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O futuro? Risonho…

Antigamente, para conhecer o estado de saúde da economia mundial, olhava-se para Washington. Hoje não, observa-se o que se passa em Pequim.

O problema é que a China é ainda um objecto “misterioso”: aquele sistema capital-leninista é de difícil interpretação.

Por exemplo: no primeiro quadrimestre deste ano esperava-se que a China alcançasse um ponto particularmente baixo da própria economia, mas isso não aconteceu. Mesmo assim, se o País fosse “normal”, os alarmes já teriam começado a tocar, fortes e claros.

Todos os principais indicadores da oferta monetária mostram sinais de crise. As transacções caíram para níveis nunca vistos desde a estagnação no final dos anos 90

Os dados M1 (o total da moeda circulante) de Abril são os mais baixos registados nos tempos modernos: uma contracção mais rápida daquela observada na crise de 2008-2009, mais rápida daquela actualmente em curso em Espanha.

A produção de electricidade em Abril caiu também, e muito. Excede a do ano passado de apenas 0,7 pontos percentuais.
Os investimentos do Estado nas ferrovias caíram 44%, com  uma tendência negativa que aumentou nos últimos meses. A construção de estradas diminuiu de 2,7%.
Alistair Thomton do IHS Global Insight:

Os dados mostram uma extrema fraqueza da economia chinesa.

Os estaleiros do Yangtze falam por si. A revista Caixin revista afirma que oito dos dez fabricantes nacionais deste ano não receberam uma única encomenda:

Uma vaga de falências na construção naval ainda não começou. Mas a tempestade está próxima.

As vendas dos imóveis caíram 25% no primeiro trimestre e os prédios em construção caíram, só em Abril, de 28,3%.

Este último não é um fenómeno secundário: o sector emprega directamente 10% da força de trabalho da China, mais um adicional 20% indirecto. As vendas de terrenos constituem 70% da receita fiscal das autarquias, 30% para o governo central.

Tudo planeado? Em parte sim: o premier Wen Jiabao quer usar a queda dos preços para reforçar a sua política de “bem-estar”. Preços mais baixo = mais possibilidade de aquisição por parte das famílias economicamente menos fortes. No entanto, há algo mais, não é apenas planeamento.

O Banco da China informa que os novos empréstimos caíram desde 160 mil milhões de Dólares (em Março) para 108 mil milhões em Abril. E até o crédito paralelo, um fenómeno bem conhecido na China, caiu não pouco.
É o fenómeno contrário daquilo que se passa na Zona NEuro: na China os bancos oferecem empréstimos, as empresas recusam. Péssimo sinal: significa que os privados não têm capacidade para investir.

Mas não é apenas a China: a produção industrial da Índia caiu 3,5% em Março, com o País que parece encurralado numa estagflação estilo anos 70.No Brasil as vendas de carros caíram 15% e a produção industrial baixo em Março. O crédito mal parado alcançou 10,3%, mais do que após a falência da Lehman Brothers.

E se até os BRICS carregam no travão… 

A bolha estourou? É cedo para afirmar isso, mas há indícios pouco simpáticos.
A Europa continua a deslizar em direcção à auto-destruição estilo anos 30 anos, nos Estados Unidos o crescimento fica pouco acima da imobilidade. Os Países BRIC foram, até hoje, as únicas economias “vivas” nestes últimos tempos.

Haveria uma maneira para sair da crise? Ou de evitar um colapso global? Sim, haveria, mais do que uma.

Sem pensar em medidas radicais, haveria. Mas muitos dos economistas hoje estão ainda possuídos pelos demónios saídos da “escola austríaca”.

Como Friedrich von Hayek:

O liberalismo é a única verdadeira filosofia política moderna, o único compatível com as ciências exactas. Converge com as mais recentes teorias da física, químicas e biológicas, especialmente com a ciência do caos formalizada por Ilya Prigogine. Tanto na Natureza quanto na economia de mercado a ordem vem do caos: milhões de decisões e de dados levam não à desordem, mas a uma ordem superior.

São estes os delírios que ainda hoje agitam os sonhos dos economistas e dos políticos.
Está tudo dito…

Ipse dixit.

Fontes: The Telegraph, Wikipedia (versão inglesa)