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Culpados

Onde estará o Leitor?
Onde estará cada um de nós?
Onde será possível pôr os olhos? Com qual cara?

Será altura para esconder-se na sala, em frente à televisão? Quando os filhos estiverem envenenados, com uma vida miserável, tensos, abatidos. Quando já não houver esperança? Quando o futuro for das gerações que terão de pagar pelos nossos erros?

Quando o futuro estiver nos sonhos das lotarias. Quando o trabalho for fonte de traumas, de litígios em famílias. Quando não for possível dizer o que passa pela cabeça.

Não é assim que o Leitor sonha o futuro dos próprios filhos, claro que não. A escola, a universidade, o trabalho, o matrimónio, os netos. Não uma vida onde será cada vez mais fácil ficar doentes, porque o corpo tem que desabafar de alguma forma. Não uma vida onde à noite se mergulha na almofada para não fazer ouvir as lágrimas.

Naquela altura será possível lembrar. Dos disparates lidos na internet, ainda livre. Dos sinais. Dos avisos. Das reflexões. Das ideias. E da apatia. Do não fazer nada porque “os outros é que se mexam”. Ou do “mas o que era possível fazer?”. Do “eu sempre trabalhei, eu não tinha culpas”. Do “culpa dos outros, foram eles”. Do “já estava casado, não tinha tempo”. Do “sempre paguei as minhas taxas, sempre votei, não estava à espera disso”.

Espreitei o blog. Assim, por alto. 1.900 post, alguns inúteis, outros supérfluos, outros ainda retóricos, outros simplesmente estúpidos. Outros interessantes, com sinais. Até sugestões.
É só um entre um oceano de blogs. Alguns bons, outros menos.
Multipliquem alguns sinais vezes milhões de blogues e páginas espalhadas pelo mundo fora.
Acrescentem as imagens, os dados dos media.
Juntem a vossa experiência, no dia a dia.

Não será possível dizer “Eu não sabia”. Esta será a única desculpa que não poderá ser utilizada. Será preciso encontrar outra, credível. Porque será mais digno dizer “Sim, eu sabia e apoiei”. Mais digno, sem dúvida, porque em qualquer caso é uma escolha. Mas a apatia, meus senhores, a apatia não.

A apatia é culpa.
E sobretudo os Leitores que frequentam o mundo da informação alternativa são culpados. Mais culpados do que os outros. Porque os outros podem ser estúpidos, mal informados, até enganados.
Mas vocês sabem. E não fazem.

Mais culpados do que os políticos, mais culpados do que os sindicatos. Mais culpados do que os Rockefeller, do que os Rothschild.
Afinal eles têm uma ideia, perseguem um desejo.

Mas o Leitor?
Estão a quebrar-nos,a destruir as nossas vidas e, sobretudo, a vida dos nossos filhos.
Acabar como um pai, um avô, sentir-se pequenos, culpados de não ter actuado.

Engraçado, não é?
Ninguém terá a força para pedir desculpa naquele dia.
O fim será em frente duma televisão.

Ipse dixit.