Site icon

A única saída

O post acerca das duas Cristina tem muitos pontos de interesse.
Vamos ver apenas alguns.

As sanguessugas

Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional, mais uma vez, demonstram ser instituições que têm uma missão bem precisa: uniformizar as economias dos vários Países, não para garantir um mercado mais competitivo mas para poder exercer um maior controle.

Não hesitam em atropelar as normas vigentes para implementar um sistema que consiga transformar em refém as Nações que tenham o azar de cair debaixo das garras delas. Também as técnicas utilizadas são claras: a emissão da dívida, uma moeda como “referência”, o controle directo ou indirecto (mas sempre presente e condicionante) dum banco central.

Não há novidade neste sentido, já tratámos do assunto muitas vezes.

Os Estados Unidos e a MMT 

Segundo ponto: ao livrar-se destas sanguessugas, a Argentina conseguiu sair duma péssima situação (uma bancarrota) e, no prazo de poucos anos, recuperar a própria economia e preservar a dignidade. Como? Extremamente interessante este ponto: com a ajuda dos americanos.

Percebo que nesta altura a maior parte dos Leitores terá o fígado aos saltos, mas Cristina Kirchner foi até os Estados Unidos para procurar ajuda e foi nos Estados Unidos que encontrou o que era preciso.

Nomeadamente, com uma dica de Paul Krugman, do qual, não por mero acaso, já várias vezes este blog hospedou escritos.

Mais: Krugman e Christina Rohmer são dois keynesianos, a escola de pensamento económico que está na base da Modern Money Theory. Mesmo ela.

Não que nos EUA a MMT seja aplicada, longe disso: mas nasceu no mundo anglo-saxónico (John Maynard Keynes era britânico) e na Terra do Tio Sam encontra agora os meios para uma melhor interpretação e possível aplicação.

Os meios. Os meios, meus amigos, os meios.

Os meios

Os Kirchner abriram duas universidades nas quais são aprofundados os mecanismos que regulam o mundo da economia e da finança. Pois entenderam que um dos pontos mais fracos da Argentina era a falta de preparação.

Este ponto é absolutamente central: os meios.

Sabem porque a informação alternativa não consegue vingar?
Sabem porque os vários movimentos de protesto não conseguirão vingar (no plano nacional, diferente é o caso da realidade local)?

Porque nem uma nem outra fornecem os meios para ir além da nossa realidade.

E os meios não estão no estudo da Maçonaria, pois esta também é um meio para perpetuar o actual status. Inútil falar de Bilderberg, um outro meio, sem ter percebido o modus operandi, a maneira de operar destes senhores.
O que interessa saber qual o próximo lugar da reunião? Os lugares são todos iguais: um hotel, muita segurança, carros topo de gama.
O que interessa saber quem participa? São simples executores e são as caras do costume: políticos, empreendedores, pouco mais do que isso, mas sempre simples executores.

O que realmente interessa é saber como actuam, quais as armas. Aliás, qual “a” arma, pois é só uma: o controle da economia. Esqueçam as missas negras, esqueçam os aventais: não que não existam, se calhar até podem bem existir, mas são apenas areia para os olhos.

A chave sempre foi uma só: a economia.

Aborrecida? Pois é.

Eu não sou economista, não tenho nada a ver com o assunto. Até poucos anos atrás nem sabia o que era um Título de Estado, simplesmente comecei a perceber algumas coisas, com a leitura de blogues quais Informazione Scorretta do amigo Felice Capretta. Então iniciei a interessar-me, procurar textos, explicações. Ainda não percebo nada, mas algo fez-se estrada até numa cabecinha como a minha.

É por isso que escrevo textos tão aborrecidos como a série da Modern Money Theory. Eu sei que são aborrecidos, mas não escrevo para que o Leitor possa ficar espantado tipo “Mas olha quantas cosias que sabe este gajo!”: escrevo porque estou convencido de que só percebendo um pouco mais da economia podemos entender quais as motivações que estão atrás de determinadas escolhas, não apenas económicas.

A Argentina é um excelente exemplo neste sentido: sem o apoio dos economistas hoje seria mais um protectorado do Banco Mundial, teria perdido, de facto, a própria independência.

Porquê as oposições na Europa fadigam a derrotar as maiorias de governos? Porque são incapazes de produzir qualquer cenário económico credível. Não têm (ou não querem ter) as bases. Nos casos mais patéticos sabem falar de “luta do povo”, nos casos melhores produzem alternativas sempre nos moldes do actual quadro económico. Não há por aqui a humildade duma Kirchenr que pega nas malas para falar com quem perceba mais do assunto.

Caso prático

Tudo isso parece muita teoria e pouca prática? Nada disso.
As melhores medidas propostas nestes meses pelo partido comunista português são o aumento dos salários e das reformas. E eu pergunto: mas nasceram já assim ou foi uma doença desenvolvida mais tarde?

Aumentar os salários e as reformas num País cuja economia é já agora “zero” (aliás, menos do que zero, pois Portugal já está em recessão) significa aumentar a inflação (que corrói logo os aumentos) e matar as exportações (pois Portugal já não pode “jogar” com uma moeda própria inflacionada), além de provocar sérios problemas para as empresas que produzem para o mercado local.

Uma alternativa como esta é derrotada por um economista do primeiro ano de universidade em menos de 5 minutos.
O Partido Socialista, o principal elemento da oposição, viaja na mesma linha: não quer aumentos mas oferece soluções que ficam sempre no “quintal” do conhecido (e derrotado).

Conheço a situação em Italia, outro exemplo: a oposição fica bem caladinha perante o governo de Mario Monti, em parte porque vendida (afinal Monti é Goldman Sachs), em parte porque incapaz de produzir uma real alternativa, tal como os homólogos portugueses.

Situação parecida em Espanha. E Hollande, na França, não parece oferecer grandes novidades.

E a revolução?

Mas como foi possível chegar até este ponto?
A resposta é simples: com a uniformização das economias dos vários Países, a mesma que foi tentada na Argentina.

Os poderes, os verdadeiros poderes, criaram mecanismos complexos, uma selva de equações, algoritmos e tecnicismos perante os quais as pessoas fugiram e continuam a fugir. O que gera ignorância, a mãe da escravidão.

Então temos respostas um pouco mais precisas perante as perguntas acima apresentadas:

Porquê a informação alternativa não consegue vingar?
Porque trata apenas dos sintomas e não oferece soluções.

Porquê os vários movimentos de protesto não conseguirão vingar?
Porque tratam apenas dos sintomas, não oferecem soluções e não conseguem atrair as forças produtivas da sociedade.

Porquê as oposições políticas não conseguem vingar?
Porque tratam apenas dos sintomas, não oferecem soluções, não conseguem atrair as forças produtivas da sociedade e, em alguns casos, apresentam um instrumento disfuncional (a ideologia) para interpretar a realidade.

Em bom Português: todos estes protagonistas ignoram o elemento-chave, que é a economia.

Pior: no caso de Occupy Wall Street, por exemplo, conseguem aproximar-se dela para depois concentrar-se apenas em poucos aspectos (como os bancos) e sem oferecer alternativas que possam realisticamente atrair as forças produtivas. Não tenho dados, mas julgo terem sido poucos os empresários que decidiram abandonar a religião económica dominante para abraçar a causa dos Indignados, Occupy, etc.

Não é com um “muro contra muro” que será possível conquistar o motor da sociedade (que é a economia). E fica assim ainda mais claro o envolvimento nestas iniciativas de determinadas forças que, a rigor, deveriam remar no sentido contrário.

O que faz Rockefeller ao lado dos Indignados espanhóis?
Simples: trabalha para canalizar o descontentamento numa estrada sem saída, torna inofensivo o descontentamento. Ajudando os Indignados a organizar-se, retira legitimidade e qualquer possibilidade de sucesso ao movimento.

Meus amigos, podemos saber tudo dos Rotheschild, saber de cor os nomes dos participantes do Bilderberg; podemos utilizar Blogger, WordPress, Facebook, Twitter, Youtube e Power Point se for o caso, mas continuará a faltar a essência. As forças económicas continuarão a trabalhar, sem preocupar-se com os suspiros da praça. Porque falta perceber como é que chegámos até aqui e qual a possível saída. E tudo isso pela economia.

Lamento, não há outra solução.
Querem fazer uma revolução? E façam a revolução, criem um partido novo que tenha como objectivos a solidariedade, a saúde universal para todos, políticos menos corruptos, uma justiça mais justa, mais feriados, mais salários.
Tempo seis meses e tudo estará como antes, até pior.

Porque a única revolução com alguma possibilidade de vitória é aquela que consegue substituir um sistema económico manipulador com outro realmente ao serviço do País.

Mas para fazer isso é preciso antes entender como funciona o actual sistema económico e como este é utilizado para controlar inteiros Estados. E façam o favor de esquecer Marx ou Adam Smith: podem ser um bom ponto de partida, não de chegada.

E que raio, estamos em 2012, não em 1800: bem diferentes são os inimigos hoje.

Estudar

É preciso estudar, entender.
Eu sei, custa. Mas se o desejo é perceber o que se passa, então não há alternativas.
Hoje ainda há quem pense na política como um choque de ideologias. O que é terrivelmente falso: não há uma política do mercado, há o mercado da politica.

A finança da nossa sociedade, uma finança oligárquica, não é o mercado. Há dois anos que repito a mesma coisa: “Meus senhores, este não é Capitalismo”. E não é mesmo. Assim como digo para esquecer Marx, acrescento também Adam Smith: estas fases estão amplamente ultrapassadas.

Não existe a lógica da procura e da oferta, o custo social: o único objectivo é abater o livre mercado em nome do livre mercado. Eu sei, parece um paradoxo, mas é o que se está a passar: eliminar os Estados em nome dum livre mercado que de livre tem apenas o nome.

Só desta forma é possível entender o que acontece na Europa, com a destruição dos Estados e até da ideia de Nação. É o mesmo que foi tentado na Argentina, sem sucesso.

O objectivo é sempre o mesmo, muitas vezes apresentado pelo teóricos da Nova Ordem Mundial: criar uma sociedade mais simples, com um menor número de pessoas que detenham o poder de decidir.

É quanto denunciado pela miríade de blogues e sites que tratam da NWO. Só que bem poucos destes blogues ou sites têm entendido qual a arma utilizada. Não são as mensagens subliminais, não é o programa MK-Ultra, não é Lady Gaga, não é a Maçonaria: somos nós quando entrarmos num supermercado.
Tudo o resto, incluído Lady Gaga, são acessórios.

Combater este tipo de futuro significa, como já afirmado, perceber antes como funciona. Dito de outra forma: estudar. E a Argentina indicou o caminho: pedir a ajuda (Krugman) e estudar (as duas universidades).

…e o blog, coitado…

Eu, não sendo economista, pouco posso oferecer neste aspecto: e este pouco fica publicado no blog.

Mas mais importante ainda é convidar os Leitores a não afastar-se dos assuntos económicos.

Eu também gosto de ver vídeos engraçados no Youtube: um Ufo aqui, uma teoria da conspiração aí. Mas o meu conselho é reservar um pouco de espaço para vídeos que tratem, mesmo que em forma “leve”, de economia: perceber o que é o dinheiro, como funciona, coisas assim.

Chato? Sim, chato. Muito menos espectacular do que o previsto. Mas alguém acha que numa Comissão Trilateral ou num Bilderberg alguém fica realmente preocupado se um blog de informação alternativa falar das bases nazi na Antárctica?

Ipse dixit.

Relacionados:
As Duas Cristinas
MMT