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Aquecimento Global? Com certeza, talvez não.

Eis um artigo que desejava publicar há uns tempos mas que só agora aparece. Motivo do atraso: falta de dados científicos de confiança.

Vamos abandonar o mundo da economia e falemos de outro assunto: o aquecimento global é uma realidade?

Muitos entre os Leitores acham que a resposta é “não” e também eu tenho não poucas dúvidas. Há dados contrastantes: dum lado temos por exemplo o degelo anómalo da Gronelândia (dois artigos acerca do assunto: Kafe Kultura 1 e 2), do outro lado temos quem afirma que o Global Warming é uma invenção (sem esquecer também a experiência pessoal: desde que cheguei em Portugal os Verões ficaram mais “frios” e este último não é uma excepção).

Surge agora um estudo que parece apresentar os requisitos para merecer confiança. Ao longo de cinco anos, um grupo de cientistas americanos (um grupo bastante numeroso, diga-se) desenvolveu uma análise para avaliar a precisão dos dados fornecidos pela rede NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration, organização que trata de meteorologia, oceanos, atmosfera e clima), a base dos estudo apresentados pelo IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change, organização da ONU que estuda o aquecimento global, no centro do Climagate).

Os resultados são surpreendentes.
Ou talvez não.

E, na mesma altura, das colunas do New York Times eis as confissões dum anti-aquecimento arrependido: também neste caso estamos perante um cientista que dedicou boa parte da sua vida profissional ao estudo do assunto. Também aqui temos um grupo de pesquisadores que seleccionaram os dados obtidos tendo como fim aperfeiçoar os resultados.

Duas equipas, duas metodologias “científicas”, dois resultados diametralmente opostos? Assim parece.
Vamos ver.

Próxima paragem: a Idade do Gelo

O método utilizado pela pesquisa foi o Meteo-France, considerado hoje em dia o mais válido para avaliar a idoneidade dos locais onde efectuar as medições da temperatura.
Idoneidade que depende de vários factores, tal como a proximidade de fontes urbanas de calor, aeroportos, a diferenciação entre zonas rurais e agrícolas, a correção utilizada para tornar homogéneos os dados.

Mais: outro ponto de força da pesquisa, além da preparação dos investigadores e da metodologia utilizada, é o facto dos resultados serem tornados públicos ainda antes de serem publicados nas revistas especializadas, de forma que toda a comunidade climatérica internacional possa avaliar e opinar acerca do estudo.

Os resultados são impressionantes e podem ser resumidos desta forma: o andamento do aquecimento nos Estados Unidos precisa duma profunda revisão, pois os dados recolhidos durante o período 1979-2008 (os dados do NOAA) foram alterados por causa duma metodologia errada.

Mais em pormenor: utilizando unicamente os dados dos locais mais idóneos, o aquecimento resulta ser 0.155ºC por década. O mesmo dado é 0.248 ºC quando forem considerados também locais não particularmente propícios; aplicando a correção utilizada pelo NOAA (e errada) o valor alcança 0.309ºC.

No mapa Resultados 1 a subida das temperaturas segundo os dados do NOAA e após as correções para a homogeneização; em Resultados 2 os dados obtidos com os pontos de medição de menor confiança; em Resultados 3 os dados obtidos utilizando pontos de medição não corrompidos por fontes de calor artificial.

Dito de outra forma: o aquecimento baseado nos locais de medição idóneos baixa drasticamente o fenómeno. Os pesquisadores acham que o mesmo discurso pode ser aplicado ao resto do mundo.

Este estudo complementa outro, publicado no passado Julho pela revista Nature, de autoria de pesquisadores europeus, os quais analisaram árvores sub-fosseis conseguindo reconstruir o andamento das temperaturas com assinalável precisão até o ano 138 a.C.
O grupo descobriu que os valores da temperatura relativos aos períodos romano e medieval até aqui considerados eram demasiado baixos: na verdade, nos últimos 2.000 anos o andamento geral das temperaturas parece estar em queda, com uma média de -0.3ºC por milénio.

Mais uma vez, são resultados que põem em dúvida as afirmações do IPCC, o qual tenta prever o futuro climatérico com base em modelos matemáticos, sem considerar com a devida atenção os dados históricos.

Este o gráfico que condensa os dados da pesquisa:

Interessante realçar como sejam parecidas as décadas actuais com aquelas que anteciparam o aquecimento da Idade Média e com as variações que antecederam a “Pequena Idade do Gelo” (1400 – 1850 d.C.); obviamente neste último caso a variação é invertida.

E, dado mais importante entre os outros, o andamento parece fora de questão: o planeta está a arrefecer.

Vamos assar. E a culpa é nossa.

Richard R. Muller é um físico da Universidade de Berkeley, Califórnia: até bem pouco tempo atrás estava convencido de que o aquecimento global não fosse uma realidade, sobretudo se observado do ponto de vista das poluições humanas. Mas no passado 28 de Julho afirmou:

O aquecimento global é uma realidade…os seres humanos são quase inteiramente responsáveis.

O que pode ter desencadeado uma tão radical mudança de opinião? Vamos ler alguns trechos do artigo hospedado nas páginas do New York Times:

Podem chamar-me um cético convertido. Três anos atrás identifiquei alguns problemas em estudos anteriores que lançavam sérias dúvidas sobre a existência do aquecimento global. No ano passado, como resultado de um esforço de pesquisa intensa, envolvendo dezenas de cientistas, conclui que o aquecimento global era real e que as estimativas anteriores da taxa de aquecimento estavam corretas. Agora vou mais além: os seres humanos são quase inteiramente a causa.

A minha marcha atrás num período de tempo tão curto é o resultado duma cuidadosa e objectiva análise, através do projecto Berkeley Earth Surface Temperature. Os nossos resultados mostram que a temperatura média da terra é aumentada em um grau Celsius e meio nos últimos 250 anos, incluindo um aumento de 0,9 graus nos 50 anos mais recentes.

Além disso, é provável que, essencialmente, todo este aumento resulte do problema das emissões humanas de gases com efeito de estufa.

Estes resultados são mais sólidos do que os do IPCC, o grupo de trabalho da ONU que define o consenso científico sobre o aquecimento global. […]

A nossa abordagem no Berkeley Earth Surface Temperature tem utilizado métodos estatísticos sofisticados, em grande parte desenvolvidos pelo nosso pesquisador chefe, Robert Rohde, que nos permitiu determinar a temperatura das terras muito atrás no tempo.
Temos estudado cuidadosamente as questões levantadas pelos céticos: efeitos sistemáticos provenientes do calor urbano, a escolha de dados, a má qualidade das estações e a intervenção humana para ajustar os dados (o nosso trabalho é totalmente automatizado e não sujeito a operador). Nos nossos artigos temos demonstrado que nenhuma destas potenciais fontes de problemas tem causados ​​influência sistemática indevida nas nossas conclusões.

[…] O que causou o aumento gradual mas sistemático de um grau e meio? Tentámos combinar a forma da curva com simples fórmulas matemáticas (polinomial, exponencial), com a actividade solar e até mesmo com o crescente aumento da população do mundo. De longe, a melhor correspondência foi com a série de dados sobre o dióxido de carbono na atmosfera, medido pela recolha de ar atmosférico preso no gelo polar.[…]

Quanto é definida a atribuição aos seres humanos? A curva do dióxido de carbono proporciona uma melhor correspondência do que qualquer outra coisa que tentámos. O seu tamanho é consistente com o efeito de estufa calculado, o aquecimento aumentado pela radiação térmica aprisionada. Esses factos não provam a casualidade, […] os nossos resultados são baseados simplesmente na concordância entre a tendência observada para o aumento da temperatura e o aumento de gases de efeito estufa conhecidos.

Ser oportunamente cético é um dever do cientista. Eu ainda vejo muito, se não a maioria, do que é atribuído à mudança climática ser especulativo, exagerado ou apenas totalmente errado. Analisei algumas das declarações mais alarmistas e o meu ceticismo sobre elas não mudou.

O furacão Katrina não pode ser atribuído ao aquecimento global. O número de furacões que atingem os Estados Unidos diminuiu, não aumentou, idem para os tornados intensos. Os ursos polares não estão a morrer por causa do desaparecimento do gelo e as massas geladas do Himalaia não estarão derretidas antes de 2035. E é possível que nós não tenhamos actualmente mais calor do que tínhamos há mil anos atrás, durante o “Período Quente Medieval”, uma série de condições quentes conhecidas por evidências históricas e circunstanciais, tais como os anéis das árvores. E acontece que o recente “feitiço” quente nos Estados Unidos é mais do que compensado pelo resfriamento em outros lugares do mundo, assim o seu vínculo com o aquecimento “global” é muito menos do que ténue.
[…]

Quatro dos nossos artigos têm sido objecto de análise extensiva pela comunidade científica, e o mais recente, um artigo com a análise da componente humana, é agora publicada no site com os dados e os programas de computador utilizados. Esta transparência é o coração do método científico, se você encontrar incoerentes as nossas conclusões, diga-nos acerca de qualquer erro de análise ou de dados.

Conclusão: vamos assar numa Idade do Gelo?

Moral: estamos perante dois estudos, ambos desenvolvidos por conceituados investigadores, os quais utilizam metodologias que tendem a reduzir ao máximo os erros de medição e de interpretação. Longe de viabilizar uma identidade de visão, isso permite que sejam alcançadas conclusões diametralmente opostas.

E quem, como eu, nada percebe do assunto, fica com a dúvida. Principalmente uma.

Não considerando motivações que exulam do âmbito da pesquisa (pois sabemos que o aquecimento global é um negócio de enormes proporções), a impressão é que na comunidade científica não haja concordância acerca de como recolher os dados e, sobretudo, de como interpreta-los.

A verdade é que ainda hoje não sabemos dar uma explicação para as várias idades do gelo que o planeta atravessou; da mesma forma, ficam para descobrir as motivações da época quente da Idade Média e do que pode ter acabado com a “Pequena Glaciação” nos meados do 1800. Em poucas palavras: não entendemos os profundos mecanismos que regulam o clima do planeta ao longo das eras.

Esta é uma peça fundamental. Não é por acaso que os investigadores dedicam muitos esforços à interpretação do clima do passado: perceber o padrão significa poder aplicar o mesmo nas prospecções para o presente e o futuro, e descobrir assim eventuais desvios do modelo padrão.

E a questão do dióxido de carbono?
Elevados níveis de CO2 não significam mais calor, pois não é apenas o dióxido de carbono que determina o clima. No Siluriano-Ordoviciano (488 milhões e 300 mil e 443 milhões e 700 mil anos atrás) e no Jurássico-Cretáceo (161 milhões e 200 mil e 99,6 milhões anos atrás), os níveis de CO2 eram particularmente elevados, em muito superiores aos actuais; mesmo assim, ambos os períodos foram caracterizados por glaciações.

Fonte: Wikipedia

Neste caso, a explicação é que a actividade solar era mais fraca, o que aumentou os níveis de CO2 necessários para reter o calor e gerar assim um efeito estufa.
De facto, o Sol parece desenvolver um papel preponderante no desenvolvimento climatérico do nosso planeta.

E como está agora o Sol? Eis um dos tantos problemas: o aquecimento global e a actividade solar parecem seguir caminhos divergentes. O Global Warming (alegadamente) aumenta enquanto a actividade solar diminui (gráfico à direita). E esta situação persiste há 35 anos.

Então: não é o CO2 sozinho, não é o Sol, é difícil individuar um padrão nos dados do passado, não há convergência de opiniões acerca das metodologias de recolha dados nem da interpretação dos mesmos, a Gronelândia perde o gelo…

O Leitor tem alguma ideia? 

Ipse dixit.

Fontes: Kafe Kultura (1) (2), Nature, The New York Times, Berkeley Earth Surface Temperature, Skeptical Science,
Watts-Jones-Christy: Pre-Print Draft Dicussion Paper (ficheiro Pdf, inglês); Metodologia (ficheiro PPT, inglês); Resumo pesquisa (ficheiro PPT, inglês)