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Ishkur, o Senhor da Montanha

Quem é Deus?

Como vimos, no Antigo Testamento Deus aparece de forma totalmente diferente do homólogo dos Evangelhos (o Novo Testamento).

Onde neste encontramos bondade e perdão, chegando a sacrificar o próprio Filho para a Redenção da espécie humana, nos escritos mais antigos deparamos com uma total falta de piedade e um que Deus utiliza a violência e a morte como meio para estabelecer a própria superioridade.

Como não faz sentido pensar num Deus que evoluiu (só as criaturas imperfeitas podem evoluir), é lógico pensar que os Deuses apresentados não são a mesma Entidade. Uma sugestão chega dos textos da antiga Sumêria.

Nestes textos, com 6.000 anos de idade, fala-se do deus En-Lil, que
teve também o epíteto de Ilu-Kur-Gal ou “Senhor da grande montanha”. En-Lil teve três
filhos, um dos quais é chamado Ish-Kur ou “Senhor
da montanha”, pois, de facto, o glifo Kur em sumério significa “montanha”,
enquanto Ish é um jogo de palavras que deriva da união dos termos acádico Isha (Senhor) com o cananeo Ish (montanha), glifo que é
traduzido em acádio Shaddu e que evoluirá para o hebraico El Shaddai, que significa “Senhor”, enquanto Shaddai significa “montanha”.

Este é o epíteto com o qual Deus aparece pela primeira vez no Antigo
Testamento, quando em Génesis 17: 1,2 disse a Abraão: “Eu sou El
Shaddai, caminhe diante de mim e sê perfeito”.
Ishkur ficará conhecido como Hadad em acadiano, enquanto que segundo os Cananeos será Baal Hadade.
Os Assírios tentaram realizar a primeira tentativa de monoteísmo tendo como base o
Baal semita, mas percebendo que esse deus não era capaz de suportar o peso da tradição secular, e dada a importância que
esta figura tinha no panteão cananeu, perceberam que teria sido difícil concentrar em Baal as características dos outros deuses principais.

Baal, que na altura era o chefe dos deuses e não a única Entidade Superior, era um deus bastante enervado, um tipo que pegava fogo muito facilmente. Exactamente como o Deus do Antigo Testamento.

A
solução para uma transição do politeísmo para o monoteísmo foi então
encontrada com o casamento entre o deus Baal e a irmã Asherah: o filho
deste casal foi chamado El Yaw, e já podemos notar a semelhança com o deus bíblico Yahweh (ou Jeová). Desta vez a transição foi bem sucedida com a passagem de Baal para o filho deste, El Yaw.

Interessante realçar como o epíteto de Baal, que já na altura era aquele de Cavaleiro das Nuvens, é encontrado também no Antigo Testamento, utilizado para indicar Yahweh. Num texto do século XIV a.C. encontrado em Ugarit, podemos ler:

Durante sete anos pode ser Baal ausente,
por oito anos, o Cavaleiro das Nuvens!
(CTA 19: IV: 204-205; KTU 1,19: IV: 42-43)

Isso enquanto no Antigo Testamento encontramos:

Cantem, ó deuses! Cantem louvores, o seus céus!
Construam a estrada para o Cavaleiro das Nuvens!
Alegrai-vos em Yahweh
e gloriamos antes Dele!
(Salmos, LXVIII: 5)

Isso demonstra claramente que o Yahweh semítico é o “descendente” do Baal fenício. Que, por sua vez, deriva do Ish-Kur da Suméria.  Não
só: para completar o processo de transição, Asherah, mãe do
Senhor, foi feita casar com o filho dela, tal como é evidenciado não só pelos achados arqueológicos como também por uma inscrição paleo-hebraica do século VIII a.C., recentemente encontrada perto de Kuntillet ‘Ajrud:

Eu vos abençoo, através de Yahweh de Samaria e da sua Asherah
(Inscrição Paleo-hebraica)

Os
invasores Hycsos-hebraicos, adoradores do deus Baal, conquistaram o Egipto em 1750 a.C. e escolheram Seth por causa de afinidades electivas com o seu
deus. Depois
dos dois Êxodos, os judeus eliminarão definitivamente as referências acerca da mãe e (mais tarde) esposa, Asherah, como evidenciado por inúmeras referências na Bíblia
(cf. I Samuel 7: 4 e 12: 10; II Reis 10: 19, II Reis 11: 18).

E não podemos esquecer também que o epíteto “El Shaddai”, que designava o deus das montanhas Ish-Kur na Sumeria, é também confirmado por numerosas
referências bíblicas:
 I Reis 20: 23 – “Mas os servos do rei de Aram disseram: “O deus deles é um deus das montanhas” 
Salmo 67: 14-17 – “Deus escolheu como sua casa a montanha de Basan, o monte dos altos picos, o Senhor viverá aí para sempre”

Obviamente não espere o Leitor encontrar o termo El Shaddai na Bíblia em versão portuguesa: é preciso consultar uma versão hebraica. Por exemplo, na versão online da Torah, podemos ler:

א  וַיְהִי אַבְרָם, בֶּן-תִּשְׁעִים שָׁנָה וְתֵשַׁע שָׁנִים; וַיֵּרָא יְהוָה
אֶל-אַבְרָם, וַיֹּאמֶר אֵלָיו אֲנִי-אֵל שַׁדַּי–הִתְהַלֵּךְ לְפָנַי, וֶהְיֵה תָמִים.
(Genesis, 17:1,2)

Onde o termo evidenciado,אֵל שַׁדַּי , significa mesmo isso: El Shaddai.
A raiz  ‘-l-h, donde deriva o termo El, é a mesma que no idioma árabe originou a palavra Allah (artigo Al + ‘l-h).

As ligações entre o deus semítico El e o Deus do Antigo Testamento são numerosas. A mesma imagem iconográfica de Deus (um velho barbudo sentado num trono) era a representação de El.

O discurso é excepcionalmente amplo e este artigo só deseja ser um conjunto de sugestões. Uma das quais poderia ser a seguinte.

O Deus do Novo Testamento é uma evolução do Deus do Antigo Testamento, o qual tem atrás de Si uma longa história que das planícies mesopotâmicas concluiu a sua viagem na colina do Calvário (Gólgota em aramaico). Um Deus que foi adaptado ao longo dos tempos para melhor encarnar as necessidades das épocas: após a galeria dos Deuses da Sumeria, foi evidente a falta dum único Deus que pudesse concentrar num único culto o poder da casta dos sacerdotes, além de representar uma assinalável simplificação.

Os hebreus, durante a história, tiveram ocasião de entrar em contacto com vários povos do Médio Oriente e, como é normal, houve uma troca de informações, também em âmbito religioso. A figura de Jesus (Horus-Aton-Ra) é um bom exemplo disso.

Como afirmado: apenas uma ideia.
Que, na minha óptica, não invalida as mensagens contidas sobretudo nos Evangelhos.

Nota: no texto faltam alguns acentos nos nomes próprios, pois não encontrei a exacta tradução em Português. Acádicos? Acádios? Sumério ou Sumêrio? Bah…
Vou informar-me melhor em vista do próximo artigo, prometo!

Ipse dixit.

Fonte: AltroGiornale, Mechon-Mamre, mais várias páginas de Wikipedia em Português, Inglês e Italiano.