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Elgin: nada de faiscas

A Grã-Bretanha não consegue desligar o gás.

Tranquilamente ignorada pelos media, desde o passado 25 de Março há uma colossal fuga da plataforma de extracção da Total, a Elgin, no Mar do Norte. Fala-se de 200.000 metros cúbicos de metano por dia: tanto para ter uma ideia, é como se a cada dia desaparecessem no ar 21 prédios de 7 andares cheios de gás.

É uma espécie de Macondo (lembram-se? Golfo do México, Deepwater Horizon, petróleo, BP…), só que desta vez fica no Mar do Norte. Em cima é possível observar a fotografia aos infravermelhos publicada pelo diário Daily Mail: uma nuvem  cor de rosa ao redor da plataforma. Muito bonito, não fosse que a nuvem é gás.

Soluções? Ahiahiahi, este é uma nota doente, aliás, melhor não falar do assunto. Deixemos que o gás possa fugir alegremente e entretanto tentemos não fazer faiscas.
Pois o gás é inflamável.

E a poluição? Ah, pois, haveria também o discurso da poluição. Mas neste caso a solução é mais simples: é só não falar do assunto. Nada de notícias, nada de poluição. Ao ponto que as únicas notícias chegam de Greenpeace.

Ninguém ainda tem analisado ​​o ar em redor da Elgin: apenas um navio de Greenpeace recolheu amostras na zona de fronteira (duas milhas) além da qual é proibido aproximar-se. Resultados esperados depois da Páscoa.

As condições do mar que fica debaixo da nuvem de metano? Não recebidas. O gás que escapa propaga-se no ar, não na água, mas mesmo assim há trocas gasosas entre a atmosfera e o líquido.

O navio de Greenpeace tem observado uma película oleosa sobre a água, a Total diz que não há crise, ora essa, é só o gás condensado e geralmente um pouco de petróleo está sempre presente nas explorações de gás. É poluição “normal”, é tudo regular.

Por enquanto só sabemos o que Greenpeace relata: mau cheiro, o que é esquisito pois o metano em si é inodoro. O que usamos em casa é adicionado com substâncias que permitem aperceber-se do perigo em caso de fugas.

E que tal travar a fuga?
Ehhh, pois, dito assim parece simples, não é?

Pela primeira vez em 12 dias, um grupo de peritos voltou para a plataforma Elgin para inspeccionar o complexo e identificar as peças que ainda podem ser usadas em segurança: o objectivo é enviar pessoal qualificado a bordo para tentar fechar o poço com a bombagem da lama pesada. Não foram divulgados os resultados da inspecção.

Caso a ideia da lama não seja aplicável, a Total terá que proceder como já aconteceu no Golfo do México: um relief well, um poço de socorro, para tapar o poço principal com uma tampa permanente. Estimativa do tempo necessário para executar a operação: seis meses. Entretanto: nada de faiscas.

A Reuters publicou uma entrevista com os peritos e consultores anónimos que trabalham pelas empresas envolvidas na extracção de gás em águas britânicas. Como regra geral, as entrevistas anónimas são mesmo antipáticas, mas a verdade é que ninguém está disposto a dar a cara, pena ficar sem trabalho ou algo pior.
Então vamos com o resumo das entrevistas: há cada vez menos gás nas explorações britânicas do Mar do Norte, então é preciso atingir profundidades cada vez maiores. O que significa mais pressão. O que significa tudo mais difícil e arriscado. Como no caso da Elgin .

Simultaneamente, o preço do gás natural diminuiu, pelo que as empresas devem reduzir os custos. E quais os primeiros custos que são cortados? Manutenção e segurança. O que cria uma situação explosiva. Literalmente.

Dados

Para acabar, alguns dados acerca da plataforma Elgin.

A plataforma fica localizada no Mar do Norte, 240 quilómetros ao largo de Aberdeen (Escócia), e opera no campo de petróleo e gás conhecido como Elgin-Franklin.

De propriedade da Total, acomoda uma tripulação de 97 pessoas.

É uma plataforma HP/HT, isso é, Alta Pressão e Alta Temperatura, trabalha com profundidades de 5.500 metros com uma pressão máxima de 1.100 bar.

A Total afirma que a Elgin é uma das maiores plataformas do mundo, com uma capacidade máxima de 15,5 milhões de metros cúbicos de gás por dia.

Estreada em 2001, tem uma vida útil de mais de 20 anos. 
Se não explodir antes.

Ipse dixit.

Fontes: Daily Mail, Greenpeace, Reuters, Total
Imagens: Daily Mail