Site icon

Roubini: enforcados?

“Uma tempestade perfeita”, com “montes de banqueiros enforcados nas ruas”.
Se fosse a previsão dum blogueiro qualquer poderia ser tranquilamente ignorada. Mas se em baixo encontrarmos a assinatura de Nouriel Roubini, então a coisa muda.

O Dr. Doom (“Doutor Destino”, como também é conhecido), economista e docente universitário, especializado em análise financeira, é a mesma pessoa que em 2006 alertava o Fundo Monetário Internacional acerca duma iminente crise de proporções globais. E foi também ele que, em 2007, perante os primeiros sinais do fenómeno subprime, disse: é agora.

Na altura simplesmente não foi considerado, hoje é ouvido com extrema atenção. Fácil perceber a razão.

A análise de Roubini é impiedosa, sem saída no horizonte. E focaliza o problema dos problemas:

Nada mudou desde a crise financeira. Os incentivos para os bancos permitir-lhes actuar de forma fraudulenta, ilegal e imoral para fazer: a única maneira para travar isso é quebrar este grande supermercado financeiro.

Nada de códigos de auto-regulamentação reescritos pelas instituições financeiras: Roubini acredita que apenas “sanções penais” poderiam parar a reconstrução do mesmo mecanismo que produziu a crise de 2007:

Se algumas pessoas acabarem na cadeia, talvez seja uma lição.

Porque a alternativa não é simpática e Roubini adverte:

Alguém vai ser enforcado nas ruas.

O facto, tão simples como isso, é que estamos no ponto de partida, na mesma situação um dia antes da falência do banco Lehman Brothers. Parece um século, mas passaram apenas quatro anos, ao longo dos quais nada mudou no mundo financeiro. O que mudou foi no mundo real.

Roubini continua: “2013 será pior do que 2008”, porque “agora temos poucas contra-medidas.”: de facto, “em 2008 era possível reduzir as taxas de juros”, que hoje são quase zero em todos os lugares. Na altura era possível inserir liquidez”, mas hoje isso “está a tornar-se cada vez menos eficaz porque o problema é de solvência, e não de liquidez”. Os devedores não pagam, não têm como fazê-lo, então a circulação do dinheiro fica parada.

E os Estados? Os Estados já não podem salvar ninguém, porque “os défices orçamentais são demasiado grandes” por causa dos resgates de poucos anos atrás. Salvar os bancos privados em 2008 e a seguir teve um custo e este custo é isso: as dívidas foram transferida para os Estados, que agora não podem intervir mais. Tornou-se impossível “para os governos salvar os bancos”, muitos governos  “estão perto de ser insolventes “, como a Grécia e talvez Espanha.

Solução? Haveria uma, adverte o economista. Seria esta: o Banco Central Europeu poderia retardar a explosão global com uma “uma monetização não esterilizada em quantidades ilimitadas”.
Não é apenas inundar o mercado com dinheiro, é tornar dinheiro também activos que nesta altura são apenas papel: a única solução que permitiria aos devedores pagar as próprias contas, afirma Roubini, enquanto o dinheiro voltaria a circular.
Mas o BCE não pode fazer isso, não está previsto nos estatutos do banco, seria “constitucionalmente ilegal”.

Assistimos, portanto, a um ricochete: uma crise começada nos Estados Unidos agora ameaça ré-explodir do outro lado do Atlântico: isso enquanto a economia de Washington ainda tenta absorver (sem sucesso) as consequências da primeira vaga.

Claro que um economista como Nouriel olha também para a economia real. E adiciona um elemento até então ignorado pelos especialistas:

Finalmente, há o perigo de uma possível guerra entre Israel, os Estados Unidos e o Irão, que aumentaria do dobro o preço do petróleo em uma noite.

Eis a síntese dum sistema económico baseado na “ganância” individual em detrimento do bem-estar colectivo: é “obrigado” a explodir “a grande velocidade”.
Quando? Roubini não parece o protótipo do optimismo:

O fundo EFSF-ESM [o fundo europeu de resgate para os Países em dificuldades, isso é, falidos, ndt] deve ser de pelo menos quadruplicado, caso contrário teremos uma grande crise, e não em seis meses, mas nas próximas duas semanas.

Exagerado? Talvez , um bocado.
Mas diziam o mesmo dele em 2007…

Ipse dixit.

Fontes: Economonitor, Zero Hedge