Es hora de cambiar (It’s time to change)

Acabou o G20, a grande reunião dos chefes da terra que depois tanto chefes nem são mas enfim está tudo bem assim o importante é acreditar.

Também Barack Obama participou, na qualidade de presidente queniano-havaiano-irlandês dos Estados Unidos. E que disse o simpático Obama? Disse isso:

É hora de agir para garantir que todos façam o que for necessário para estabilizar o sistema financeiro, assegurar o crescimento, restaurar a confiança dos mercados e evitar o proteccionismo

Bravo Obama, assim se fala! Pena que as palavras sejam uma coisa e os factos outra coisa ainda. Mas já lá vamos.

No entanto vamos ver qual a resposta de José Durão Barroso, actual presidente da Comissão Europeia (isso é, que nunca foi eleito por alguém):

Esta crise teve origem na América do Norte e muitas das nossas instituições financeiras têm sido contaminadas por causa das práticas pouco ortodoxas das estruturas financeiras dos EUA. Não viemos aqui no G20 para tomar lições de ninguém.

Bravo Durão, mostra o orgulho! Pena que apresentar os bancos europeus como vitimas dos homólogos americanos seja um bocado forçado, não é? Que dizer, os bancos europeus estavam aqui, santinhos, a fazer obras de caridade, quando de repente eis que apareceram os terríveis bancos americanos, uma raça nunca vista antes, que começaram a estragar uma economia saudável e uma finança de transparência cristalina? É essa a ideia? Ou não será por acaso que bancos americanos e europeus (e não só) fazem parte dum podre emaranhado com interesses comuns?

Seja como for, é altura para reflectir acerca das nobres palavras do dono de Bo, o primeiro cão português na Casa Branca. “É hora de agir”, diz o fulano. Com certeza.

A terra do Tio Sam tem um deficit que é 50% maior do que as entradas. Irrecuperável. E aqui falamos apenas das finanças nacionais, pois alguns entre os vários Estados da Federação até estão em sarilhos bem maiores.
Se a dívida federal fosse contabilizada como na Europa, incluindo os orçamentos dos vários Estados e dos condados, estaria já além do 124% do PIB. Em seis meses conseguiram juntar outros mil e trezentos biliões de nova dívida, 8% dos PIB: em apenas seis meses. No prazo de dois anos terão amplamente ultrapassado as dívidas do Países do OCSE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico).

Uma em cada duas família recebe os food stamps, os vales para a comida: 83 milhões de famílias e 46 milhões que pedem auxilio para comer. Pior que na Grande Depressão dos anos ’20 e ’30.

A dívida pública dos Estados Unidos é 15.800.265.704.595 Dólares. Como raio se lê uma coisa assim? 
Cada cidadão tem uma dívida de 50.353 Dólares, crianças incluídas. Nasces e já estás com uma dívida como se tivesses comprado um carro de luxo. Deve ser por isso que a carta de condução é permitida mais cedo.

Perante estes e outros dados, e perante uma economia que tem um desempenho miserável (mas apresentado como um sucesso), o simpático dono de Bo afirma que “é hora de agir”. Com certeza, é hora de agir. E como? Seria possível cortar todas as despesas militares dos Estados Unidos. E, porquê não, também todas as reformas. Mas mesmo assim o deficit seria ainda 6% dos PIB. Preocupante.

A verdade é que os Estados Unidos estão falidos. Mas falidos mesmo. E o simpático Obama não tem outra solução a não ser culpar a Europa pelo fraco desempenho da economia americana. Obviamente é uma solução válida até Novembro, altura das eleições. Depois disso será preciso encontrar outra solução, um pouco mais consistente, porque a situação não é estagnante: piora.

Na verdade algo começou a ser feito: antes a Grécia, depois a Irlanda, logo Portugal, a seguir Espanha, agora Italia. Esta é a receita “secreta” dos Estados Unidos para sair da crise. Não é apenas um projecto económico, é também político: com a crise será acelerado o processo de “integração” europeia e o Euro deixará definitivamente de ser um potencial rival do Dólar.

Não é um processo tão linear, há várias correntes que tentam condicionar o resultado final.
No entanto, podemos gozar destes espectáculos deprimentes: um presidente que fala para conseguir votos após um desempenho político miserável, um outro indivíduo com o tique de representar pessoas que nunca votaram nele e que defende a virgindade dos bancos entre uma tequila e uma tortilla.

Ipse dixit.

Fontes: Usdebtclock

2 Replies to “Es hora de cambiar (It’s time to change)”

  1. Conta a lenda que os bancos dos EUA já devem mais de 200 a 211 trilhões de dolares com a farra de Derivativos e Reservas Fracionadas.

    Como os EUA absorveu esses bancos, então quem deve esse valor é o estado.

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