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A Alemanha em recessão

Não há nada a fazer: quem sabe, sabe. E os outros têm que ouvir.
O que dizia o simpático George Soros? 4 de Junho de 2012, artigo A Magia de Soros:

Mas a crise no Outono vai chegar na Alemanha.

Soros sabe? Notícia dos últimos dias: a Alemanha entrou oficialmente em recessão.
Escrevia na altura o humilde blogueiro:

No entanto temos uma previsão importante: a crise na Alemanha durante o
próximo Outono. Algo para impressionar a plateia? Nada disso, Soros não
precisas destas coisas: esta é uma autêntica previsão, de quem já
conhece quais as próximas movimentações no mercado.

Pequena correcção: não “quem já conhece quais as próximas movimentações no mercado” mas “quem é o mercado”. Soros sabe simplesmente porque é um daqueles que puxa os cordéis, tão simples como isso.

Na verdade, um punhado de analistas nos últimos dois meses tinha cheirado alguma coisa: de vez em quando, meias palavras no Financial Times, Bloomberg ou Market Monetarist, do tipo “mas atenção, porque a Alemanha também…”. Só que ninguém lavava à sério. A Alemanha? Não, impossível. Pedem sacrifícios, austeridade aos que “viveram acima das possibilidades”, mas eles não, eles são virtuosos, a locomotiva da Europa.

Acontece que a locomotiva descarrilou.  

Mas que se passa em Berlim? Várias coisas. Mas para ter uma ideia geral do “Milagre Alemanha” pode ser útil uma olhada ao conteúdo de O milagre alemão: a história não contada neste blog. E se alguém quisesse mesmo sofrer, pode sempre ler a fonte do post: Real wages in Germany. Numerous years of decline. Weekly report 28/2009, German Institute for Economic Research de Karl Brenke (ficheiro Pdf, em Inglês), que analisa impiedosamente a situação salarial dos trabalhadores alemães.

E que diz a analise impiedosa? Diz algo que o meu avô já dizia: sem dinheiro não há compras. Pagas os trabalhadores com um prato de lentilhas? E estes só o prato de lentilhas poderão gastar, nada mais.
Ou, dito de outra forma: austeridade gera austeridade e nada mais.

Agora também na Alemanha perceberam isso.
A notícia oficial é de ontem, o governo alemão admite que a economia do País trava, aliás, já travou, não há crescimento, as exportações estão em queda, as encomendas mesma coisa, os indicadores industriais choram, os gastos por parte dos cidadãos ausentes.

O monstro virou-se contra o próprio criador. Os Alemães conseguiram destruir as economias da Europa do sul, parabéns: mas eram estas economias que adquiriam uma grande parte dos bens exportados. Destruíram os próprios clientes. É obra.
A paralisia dos Estados da área mediterrânica (parem os investimentos estatais, meus senhores, vamos alegremente inserir um limite constitucional para a Dívida Pública, porque a Dívida é má. Eis os resultados) significa a paralisia do Made in Germany. Tão simples como isso.

Howard Archer, analista do IHS Global Insight, escreveu ontem:

A austeridade da Zona Euro sufoca a procura, limita o poder de compra dos rendimentos e aumenta o desemprego.

E Archer não é propriamente um sindicalista.

Não satisfeitos, na Alemanha continuam: o parlamento de Berlim, no passado dia 25 de Outubro, decidiu cortar mais um bocado os salários. 6.4 biliões de Euros de cortes, dinheiro que desaparece dos bolsos dos cidadãos e fica nos cofres das empresas. Porque, do ponto de vista destes pseudo-economistas, a empresa que produz deve ser favorecida. Sem dúvida, a pacto que depois seja a mesma empresa que adquira quanto produzido, porque se o cidadão não tiver dinheiro, quem compra?

Normal. Os economistas no governo da Alemanha são exactamente iguais aos economistas dos outros Países “austerizados”, tal como o mágico Vítor Gaspar em Portugal (o “Salazarinho”, como é definido por alguns. O “Salazarinho” um paio di coglioni, dito em bom italiano: Salazar tomou um País em recessão e conseguiu resgata-lo, este desgraçado tomou um País que não estava em recessão e conseguiu deprimir a economia toda!): pequenas máquinas robotizadas, que conhecem 4 fórmulas, não percebem como funciona a vida real nem têm que perceber isso, pois o trabalho deles é limitar-se a receber e aplicar as directivas de outros (o acrónimo FMI diz alguma coisa?).

E estas não são conclusões de Informação Incorrecta, são os dados assustadores dos Países que casaram (ou melhor, foram obrigados a casar) a austeridade: a austeridade na Grécia gerou nova austeridade, a austeridade em Portugal gera nova austeridade. Estes são factos, não teorias.
E agora um grande abraço para a recém chagada, a Alemanha.

É justo que assim seja.

Ipse dixit.

Fontes: The New York Times, CNN Money