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Maçonaria: antes e depois

Muito bem, vamos ver as notícias de hoje.
A Síria, o Irão, a crise económica…minha nossa, sempre as mesmas coisas.

Olhem, vamos fazer assim: vamos falar de Maçonaria, tá bom? Afinal muitos vêem nos Maçones uma espécie de Igreja do Mal, mergulhada em conspirações, crimes de todas as espécies, incluído a Nova Ordem Mundial (esta nunca falta).

Então donde começar? Pela fundação da Maçonaria, os cavalheiros de Jerusalém, o Templo de Salomão?

Nem pensar. Existem milhares de páginas na internet dedicadas ao aspecto histórico, mais uma não adianta.
Vamos falar de Maçonaria, mas começamos pela ideia que nós temos da mesma.

Nota: no texto utilizo os termos “Maçon” e “Maçones”, provavelmente errados. Ainda não percebi quais os termos certos e não entendo perder mais tempo com isso…

Maçonaria: pontos de vista

A ideia mais comum é aquela segundo a qual a Maçonaria é geralmente constituída como um clube de elite para pessoas afiliadas; pessoas poderosas, que têm como objectivo conspirar, procurar apoios de pessoas influentes.

Esta não é a visão ocidental, mas Europeia (embora haja excepções).

Diferente é a visão nos Estados Unidos, onde a Maçonaria é vista como uma associação semi-séria, semi-hesotérica, uma ocasião de convívio entre amigos e colegas. Como consequência, a Maçonaria aparece nos filmes de Stan Laurel ed Oliver Hardy (O Gordo e o Magro no Brasil, O Bucha e Estica em Portugal) ou na série Dias Felizes (Happy Days).
Até nos Flinstones.

Nas televisões dos Estados Unidos são normalmente transmitidas publicidades da Maçonaria, algo que no Velho Continente seria impensável.

Então, qual o verdadeiro rosto da Maçonaria? Um clube exclusivo, que junta pessoas influentes que querem alargar o círculo de conhecimentos pessoais? Ou um conjunto de pessoas “médias” frustradas, à procura de experiências “exóticas”? Ou, pior ainda, uma diabólica maquinação de quem quer tomar posse do mundo e arredores? Uma espécie de anti-igreja?

Onde está, portanto, a verdade, e acima de tudo, o que é exactamente a Maçonaria, e quais são as suas verdadeiras origens?

Maçonaria antiga e moderna

Ao falar da Maçonaria hoje é sempre preciso especificar que o tema é a Maçonaria moderna, como foi concebida após a fundação da Grande Loja Mãe, nascida em Londres em 24 de Junho de 1717: esta Loja unificou os direitos e os deveres dos membros das lojas anteriores.

Mas ainda mais importante foi o trabalho do pastor presbiteriano James Anderson, que em 1723 publicou as Constitutions of Freemasons, Constituições dos Maçones, em que foram estabelecidos os Landmarks, os pontos fundamentais da ordem e as prescrições rituais.

Anderson deu um molde “deísta” e rescindiu qualquer relacionamento que existia anteriormente entre a Maçonaria e a Igreja Católica: a partir deste momento, o carácter “tradicional” da Maçonaria foi cada vez mais recuando.

É importante lembrar destes acontecimentos: é inútil falar das origens nas Cruzadas e da Maçonaria moderna como se fossem uma coisa só, pois assim não é: no século XVIII houve uma profunda viragem, a organização mudou o seu próprio rumo. Esta rotura com o passado foi o factor que levou os maçones a diferenciar-se claramente das irmandades anteriores.

Sobrou o simbolismo, que em grande parte refere-se ao trabalho dos antigos pedreiros medievais, construtores de catedrais: estes tinham sido os maçones originais, no interior das cujas lojas tinha surgido o processo que levou, após muitos séculos, a formação de uma organização que em muitos pontos é exactamente contrária aos ideais desses antigos construtores.

As corporações de construtores medievais eram lugares onde era transmitido o conhecimento prático e espiritual: e é importante também lembrar este dois termos, “prático” e “espiritual”, uma vez que estes dois componentes na Idade Média formavam a base duma única pesquisa interior e não eram divisíveis.

O construtor, com o seu trabalho, aprendia os segredos da matéria e do edifício, e este era o caminho a tomar para conseguir uma construção pessoal também, que passava pelo centro do seu ser.

O simbolismo utilizado nas irmandades medievais (o compasso, as colunas, o arco, e assim por diante) implicam assim uma forte conotação, uma vez que não eram meras representações abstractas mas lembravam ao construtor as realidades superiores através de experiências directas, em que a própria prática da construção levava a meditar.

Ao longo dos séculos, nas reuniões começaram a aparecer também membros não-operacionais, muitas vezes intelectuais que não trabalhavam directamente na construção mas ficavam fascinados com o simbolismo e as implicações espirituais.

Estes eram os precursores dos verdadeiros maçones modernos, uma vez que a partir de um certo ponto o factor operacional deixou de ser parte da experiência das irmandades. Foi-se perdendo, gradualmente, o factor cristão que alojava nos antigos construtores, até que, como vimos, este factor foi definitivamente rasgado com Anderson, com o qual a maçonaria começou a recrutar anti-católicos.

O ensinamento espiritual que os antigos construtores transmitiam principalmente através das suas obras, era um conhecimento esotérico, atingido por vias diferentes. Atenção: “esotérico” não significa “escondido”, significa mais “interno”, que deve ser descoberto.

A Maçonaria moderna abandonou os seus antigos laços com a religião tradicional, transformando-se em algo inteiramente novo, recuperando doutrinas antigas, tal como o Gnosticismo, em contraste com a ortodoxia cristã.

Este passo é muito importante, essencial para entender o desenvolvimento actual e futuro da Maçonaria.

Gnose

A questão da “gnose” é muito complicada e isso é principalmente devido a um mau uso do termo que foi feito. Gnose, em primeiro lugar, significa simplesmente “conhecimento”. Literalmente.

Sucessivamente, com o termo “gnose” entendeu-se descrever um conjunto de doutrinas mais ou menos “ortodoxas” que desenvolveram-se em paralelo com a religião cristã e judaica. E isso já não faz muito sentido.

O problema surge depois, quando o termo “gnose” é principalmente aplicado apenas para identificar doutrinas que desvalorizam e banalizam a pesquisa inicial, mística e esotérica.
A verdadeira “gnose”, no entanto, é a busca pelo divino através de um caminho esotérico (lembrem: esotérico não significa “escondido” mas “interno”).

Hoje, no entanto, o termo “gnose” descreve as doutrinas em oposição à ortodoxia cristã, caracterizadas por um forte dualismo e um desprezo geral para a Criação. Dum lado temos o Deus Bom, fonte de conhecimento, do outro a Entidade Má, como Lúcifer.

Mas que isso tem a ver com a Maçonaria?

Como afirmado, a Maçonaria moderna (e apenas a moderna!) recuperou esta concepção dualista (Bem/Mal) que inevitavelmente leva ao desprezo da Criação, enquanto realidade corrupta pelo Mal: consequentemente, o acto de dissolução torna-se algo desejável.

Neste aspecto, a Criação é uma obra saída mal, enquanto o caos e a destruição não são o Bem mas são os instrumentos para uma nova construção (que, espera-se, possa resultar melhore da actual).

 A Maçonaria tenciona eliminar todos os vestígios da actual religião cristã ocidental? Na óptica maçon sim, pois faz sentido: nem a Igreja escapa aos princípios da actual Criação e, como tal, ela também está corrupta.

Alguns vêem a Maçonaria como a herdeira dos ideias iluministas de Liberdade, Democracia, Igualdade. Errado, profundamente errado: estas ideias eram apenas passagens, necessárias num mundo que, na altura, estava ainda agarrado às monarquias absolutistas. Hoje tudo isso deixou de fazer sentido.

Falar de Maçonaria como duma grande conspiração não faz muito sentido também: é mais um projecto planeado, desenvolvido ao longo dos séculos, ignorado pela maioria dos maçones. Isso porque, paradoxalmente, os símbolos da Maçonaria ainda carregam os ideais de construção, edificação, não de dissolução. Em clara antítese com a orientação delineada pelas chefias da Maçonaria moderna.

E agora?

Dito isso, sobra uma pergunta: a Maçonaria é parte da Nova Ordem Mundial? Estamos perante uma conspiração que quer tomar posse do planeta, escravizar os seres humanos e roubar os rebuçados das crianças? E porquê a Maçonaria quer roubar os rebuçados das crianças? Não poderia compra-los nos supermercados como faz a gente normal?

Não é simples responder, cada um tem as suas próprias opiniões. Eu continuo com a minha ideia, penso que o verdadeiro problema da nossa sociedade não seja a Maçonaria; tomara que assim fosse, pois tudo seria muito, mas muito mais simples. Bem outras são as crises.

Antes de pensar em Novas Ordens, melhor pensar em nós, no que nós fazemos para melhorar este mundo, nas nossas escolhas. Porque se eventualmente existir um grupo de pessoas que quer ser dono do mundo (tal como sempre existiram grupos com o mesmo fim), isso acontece porque alguém deixa que tal grupo possa trabalhar com este objectivo.

Então Maçonarias e Novas Ordens tornam-se um álibis das nossas fraquezas.

Ipse dixit.

Fonte: Santaruina