uma coisa não percebo: quando Portugal terá conseguido alcançar o fundo dos fundos (já alcançou o fundo do poço, estando falido, mas estas medidas permitem começar a cavar), qual a utilidade dum Estado que poupa?

Mas este sou eu que do assunto não percebo nada, peço desculpa mais uma vez.

  • Addendum

No passado mês de Outubro, o FMI avaliou a situação das economias da Zona NEuro e afirmou que as medidas de austeridade não conseguiam alcançar os resultados pretendidos. A mesma chefe do FMI, Christine Lagarde, avisava que demasiada austeridade provoca recessão e afasta a retoma.
Mas isso em Outubro. Agora é Janeiro. Pelos vistos, é toda outra coisa.

Ipse dixit.

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Ops…um pequeno erro!

Fontes: Jornal de Negócios, Público

30 Replies to “Portugal: as propostas do FMI”

  1. Vou deixar aqui alguns pontos que considero relevantes:
    – Sem contar com o impacto no subsídio de desemprego, o dito corte no número de funcionários públicos traria uma poupança que ronda os 5-8 mil milhões de euros. O valor proposto é bastante menor, logo os "detalhes" estão incluídos.
    – O objetivo da Troika não é manter o consumo privado em alta, muito pelo contrário, daí eles não se preocuparem em diminuir o poder de compra dos portugueses. Pretende retrair os consumos público e privado, de forma a reequilibrar as contas do país. No lado público, interessa ter um Estado que não esteja sobre-endividado. No lado privado, interessa garantir que as pessoas não importem tanto, algo que representa saída de recursos do país. O motor da economia neste modelo de crescimento serão as exportações. Neste ponto, Portugal está a ser bem sucedido. As contas com o exterior estão a aproximar-se de saldo 0 e as exportações estão a aumentar a um ritmo bastante bom.
    – Até há pouco tempo, pelo mesmo tempo de trabalho na empresa, um trabalhador teria de receber uma indemnização 3 vezes superior à do trabalhador europeu médio. Indemnizações elevadas são um desincentivo ao investimento, pois aumenta a penalização pelo o insucesso de uma empresa, algo que é tido em conta na análise de risco dos negócios.
    – Portugal tem ineficiências massivas na educação. É claro que não descuro a sua importância, mas o modelo atual tem de ser seriamente reestruturado.
    – Universidade gratuita é uma medida que promove a injustiça social. Quem é vai para as universidades são fundamentalmente filhos de famílias de classe média, média-alta e alta, pelo que temos impostos pagos por todos a financiar um sistema beneficiado pelos segmentos mais favorecidos da população.
    – E antes de criticar as declarações de pessoas em altos cargos, lembre-se: antes de serem economistas/gestores/outra profissão qualquer, no cargo em que estão, são políticos.

  2. Olá Max:tens de por uma coisa na tua cabeça (tu e os demais europeus).O FMI está apenas começando com as suas sugestões, tomadas como ordens atualmente pelos governos europeus. Se comparadas às medidas "aconselhadas" para os países africanos, latino americanos, do leste europeu, e asiáticos, onde intervieram por décadas, às vezes, e consideradas também as enormes diferenças entre o padrão de vida europeu e destas outras regiões, tais medidas anunciadas pelo Público são fracas…fraquiiiiinhas! Eu até nem sei como eles não entram mais forte, e não se deram conta antes que podiam acabar com a Europa (europeus nativos) toda. Acho que, como eu, confundiram educação escolar com inteligência e discernimento por parte da população européia.Mas, olha, quando me deparo com certas mentalidades, sou forçada a considerar que os diplomas acadêmicos pouco contribuem, porque podem reduzir a ignorância , mas não extirpam a estupidez.Os portugueses e europeus em geral deviam aproveitar o uso que fizeram até então do direito à escolaridade, e buscar informações sobre as consequências destas medidas, ora propostas, nos países tornados por instituições como o FMI "terceiro mundo ad eternum". Abraços e condolências.

  3. Olá Anónimo!

    "O objetivo da Troika não é manter o consumo privado em alta, muito pelo contrário, daí eles não se preocuparem em diminuir o poder de compra dos portugueses".

    Isso parece óbvio.

    "Pretende retrair os consumos público e privado, de forma a reequilibrar as contas do país".

    Interessante. Retrair os consumos públicos e privados significa reequilibrar as contas? Desculpe, mas quem é que cria riqueza no País? Donde chega o dinheiro das receitas? Como é possível reequilibrar as contas se o Estado arrecada cada vez menos impostos e sem que haja uma soberania monetária?

    Não é um reequilíbrio, é um empurrar para baixo, o que é bem diferente. Perante a queda das receitas fiscais, será necessário diminuir cada vez mais as despesas do Estado. E isso cria uma nova contracção da economia e uma consequente ulterior queda nas receitas.

    Sem poder contar com entradas suficientes em termos fiscais e sem poder emitir moeda, a única forma do Estado financiar-se é recorrer aos empréstimos, o que vulgarmente é chamado "mercado". Mas sempre empréstimos são, porque sabemos que por cada emissão de Títulos há uma determinada percentagem de juros que terá de ser paga.

    Qual o objectivo? Criar um Estado que possa viver exclusivamente com os empréstimos? Mas este não é um Estado, tem outra definição.

    "No lado público, interessa ter um Estado que não esteja sobre-endividado. No lado privado, interessa garantir que as pessoas não importem tanto, algo que representa saída de recursos do país"

    O que é um erro monumental. A riqueza do País não está no limitar as importações ou os gastos do Estado: fica na capacidade de produção. Incentivar a produção e o consumo interno é a única maneira para podem imaginar uma retoma. Reduzir as importações é apenas um paliativo.

    Quanto ao facto do Estado estar sobre-endividado: esta é uma condição implícita um País sem uma adequada capacidade de produção e sem controle monetário.

    "O motor da economia neste modelo de crescimento serão as exportações"

    Anónimo, eu não conheço-o pessoalmente e gostaria em primeiro lugar de agradecer (e muito) a sua participação, acredite. Longe de mim a ideia de ser ofensivo, não tenho nenhum interesse nisso. E gosto também do facto das suas afirmações serem "pensadas" e contrárias às minhas (o que é sempre bom, pois desenvolve a discussão).

    Mas já pensou na absurdidade deste suposto modelo?
    Um modelo económico fundado nas exportações num País que não tem a possibilidade de gerir a sua própria moeda? E num País que tem uma capacidade de produção ínfima, qual é Portugal, na qual as maiores empresas privadas estão nas mãos dos capitais estrangeiros? E mais não digo…

    (continua)

  4. Rafael,

    O dito corte nos funcionários públicos seria na sua opinião em que sectores?
    Na justiça,finanças, educação ou na saúde, é que só esses 3 sectores representam 80% da função pública e englobam os juizes , trabalhadores tribunais, PSP, GNR, trab finanças, professores e auxiliares de educação, médicos, enfermeiros e auxiliares…

    Um trabalhador em Portugal que seja despedido, tinha 3 vezes mais indemnização à do trabalhador médio europeu, como se o salário médio português é de 768,00 €?

    Portugal tem ineficiências massivas na educação, mas o ensino obrigatório foi alargado do 9º ano para o 12º ano, como poupar na educação?
    Como poupar como a troika propõe, despedir 50 mil professores?

    Universidade gratuita só existe para os mais desfavorecidos, porque os filhos das classes que referiu pagam propinas!

    Agora concordo em absoluto com a sua última afirmação, são políticos.

    Zarco

  5. (continua)

    "Neste ponto, Portugal está a ser bem sucedido. As contas com o exterior estão a aproximar-se de saldo 0 e as exportações estão a aumentar a um ritmo bastante bom".

    Pontos de vista: se reduzir os consumos for visto como um bom resultado, sem dúvida este é um sucesso.
    Claro, sobra o pequeno problema de antes: onde é que o Estado irá encontrar o dinheiro para o próprio funcionamento? Ou achamos que os impostos pagos pelas empresas que exportam serão suficientes, mesmo perante uma redução da despesa pública? Não achamos isso, pois não?

    "Até há pouco tempo, pelo mesmo tempo de trabalho na empresa, um trabalhador teria de receber uma indemnização 3 vezes superior à do trabalhador europeu médio".

    Certeza? Sugiro espreitar os valores da "liquidazione" em Italia, que é ainda a terceira economia do Velho Continente.

    "Indemnizações elevadas são um desincentivo ao investimento, pois aumenta a penalização pelo o insucesso de uma empresa, algo que é tido em conta na análise de risco dos negócios".

    Liquidazione, Italia, dezenas de milhares de Euro. Nunca houve problemas de investimento.

    "Portugal tem ineficiências massivas na educação. É claro que não descuro a sua importância, mas o modelo atual tem de ser seriamente reestruturado".

    Concordo em pleno.

    "Universidade gratuita é uma medida que promove a injustiça social. Quem é vai para as universidades são fundamentalmente filhos de famílias de classe média, média-alta e alta, pelo que temos impostos pagos por todos a financiar um sistema beneficiado pelos segmentos mais favorecidos da população".

    Quem vai para a universidade, actualmente, são de facto os filhos de famílias de classe média, média-alta e alta. Mas isso não porque as universidade sejam gratuitas, porque não são. As propinas já existem e incidem fortemente num orçamento familiar reduzido.

    Propinas mais altas agravariam a actual injustiça e limitariam ainda mais o acesso ao ensino superior, tornando as universidade o que foram ao longo de séculos, lugares para poucos e bem escolhidos.

    "E antes de criticar as declarações de pessoas em altos cargos, lembre-se: antes de serem economistas/gestores/outra profissão qualquer, no cargo em que estão, são políticos".

    Não, lamento, mas aqui discordo profundamente. O FMI, a troika, nada têm de políticos. Podemos afirmar que perseguem um projecto político-económico, isso sim, mas não são políticos. São basicamente economistas formados à sombra duma escola económica histórica fácil de individuar, mas ser político é coisa bem diferente.

    Ser político, no sentido próprio do termo, é até uma profissão nobre. Ser político significa gerir a res pública, a coisa pública, fornecer serviços eficientes e dar um sentido à palavra "justiça", sem a qual não pode haver um Estado moderno digno deste nome.

    Ser político significa tomar medidas para que o bem estar da Nação seja aumentado, nunca diminuído. E nas alturas de crise, como a presente, pôr as bases para que o período negativo seja ultrapassado quanto mais de pressa. Na minha óptica não é isso que acontece, veja-se o delirante modelo económico baseado nas exportações.

    Ser político, no nosso sistema, significa ser representante do cidadão, respeitar as escolhas dele.

    Aqui nada há de política, nem a sombra dela.

    Mais uma vez: muito obrigado!
    E um abraço.

  6. Olá Zarco!

    Não, lamento, não são políticos, como já afirmei.
    São economista travestidos de políticos no melhor dos casos e têm um objectivo que nesta altura já deveria ser bastante claro.

    Não operam por conta de ideais políticos, operam para implementar um determinado sistema económico.

    Abraçooooo!

  7. Max,

    Tens razão no que afirmas quando a definição de político é a que aplicaste.

    Infelizmente não é essa que "vigora" actualmente, são marionetas do sistema económico e navegam à vista…

    Um abraço

    Zarco

  8. Olá Maria!

    Como afirmei no post, a sorte do FMI e do governo em geral é que os Portugueses mal sabem o que acontece no estrangeiro.
    Neste aspecto, estudar o que fez e ainda faz o FMI nos Países do Terceiro Mundo ou ex-tais poderia bem ajudar a perceber qual o sentido destas medidas.

    Mas não há pachorra, então tudo é visto como se apenas de FMI vs. Portugal se tratasse. E esquecemos, por exemplo, que o FMI é apenas uma das componentes da troika, pois há também a União Europeia e o Banco Mundial.

    Quanto ao FMI. Tem que ter cuidado com o Velho Continente, pela simples razão que aqui estão sediados alguns dos principais bancos mundiais.

    Este não o Mali, onde alguns milhares de pessoas que morrem de fome nem merecem um linha nos diários. Há capitais que correm riscos aqui, capitais envolvidos em transacções intercontinentais, há ligações com Wall Street e as principais praças económicas do planeta.

    Não é o respeito pelas pessoas, é a necessidade de operar segundo um esquema mais sofisticado. Que depois o resultado seja o mesmo, este é outro discurso. Mas se o cidadão não sabe/quer saber o que já aconteceu em outros Países, qual o problema?

    Grande abraçooooo!

  9. Max,
    Maior consumo privado não é igual a maior riqueza produzida internamente, porque há duas faces nesta moeda. O consumo privado incorpora o consumo de bens produzidos interna e externamente. Desta maneira, aumentar o consumo privado não implica um aumento da produção nacional; e diminuí-lo uma diminuição da riqueza.

    Ninguém acredita que diminuir importações levará ao crescimento da economia. Não é disso que estas medidas se tratam. O objetivo é impedir que os agentes económicos portugueses necessitem de recorrer no futuro a mais empréstimos para satisfazer as suas necessidades de consumo, uma vez que o que se obtinha a partir das exportações não era suficiente para pagar as importações que fazíamos. É disto que se fala quando se diz que “andámos a viver acima das nossas possibilidades”. Na altura em que a Troika entrou em Portugal, a dívida externa total (pública e privada) aproximava-se dos 400% do PIB, sendo que maior parte dela era privada, com origem em créditos à habitação e ao consumo.

    Neste momento, o principal foco não é promover o crescimento, mas reestruturar a economia. Como disse, neste cenário, Portugal merece nota positiva, daí a sua imagem tenha melhorado internacionalmente. O nosso défice externo (“diferença entre o dinheiro que sai e que entra”) está a aproximar-se de zero. Maior parte deste efeito deve-se à queda das importações e à diminuição dos lucros das multinacionais, o que significa que o défice agravar-se-ia, caso Portugal voltasse a um período de crescimento. No entanto, a contribuição das exportações para esta diminuição não deixa de ser bastante significativa, pelo que Portugal está num bom caminho. Além disso, o setor não transacionável está a perder peso na economia, o que, em último caso, contribuirá para a redução do défice externo.

    O euro foi uma aventura política, que trouxe vantagens e desvantagens para Portugal. Ficámos presos a uma moeda forte, não ajustada à nossa produtividade, o que destruiu o setor transacionável em Portugal. No entanto, recebemos quantias avultadas da UE, que, sendo bem aproveitadas, poderiam ter aproximado Portugal dos outros países europeus. Tudo somado, o euro foi uma experiência muito negativa para Portugal. Mas a saída, neste momento, destruiria as nossas relações com o exterior e a nova moeda seria desvalorizada a um ritmo galopante, forçando-nos a viver numa situação de quase autarcia (aí o consumo privado cairia a pique). Assim, estamos presos a ele e temos de nos adaptar às suas limitações. A única maneira de sermos uma economia saudável dentro do euro é começando a equiparar a nossa economia às restantes no que diz respeito à competitividade.

    Não entendo qual é o problema de termos capital estrangeiro a controlar empresas a operar em Portugal.
    (continua)

  10. (continuação)
    As propinas não cobrem nem um quinto das despesas das universidades. São valores simbólicos. Maior parte das receitas das universidades são próprias (tirando as propinas) ou de origem estatal. Com isto, pergunto, deve-se subsidiar o ensino superior no modelo atual, favorecendo principalmente estudantes com posses, com um ou outro de origens mais humildes pelo caminho?

    A sua definição de político peca por ser ingénua. Todas as pessoas que estão dentro do Estado, funcionários públicos inclusive, têm como objetivo melhorar a sua situação e das suas famílias. Como tal, a prioridade número um do funcionário do Estado não é o bem-estar da nação, mas o seu bem-estar. Daí, verem-se políticos a defender publicamente o que não defendem em privado, a mascarar a realidade, a promover medidas irreais e/ou populistas; ou, então, funcionários públicos a defender com unhas e dentes o quão essencial para a sociedade e economia é o setor onde atuam. Todos eles estão a lutar por si, não pela sociedade. Exige-se uma reformulação no funcionamento do Estado que oriente o interesse próprio de cada funcionário de acordo com interesse da sociedade. Ainda hoje uma medida desse género foi falada na comunicação social: a remuneração dos funcionários públicos deixará de depender da sua antiguidade, mas do mérito. Resta saber como vão apurar o mérito.

  11. Fazer umas contas rápidas de merceeiro, é a melhor forma de se entender esta proposta do FMI.

    Remunerações certas e permanentes em % da Despesa Total –
    16,7% em 2010, 16,2% em 2011 e 14,5% em 2012 – Fonte: Ministério das Finanças.
    Esta é a incidência do custo dos funcionários publicos no OGE.

    Por outro lado, sabemos que em valores médios, 6 meses dos salários auferidos pelos funcionários publicos retornam aos cofres do estado sobre a forma de impostos directos e indirectos. Só o IVA come 23 % do total do consumo de bens e serviços ( Valor arredondado para melhor compreensão, pois ainda existem bens à taxa reduzida ou intermédia).
    Se acrescentarmos o subsídio de desemprego, a poupança a curto prazo para o estado, pela dispensa de funcionários públicos tende para valores insignificantes comparando-se com o PIB.

    Daí a logica do reduzir o subsídio de desemprego. Esta lógica tem por um lado aliviar os encargos do estado em subsídios para canalizar essas verbas para o pagamento da dívida e por outro lado forçar os cidadãos, por desespero, a aceitar salários cada vez mais baixos. Pressão deflácionária sobre os salários.

    Salários baixos significa consumo interno baixo.
    Sabemos que o PIB depende de 3 factores: Consumo interno (privado), investimento publico, e exportações.

    Retração do consumo interno e do investimento publico significa queda do PIB ( Recessão, como previsto) ou seja aumento do défice, pois as exportações não compensam esta quebra.

    abraço
    krowler

  12. Zarco,

    O corte no número de funcionários públicos é uma alternativa a um corte maior nos salários. Seria necessário um corte entre os 10-20% para restaurar a igualdade com o setor privado. E, tal como o FMI veio a dizer, a diferença é maior nos funcionários públicos pouco qualificados.

    Os valores da indemnização comparativos são relativos, não absolutos. Tirando as diferenças de poder de compra, era cerca de 3 vezes superior.

    Saber onde poupar na educação exige um estudo mais aprofundado, mas digo-lhe, por exemplo, que há disciplinas que nenhum valor acrescentam para o aluno e que apenas foram criadas de forma a absorver o excedentes de licenciados formados nos últimos anos. De qualquer maneira, no global, não lhe sei responder à questão.

    As propinas não são a principal receita das universidades, estando mesmo muito longe disso. Os filhos das classes mais abastadas pagam parte da sua educação, sendo que o resto vem diretamente de impostos. É certo que os pais destes estudantes também contribuem mais, mas não numa proporção suficiente.

  13. Olá Rafael!

    Parto com uma sua consideração:
    "O euro foi uma aventura política, que trouxe vantagens e desvantagens para Portugal. Ficámos presos a uma moeda forte, não ajustada à nossa produtividade, o que destruiu o setor transacionável em Portugal."

    Na minha óptica, não foi e ainda não é este o problema do Euro. A soberania monetária é muito mais do que isso, não é apenas dispor duma moeda mais ou menos fortes para favorecer as exportações.

    Faço-lhe uma pergunta: os tais "agentes económicos" (principalmente os bancos) teriam tido necessidade de recorrer a empréstimos para satisfazer as necessidades de consumo num Portugal fora do Euro se Portugal tivesse ainda a mesma moeda?
    E o Estado português, teria entrado numa espiral de dívida pública insustentável, tal como aconteceu?

    A resposta é: não.

    Rafael, não houve nenhum Portugal que viveu "acima das possibilidades". Houve, isso sim, condições que mudaram, primeira entre todas a entrada na Zona Euro.

    E ver agora as mesmas pessoas que provocaram isso apresentar o tratamento é, no mínimo, caricato.

    Portugal não produz. Ponto.
    Para que Portugal possa produzir é preciso investir. Dado que os privados não têm condições para sustentar um investimento nos moldes necessários (afinal estamos a falar dum inteiro País), é necessário que o Estado seja encarregue desta tarefa.
    O que é impossível não agora, numa óptica de consolidação orçamental, mas também no futuro.

    A actual é a tentativa de cristalizar um relacionamento de forças na sociedade portuguesa (nomeadamente bancos-Estado) e fora dela (Portugal-Euro), enquanto é favorecida a entrada dos privados em âmbitos que deveriam ser uma exclusiva do público. E atenção: quem fala assim não é um "esquerdista" que persegue o sonho dum Estado totalitário e omnipresente. Pelo contrário, defendo e sempre defenderei a livre iniciativa privada.

    "No entanto, recebemos quantias avultadas da UE, que, sendo bem aproveitadas, poderiam ter aproximado Portugal dos outros países europeus"

    Verdade. Mas muitos daqueles que de facto geriram as tais quantias
    ainda estão sentado na Assembleia da República. Um deles até é Presidente da República. Não acha isso um pouco esquisito?

    "Mas a saída, neste momento, destruiria as nossas relações com o exterior e a nova moeda seria desvalorizada a um ritmo galopante, forçando-nos a viver numa situação de quase autarcia (aí o consumo privado cairia a pique)".

    Rafael, sem ofensa, mas estes são axiomas académicos, contra os quais eu poderia apresentar vários estudos no sentido oposto.
    É o mesmo tipo de axiomas que estiveram na base das predições do FMI, desmentidas no passado Outubro.

    Portugal tem que crescer, decidir o que fazer uma vez crescido: se continuar à sombra duma moeda não idónea à própria realidade ou tentar vias alternativas. Que existem.
    Portugal no Euro continuará a ser o que é hoje, lamento.

    "[…] começando a equiparar a nossa economia às restantes no que diz respeito à competitividade".

    Rafael: acha de verdade que Portugal poderá competir cada vez mais com as economias orientais?

    A Italia vivia muito à custa das exportações aquando da Lira. A situação piorou de forma drástica com a entrada no Euro. Este é o futuro de Portugal no Euro.

    "Não entendo qual é o problema de termos capital estrangeiro a controlar empresas a operar em Portugal"

    Eu trabalho em Portugal mas pago os impostos em Italia. Acho ser bastante claro.

    "As propinas não cobrem nem um quinto das despesas das universidades…"

    Percebo, mas pergunto: não acha que aumentar as propinas limitaria ainda mais ao acesso em detrimento dos mais desfavorecido? Porque pensar que aumentar as propinas possa ajudar os mais pobres parece-me um pouco forçado.
    De acordo, pelo contrário, com uma re-definição do modelo de ensino, que é urgente.

    (continua)

  14. (continua)

    …raio de Blogger que não aceita comentários compridos…

    Dizia:

    "A sua definição de político peca por ser ingénua".

    Sem dúvida. Mas apesar de já não ter 20 anos, continuo a pensar que seja importante não esquecer determinados valores. E que seja preciso lutar não para alcança-los (o que é muito complexo) mas pelo menos tentar uma aproximação.

    É por isso que recuso aceitar uma vida de pobreza institucionalizada no Euro (moeda em favor da qual eu também votei na altura: foi a primeira eleição na qual participei).

    Não sei quanto tempo ainda ficarei em Portugal: até pouco pensava de acabar aqui a minha vidinha, agora já não tenho a mesma certeza (há limites até para o masoquismo).

    Mas até lá, gosto de partilhar uma visão alternativa das coisas: porque, além do que é nós contado, há outras realidades. Também e sobretudo no âmbito económico.

    Abraço e obrigado!!!

  15. Não haveria poupança em Portugal para sustentar tanto empréstimo. Das duas uma, ou o Banco de Portugal imprimiria imensa moeda ou, novamente, pediríamos dinheiro ao exterior (ou algo no meio, como é evidente).
    Imprimir demasiada moeda provoca inflação, que acarreta desincentivo ao investimento e à poupança e instabilidade económica. Não é uma política sustentável a longo prazo.
    Pedir dinheiro ao exterior às mesmas quantidades que pedimos seria impossível, porque Portugal não estaria sob a alçada do Euro, logo, à partida, já seria visto com muito mais precaução. Em suma, suportaríamos taxas de juro mais altas e para se suportar os níveis de consumo verificados seríamos forçados a imprimir moeda. Como não imagino o Estado Português a exagerar na emissão de moeda, então nunca teríamos acesso aos níveis de consumo que tivemos. Viveríamos, então, de “acordo com as nossas possibilidades”.

    Haveria, porém, ainda um problema. O nosso tecido industrial (à base de vestuário, têxteis e calçado) entraria, à mesma, em competição com as indústrias das economias emergentes. Teríamos de desvalorizar brutalmente o escudo (mais inflação e menor poder de compra), para impedir o seu colapso. Não me parece que fosse uma medida viável, pelo que julgo que o setor transacionável seria destruído à mesma. E, com níveis de instrução baixos, produtividade do trabalho baixa e pouco acesso a capital, duvido que a economia se aventurasse muito no setor transacionável de alto valor acrescentado. Restaria o não transacionável, o que conduziria a um desequilíbrio externo, já que importamos petróleo e muitos outros bens que são mais baratos de produzir no exterior. Poderíamos levantar mais medidas protecionistas, mas essas implicariam ainda um menor poder de compra. Pôr o Estado a investir diretamente seria aproximar o país ainda mais da autarcia.

  16. As maiores economias europeias que competem com os países orientais diretamente são Portugal, Espanha, Grécia e Itália. O que há de comum nelas? São todas especializadas em têxteis, calçado e vestuário. Uma Alemanha, Holanda, Suécia ou Áustria já não sofrem dos mesmos problemas. Mover Portugal para o setor transacionável de alto valor acrescentado (as exportações recentes integram este grupo) permite que deixe de competir com os países orientais e passe a competir com, por exemplo, os países supracitados.

    É verdade que muitos que geriram os fundos da UE estão na assembleia. Como referi, colocam o próprio bem-estar acima do bem comum, pelo que quaisquer oportunidades de conluio com interesses privados serão aproveitadas por eles. Para evitar estas situações, ou há uma consciência cívica similar à dos países nórdicos ou se tem de diminuir o poder do Estado na economia. O nosso país ainda não atingiu o nível de desenvolvimento social para se optar pelo primeiro cenário (embora caminhe para lá), por isso defendo a segunda opção. No entanto, tal não significa que me revejo em qualquer dos partidos presentes na assembleia.

    Quanto à questão da saída do Euro, há evidência empírica do que falei. Diminui o investimento externo e diminuem as importações (as empresas portugueses seriam obrigadas a garantir os pagamentos), o que conduz a um período de agonia social. A única saída nesta situação seria adotar o modelo sul americano, que não me parece que funcione numa economia desenvolvida como ainda o é Portugal.

    Pelo que escreve, parece-me que desvaloriza os efeitos benéficos do comércio internacional. Uma economia autarcia é inabalável face às vicissitudes da economia mundial, mas as pessoas têm um nível de vida muito abaixo do que poderiam ter. Um país em autarcia é, a uma escala macro, o mesmo que uma pessoa produzir tudo o que consome. Prefere qual?

  17. Olá Max:compreendo…relativizas a possibilidade de medidas muito draconianas na Europa pois aí parece haver "interesses maiores" envolvidos, tais como bancos mundiais,centros de poder, mando e concentração financeira, que "precisariam" estar a salvo sempre, conforme os ditames da globalização de tudo em curso.
    Mas…cada vez que apontas uma nova medida…nada me soa novo. Eu já vi este filme no Brasil, na Argentina, no Uruguai, na Venezuela, na Bolívia, no Equador. E, de certa forma, continuo assistindo a mesma película no Chile, na Colômbia…e ainda no Brasil, na Argentina e nos demais próximos.
    Acreditas que o sistema de privatizações de todas as riquezas daí não vai continuar célere?
    Acreditas, que abusando de um suposto discurso ético de igualdade de oportunidades,os serviços essenciais não sairão todos das mãos do Estado?
    Acreditas que os bens nacionais exportáveis não estarão cada vez mais em mãos estrangeiras, gerando lucros em outros lugares?
    Do meu ponto de vista, o assalto ao funcionalismo público é apenas a ponta do iceberg da desnacionalização do estado, da exacerbação da concentração de renda em empresas globalizadas, e no ensaio de governo mundial.

  18. Continuação: e aí dizes que até pouco tempo pensavas em permanecer até o fim da vida em Portugal, e ora já não tens a mesma certeza..
    E eu me pergunto: existe lugar em algum lugar? Daqui a pouco serão as chamadas convulsões sociais, a repressão, e o silêncio dos vencidos, e o sempre repetido deslocamento dos sobreviventes. A história nos alcança com uma repetição atras da outra, mudando apenas de endereço, parece que nada mais.Desculpa. Abraços

  19. Estas medidas são realmente fabulosas Max, eu como estudante provavelmente iria ver um aumento de propinas?
    Enfim, como um professor meu disse lá para Novembro: "Eu não me costumo enganar muito, e cheira-me que lá para 2013 vão começar a chover pedras nas universidades"

    Espero que nenhuma destas medidas vá para a frente, porque qualquer pessoas com o mínimo do pensamento sabe que isto é no mínimo uma estupidez pura.

    abraço

  20. Rafael disse:

    'Imprimir demasiada moeda provoca inflação'

    Diz o prof. Michael Hudson: ' Quando a I Guerra Mundial estalou em Agosto de 1914, economistas de ambos os lados previram que as hostilidades não poderiam perdurar mais do que cerca de seis meses. As guerras haviam-se tornado tão caras que o dinheiro dos governos rapidamente ficaria esgotado. Parecia que se a Alemanha não pudesse derrotar a França na Primavera, as potências aliadas e central teriam as suas poupanças esgotadas e atingiriam o que hoje é chamado de precipício orçamental (fiscal cliff) e seriam forçadas a negociar um acordo de paz.

    Mas a Grande Guerra arrastou-se durante quatro anos destrutivos. Os governos europeus fizeram o mesmo que os Estados Unidos após o estalar da Guerra Civil em 1861, quando o Tesouro imprimiu o papel-moeda, os chamados greenbacks . Eles pagavam por mais combate simplesmente com a impressão da sua própria moeda. Suas economias não cederam e não houve grande inflação. Isso aconteceu só após o término da guerra, devido à tentativa da Alemanha de pagar reparações em divisas estrangeiras. Foi o que provocou o afundamento da sua taxa de câmbio, elevando preços de importação e portanto preços internos. A culpa não foi da despesa do governo com a própria guerra (muito menos com programas sociais).

    Mas a história é escrita pelos vitoriosos e a última geração assistiu à emergência dos bancos e do sector financeiro como os grandes vitoriosos. Mantendo os 99% da base em dívida, os 1% do topo estão agora a criar uma teoria económica enganosa para persuadir os eleitores a seguirem políticas que beneficiam o sector financeiro a expensas do trabalho, da indústria e do governo democrático tal como o conhecemos.

    Os lobbystas da Wall Street atribuem a culpa do desemprego e da perda de competitividade industrial aos gastos do governo e aos défices orçamentais – especialmente com programas sociais – e à reivindicação do trabalho em participar da produtividade crescente da economia. O mito (talvez devêssemos chamá-lo teoria económica lixo) é que (1) governos não deveriam incidir em défices (pelo menos, não através da impressão da sua própria moeda), porque (2) a criação de moeda pública e impostos elevados (pelo menos sobre a riqueza) provoca ascensão de preços. Eles dizem que a cura para o mal-estar económico (o qual foi provocado por eles próprios) é menos despesa pública, bem como mais cortes fiscais para a riqueza, a qual eufemizam como "criadores de emprego". Reivindicando excedentes orçamentais, lobbystas dos bancos prometem que estes proporcionarão à economia bastante poder de compra para crescer. Então, quando isto acaba em crise, eles insistem em que a austeridade pode espremer suficiente rendimento para permitir que dívidas do sector privado sejam pagas.'

    E sobre a austeridade dizem os técnicos do FMI, Jaromir Benes e Michael Kumhof, que sugiro ao Rafael que leia.

    http://www.resistir.info/financas/plano_epico_21out12.html

    abraço
    Krowler

  21. Olá Rafael (mas também aos outro)!

    Uma economia baseada na autarcia é algo ultrapassado pela História. Ser anti-globalista, como eu sou, não significa ser contrário ao comércio internacional.

    Mais: acredito fortemente que o futuro da Europa, Portugal incluído, passe obrigatoriamente por uma união, não como escolha mas como questão de sobrevivência e desenvolvimento. Simplesmente não "esta" união (eu gostaria duma forma federalista, mas este é outro discurso).

    Portugal fora do Euro? Discurso complicado. Esta escolha implicaria mudanças radicais, sobretudo que tudo até hoje foi feito para que não pudesse existir uma alternativa.
    E nem acredito que tal será uma escolha no futuro, não por causa de problemas implícitos na escolha mas por falta de vontade política.

    "Imprimir demasiada moeda provoca inflação, que acarreta desincentivo ao investimento e à poupança e instabilidade económica".

    Num dos primeiros post deste blog o foco está posto mesmo neste assunto: demasiada moeda em circulação provoca inflação.
    Todavia, após pesquisas, não estou tão certo.

    O caso dos EUA, por exemplo: vamos no 4º Quantitative Easing e não há qualquer recaída na inflação. E o comentário de Krowler (que agradeço) vai no mesmo sentido.

    Quanto ao facto de não haver em Portugal suficiente poupança.
    No ano passado, cúmplice uma campanha de informação em Italia, decidi aprofundar o discurso do défice e fiquei convencido: o défice estatal não apenas não constitui um problema mas é necessário.

    Não podemos pensar num investimento privado que sustente um profundo desenvolvimento nacional simplesmente porque não é tarefa do privado fazer isso: é o Estado. Não com o mecanismo da dívida pública, mas com o défice.

    Neste mesmo blog, lembrei mais do que uma vez o caso italiano: um País com um défice enorme na década dos anos '80, mas que naquele mesmo período encontrou um dos pontos mais altos da própria economia. E seria também possível falar novamente dos EUA, os quais aumentaram o défice de forma quase constante desde a independência.

    A chave do discurso é a criação do dinheiro por parte do Estado, algo que o sistema Euro não permite. Sem a emissão de dinheiro próprio, Portugal nunca terá a possibilidade de melhorar a própria situação, pela simples razão que não produz e nunca poderá produzir de forma suficiente para que possa ser desenvolvido um sistema de investimento privado (e, como lembrado, não é tarefa dos privados decidir os planos de investimentos nacionais).
    Mais: também as poupanças privadas estarão cada vez mais reduzidas. Não tanto por causa dos cortes salariais, que nesta óptica têm efeitos de curto prazo, quanto pelo facto que o Estado português será obrigado a empregar o pouco dinheiro disponível no funcionamento da já reduzida máquina estatal, não sobrando muito para as outras necessidades. Pensar num Estado que colecta 100 (com taxas, impostos, etc.) e dá 100 apenas para o próprio funcionamento ou os poucos serviços, significa pensar num Estado que subtrai oxigénio aos cidadãos.

    (continua)

  22. (continua)

    A situação portuguesa é esta: a tentativa de reduzir ao máximo as despesas estatais para que o pouco dinheiro disponível possa ser suficiente para manter em vida o sistema. E o futuro será igual: dado que Portugal não terá moeda própria e ao mesmo tempo não desenvolverá uma capacidade produtiva suficiente, dependerá sempre dos empréstimos (que significam juros), pois sabemos que na verdade as entradas fiscais representam apenas uma parte do montante necessário para o funcionamento do sistema Portugal.
    Quem ver o equilíbrio como uma virtude ficará sem dúvida satisfeito, mas neste caso a diferença é entre mera sobrevivência e desenvolvimento.

    Vou fazer um exemplo prático.
    Poucos antes da crise, o governo socialista (a propósito: neste blog, tal como na vida real, não defendo nenhum dos partidos presentes na Assembleia da República) o governo socialista avançou com o projecto dum novo aeroporto na Zona de Lisboa. Apesar de tudo, não era uma ideia estúpida. Porquê? Porque o governo espanhol tinha planos para tornar Madrid na "porta para a América Látina". A sorte de Portugal foi (e ainda é) a grave crise económica espanhola, porque caso contrário, o trafego para a América do Sul já teria começado a mudar de rumo.

    Na altura, em Portugal, grandes gritos acerca das despesas faraonicas. Verdade, exemplos de despesas inoportunas não faltam: mas seria necessário de vez em quando distinguir entre "despesas" e "investimentos". Além da questão segurança (acho Portugal o único País europeu com um aeroporto internacional no centro da capital), haia um discurso de médio e longo prazo que não foi recebido: na altura, o Estado português estava prestes à fazer o que um Estado deveria fazer: investir (tudo bem, depois podemos discutir acerca do inevitável clientelismo que isso teria implicado, mas esta é uma questão ligada aos brandos costumes e nada tem a ver com a vertente económica).

    Agora o projecto aeroporto parece definitivamente enterrado (a propósito: com esta escolha foram também perdidos os financiamentos europeus). Mas cedo ou tarde a questão deverá ser encarada: porque a Espanha não ficará em crise eternamente e Portugal, com uma política de equilibrio orçamental (falta de oxigénio), não será capaz de enfrentar os custos. Não será capaz pela simples razão que não há só o aeroporto: haverá também outros projectos de investimento essenciais para que o País fique competitivo.
    Sem capacidade para emitir moeda, com um limite até constitucional do rácio PIB-Défice, com o baubau da dívida pública: quantas hipóteses de desenvolvimento terá o País?

    Neste caso, "desenvolvimento" faz rima com "competitividade". Pois não é imaginável ser competitivos sem uma constante renovação das infraestruturas (e, no caso português, muitas vezes não de restruturaçõ mas mesmo de criação deve falar-se). Apostar nas exportações e depois limitar a capacidade de investimento-desenvolvimento do País é uma opção que me deixa estupefacto.

    (continua)

  23. (continua)

    Trata-se duma escolha: desejam os Portugueses optar por décadas de mera sobrevivência (com todos os riscos que isso acarreta) ou tentar algo que possa significar mais do que isso?

    Apostar nos bens transaccionais é uma solução? Nesta altura sim, como demonstra o estudo João Amador/Ana Cristina Soares: há espaço o para melhorar a competitividade portuguesa neste aspecto.

    Mas atenção: as economias orientais estão a evoluir e a imagem da loja chinesa que vende artigos baratos e de baixa qualidade já não espelha a realidade. Ao lado do meu ecrã tenho um smartphone Huawei, um excelente produto e de concepção/produção inteiramente chinesa. Algo impensável até poucos anos atrás. Não será o caso de ficar surpreendidos em ver produtos téxteis chineses de boa factura e preço médio nos próximos tempos: Portugal não é o único País que mira a uma expansão dos próprios produtos de alto valor acrescentado.
    Já agora, é interessante realçar como a maior parte dos têxteis vendidos nas lojas turísticas em Portugal (os famosos "bordados" das ilhas) são produtos chineses (vendidos como se fosse artesanato local, o que é evidentemente uma fraude. Note-se que não falo por "ter ouvido" mas por experiência pessoal directa). Não são de alto valor acrescentado, sem dúvida, mas demonstra mais uma vez a) a capacidade oriental em fazer próprias as técnicas ocidentais e b) o alucinado estado da economia portuguesa que já nem consegue competir em sectores que deveriam ser próprios.

    "A única saída nesta situação seria adoptar o modelo sul americano, que não me parece que funcione numa economia desenvolvida como ainda o é Portugal."
    Exacto: "ainda". Mas acho importante pensar no "depois". E o "depois" não é risonho neste aspecto, as razões forma explicada acima.

    Sem adoptar um modelo sul-americano, Portugal poderia desfrutar a própria posição geográfica e um bem comum como o idioma para propor-se qual partner de excepção entre os Países de língua portuguesa. Porque se a economia não brilhar, é verdade também que em facto de know how Portugal possui muito que pode ser exportado (e é uma pena que muitos Portugueses não tenham consciência disso).

    Mas este é um assunto extremamente complexo, que implica um eventual (e, acho, impossível) abandono do Euro.
    Fica portanto a promessa: em breve vamos ver, aqui no blog, como sair do Euro e viver felizes.

    (nota: devem faltar alguns acentos no texto, é que escrevi no WordPad o qual decidiu que não era altura para utilizar o corrector ortográfico. Peço esculpa)

    Abraçoooo!

  24. Já vivemos o tempo das "vacas gordas", agora é o tempo das "vacas fracas" passamos do tempo da abundância ao tempo da escasez.

  25. Max,
    debate interessantíssimo.
    Mas gostaria de saber o que você entende por "o modelo sul americano"??

    Grato.

  26. Max e Krowler,

    Reparem que eu falei em “demasiada moeda”, não apenas em “moeda”. É perfeitamente possível que o Estado esteja a introduzir grandes quantidades de moeda no mercado e haja deflação, especialmente durante períodos de recessão. Quando falei em “demasiada moeda”, referia-me a emitir moeda de forma recorrente, de maneira a promover o crescimento económico. Aí, garanto-vos que haverá inflação galopante mais cedo ou mais tarde. Basta olhar para a política cambial portuguesa durante os anos 70 e 80, que desvalorizava mensalmente o escudo, provocando taxas de inflação a rondar os 10-25%.

    A guerra é um fenómeno conhecido por diminuir rapidamente o poder de compra da população. É falsa a ideia de que só houve inflação na primeira guerra mundial na Alemanha: essa foi apenas muito mais grave, devido às razões que mencionou. Todos os outros países experimentaram períodos inflacionários bem acentuados durante a primeira, mas também a segunda guerra mundial. Aliás, os níveis de inflação dos estados do norte e do sul durante a guerra civil americana foram altíssimos.
    Os preços aumentam de tal forma, que os Estados se veem obrigados a racionalizar os bens de consumo pela população, ou de fixar preços máximos (o que vai dar ao mesmo). Como consequência, o nível de vida da população diminui drasticamente.

    Os Estados Unidos foram alterando diversas vezes os métodos de cálculo da taxa de inflação, pelo que devemos colocar um ponto de interrogação nos números que publicam. Há dados que apontam que, nos últimos anos, os EUA tiveram taxas de inflação a rondar os 8-12%.

    Aquilo que está a defender é similar às políticas do anterior governo socialista, à exceção de que o Estado criaria a sua própria moeda para se financiar.
    Primeiro de tudo, é exatamente o tipo de políticas que descreveu que provoca inflação.
    Segundo, ignorar os “brandos costumes” por não achar que têm a ver com a vertente económica é um erro. São eles que transformam um plano de crescimento planificado num fracasso. A título de exemplo, antes de aparecer a Troika, a construção civil, arrisco-me a dizer, tinha o maior lobby em Portugal. Grande parte dos deputados na AR estava, de alguma forma, ligados à administração de grandes empresas de construção. Como resultados, foram desperdiçados milhares de milhões de euros em investimentos que pouco ou nenhum retorno trouxeram para o país. Situações destas são comuns, quando o Estado tem demasiado poder na economia. E um Estado que recolhe 100€, nunca terá 100€ para gastar. Pelo caminho, há custos administrativos e perda de eficiência económica.
    Terceiro, esse tipo de investimentos enviesa-se, tipicamente, para o setor não transacionável (ex: obras públicas), no qual o nosso país simplesmente não pode basear a sua economia sem se endividar no exterior.

  27. Rafael,

    No link que coloquei acima refere-se:

    'Há uma varinha mágica, afinal de contas. Um documento revolucionário editado pelo Fundo Monetário Internacional afirma que seria possível eliminar a dívida pública líquida dos EUA de uma penada e, em consequência, fazer o mesmo à da Grã-Bretanha, Alemanha, Itália ou Japão. O documento do FMI diz que o truque é substituir o nosso sistema de moeda criada pela banca privada.

    Poder-se-ia cortar dívida privada em 100% do PIB, promover crescimento, estabilizar preços e destronar banqueiros, tudo ao mesmo tempo. Isto poderia ser feito de modo limpo e indolor, por ordem legislativa, muito mais rapidamente do que se poderia imaginar.

    O truque é substituir nosso sistema de moeda criada pela banca privada – aproximadamente 97% da oferta monetária – por moeda criada pelo estado. Retornarmos à norma histórica, antes de Carlos II ter colocado o controle da oferta monetária em mãos privadas com o English Free Coinage Act de 1666.

    Especificamente, isto significa um assalto à "reserva fraccionária da banca". Se os prestamistas forem forçados a providenciar 100% de reservas para dar respaldo a depósitos, eles perdem o privilégio exorbitante de criar moeda a partir do nada.'

    É um texto sobre o famoso Plano de Chicago Revisitado disponível no site do FMI no link:

    http://www.imf.org/external/pubs/ft/wp/2012/wp12202.pdf

    Este estudo tem feito correr muita tinta por esse mundo fora, mas parece que em Portugal quase ninguem ouviu falar.

    Relativamente à politica monetária, a mim parece-me ser este o caminho.
    No entanto, nem todos podemos vislumbrar as coisas pelo mesmo angulo.

    abraço
    Krowler

  28. Breve resposta para o Anónimo:

    Nesta discussão, acho que o modelo sul-americano em análise seja o modelo argentino.

    Um modelo implementando pela Presidente e bastante polémico, cujos resultados é difícil avaliar sobretudo por quem, como nós, consegue a maior parte das notícias a meio dos media mainstream.

    Pode encontrar bastante material acerca do caso Argentina aqui no blog.

    Obrigado e um abraço!

  29. Krowler,

    Trocar o sistema de reserva fracionária pelo sistema de reserva total tem consequências. É verdade que os bancos ganham mais com o sistema fracionário e preferem-no, porém eles ganham, porque o sistema permite-lhes emprestar mais dinheiro. Esse dinheiro que não foi emprestado iria para alguém e iria ser utilizado para alguma coisa. A situação precária atual dos portugueses deve-se mais à influência da banca, ao não emprestar dinheiro, que à austeridade imposta pelo governo. O crédito tem uma função útil na economia.

    Agora, é verdade que o sistema de reservas total limita a inflação, dá mais controlo ao governo na impressão de moeda e, em último caso, previne até a criação de bolhas na economia. No entanto, o sistema de reservas fracionário permite que haja muito mais crédito na economia e é regulado exatamente por ser mais instável.

    Qual prefiro? Sinceramente, não sei.

Obrigado por participar na discussão!

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