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Filhos de gays

Pego num comentário de Maria para lançar um assunto polémico.
O comentário:

me parece que qualquer expressão de sexualidade, erotismo e prazer queridas pelos envolvidos/as e não vividas como negócio,seja algo bom e saudável, humanamente ético, manifestação da ainda capacidade humana de trocar formas de amor, compartilhamento e felicidade.

Será?
Para evitar comentários indesejados: não julgo a pessoas com base na orientação sexual delas, acho que isso pertence à esfera da privacidade e, como tal, fica unicamente ao sabor do directo interessado. Ponto final.

Mas será possível discutir do assunto “casais gays – adopção” sem ser acusado de racismo ou de outra amenidade?

Os defensores da homossexualidade afirmam que tal prática é muito antiga, o que é bem verdade. O ensino católico tentou sem sucesso apagar as tendências sexuais “não correctas” das passadas sociedades, mas a verdade é que estas foram encaradas com relativa normalidade até o primeiro Renascimento. Apenas nos últimos séculos os valores religiosos conseguiram relegar a homossexualidade para o Inferno, antes não era assim.

Todavia a questão aqui não é a homossexualidade quanto o facto dum ser humano ser criado no seio duma família homossexual. Se viver com um parceiro do mesmo sexo é uma livre e consciente escolha das duas pessoas envolvidas, o mesmo não pode ser dito em relação a uma criança.

E aqui que aparecem as minhas dúvidas.
Diz Maria:

Quanto a uniões estáveis de mesmo sexo com filhos adotados, me pergunto o que possa ser melhor para uma criança de rua, as milhares desse nosso terceiro mundo: o afeto e a proteção de um casal gay, ou o abandono e a solidão da rua. Não sei a resposta porque não fiz a pergunta a quem de direito.

É claro que é melhor viver numa família gay do que no meio duma rua. Mas seria errado pensar que todas as crianças adoptadas sejam potenciais “desgraçados” obrigados a viver num eterno sofrimento.

As várias leis aprovadas pelo mundo fora não especificam que os casais gays podem apenas salvar os casos desesperados (e ainda bem: não faria sentido uma coisa desta), afirmam apenas que um casal homossexual pode legitimamente adoptar um filho. Isso significa que serão adoptadas por casais gays também crianças que poderiam ter a possibilidade de acabar numa família “normal” (com aspas).

Eu tenho como termine de comparação a Natureza. E não sei se na Natureza existem casais homossexuais que criam filhos, mas duvido. Em qualquer caso, representam a excepção, não a regra. Mais uma vez, necessária distinção entre homossexualidade e famílias homossexuais: a homossexualidade existe na Natureza e tem uma precisa função no âmbito hierárquico. Mas as famílias do mesmo sexo?

Então pergunto: se na totalidade (ou na “quase” totalidade) dos casos a Natureza não prevê casais homossexuais, isso não significará alguma coisa? Relacionamos esta consideração com os casais gays que adoptarem um filho: a criatura em questão terá um desenvolvimento absolutamente “normal”, em linha com o que a Natureza quer?

Insisto mais uma vez neste aspecto “natural” porque acho hipócrita ser paladino da Natureza num caso e ignorar os exemplos que a Natureza oferece quando for altura de seguir a “onda”. Há pessoas que choram com a morte duma árvore porque “a Natureza foi violada”, para depois defender que a homossexualidade é uma componente intrinsecamente natural da nossa espécie.

Lamento, não é. Como todas as espécies, temos como fim a procriação e, neste aspecto, a homossexualidade é um fracasso, pois não permite a tal procriação. É por isso que homem e mulher apresentam particulares anatómicos diferentes, não é um simples acaso.

Dito isso, não podemos esquecer que vivemos num sociedade evoluída, onde o objectivo já não é apenas a continuação da espécie. Neste aspecto a homossexualidade torna-se antes “aceitável” e depois “normal”: acho ser esta a fase actual. Para utilizar as palavras de Maria: a “capacidade humana de trocar formas de amor”. Um capacidade não apenas humana, diga-se.

Somos parte duma espécie de sucesso e é verdade que este sucesso foi alcançado seguindo uma atitude heterossexual. Mas a espécie é hoje ameaçada pelas próprias escolhas auto-destruidoras e com certeza não pela componente homossexual. Além disso, podemos ver uma sociedade evoluída como aquela onde o indivíduo pode livremente seguir os próprios instintos sexuais, sem ser perseguido por causa destes.
Concordo.

Mas tudo isso significa falar da homossexualidade vivida como “escolha” (entre aspas), não imposta pelo facto de ser adoptado por uma família gay. A questão da adopção vai muito além disso: não envolve uma ou duas pessoas consencientes mas uma terceira, incapaz de escolher.

É neste ponto que gostaria encontrar alguém que me explicasse (a mim e a todos os Leitores que eventualmente compartilhem as mesmas dúvidas) que não, de facto não há problema nenhum, que um filho dum casal gay pode crescer com os mesmos suportes oferecidos ao filho dum casal não gay; que não haverá falta duma figura materna ou paterna; que não terá por sua vez tendências homossexuais mas terá a plena capacidade de desenvolver uma sexualidade própria, não influenciada pelo modelo no qual foi criado; e que no futuro será capaz de ser um pai ou uma mãe com todas as prerrogativas destas figuras, as quais não limitam-se a “dar amor”, as funções são muito mais complexas do que isso.

Ficam fora da questão os valores, não é isso que interessa neste caso. Seria preciso dedicar espaço para este tema também, mas isso levaria muito longe, num percurso obscuro e delicado onde poderia ser encontrada a tentativa (bem sucedida, ao que parece) de destruir valores milenários e, com estes, as bases da nossa sociedade. Com fins bem poucos simpáticos. E é pena que a questão homossexual possa ser explorada para estes mesmos fins.

Repito, pois faço questão disso ficar muito claro: pessoalmente nada tenho contra os homossexuais e quem conhece a minha história pessoal sabe que esta afirmação tem abundantes provas dadas. O cerne da questão (este “cerne” faz-me sempre lembrar um peixe) é aqui a criança de hoje e o homem ou mulher de amanhã. É a tal criança crescida no “abandono e a solidão da rua”, que merece as mesmas possibilidades das outras crianças, as que tiveram mais sorte.

Porque uma criança não está interessada no “politicamente correcto” ou nas nossas posições ideológicas, quer apenas crescer no amor (e isso, como afirmado, é algo que os casais gays sem dúvida oferecem) e nas melhores condições possíveis. E fazer parte duma família que oferece amor não é tudo: podemos oferecer amor a um gato ou um cão, mas ser pais significa também transmitir muito mais do que isso.

Estas são as minhas dúvidas, não certezas. O blog não costuma tratar do assunto simplesmente porque, como escrevi há tempo, “A sexualidade é um assunto pessoal e cada um deve tratar dele, sem as opiniões dos outros”. Mas o nível dum sociedade deve também ser avaliado pela forma como lida com os seus filhos e pelas condições que oferece às futuras gerações: por isso acho o assunto fazer sentido neste caso.

Agora a palavra aos Leitores.

Ipse dixit.