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Carvão, muco e sangue: Georgia Power

A central de carvão em Juliette, na Geórgia (Estados Unidos, imagem ao lado) é a maior de todo o País, com duas torres que cospem fumo numa altura de 300 metros.

De acordo com a Agência de Protecção Ambiental, é também o maior produtor de gases com efeito estufa de todos os EUA.

Os cidadãos de Juliette, que vivem ao redor da central, adoecem e morrem. O sintoma mais comum é acordar no meio da noite para cuspir sangue. O que não é agradável.

Os médicos entrevistam os pacientes: “A senhora é alcoólica?”. São mães de família, idosos. Não são alcoólicos, simplesmente vivem perto duma central que cospe para a atmosfera poluentes 24 horas por dia. Mas as causas da doença permanecem um mistério.

Como “misteriosa” é a origem de todos os casos de câncer que afectam as famílias.

A Georgia Power, empresa de energia, nega qualquer responsabilidade. Mesmo quando a análise dos cabelos realizado por iniciativa própria dalguns cidadãos revelar 68 partes por milhão de urânio, um subproduto das cinzas de carvão. A empresa nega: tudo controlado, tudo nos moldes da lei.

E a lei prevê que uma casa possa ser vendida e comprada. É o que faz a Georgia Power: quando uma família finalmente ocupa as campas do cemitério local, a empresa compra a casa vazia. Abate a casa, sela o poço da água, planta um pequeno bosque de pinheiros. Porque a empresa preocupa-se com o ambiente.

Nos últimos tempo são avançadas ofertas para casas ainda habitadas. O facto é que os moradores estão doentes, é só uma questão de tempo e a empresa quer adiar o trabalho. Quando o último caixão abandonar o terreno, casa abatida, poço selado, pequeno bosque de pinheiro.

Mas selar os poços porquê? Os activistas locais argumentam que a água está poluída e é a mesma água que os habitantes de Juliette costumam beber.

Será. Mas tudo está sob controle e de acordo com a lei. As empresas descaradamente mentem, os media não falam de certos assuntos e tudo pode continuar com cada vez mais pinheiros. Até que um dia, um jornalista não sabe o que escrever e então repara que numa cidade da Geórgia os habitantes morrem como moscas. Publica o artigo e nada acontece.

Os outros media ignoram, a notícia fica como simples curiosidade. E depois há sempre algo de mais importante que ultrapassa o assunto nas mentes dos leitores. Um furação, as ameaças do Irão, uma matança numa escola, o terrorismo.
E a mesma CNN, no anexo CNN Money, lista a Southern Company, dona da Georgia Power, como a primeira entre as World’s Most Admired Companies, as empresas mais admiradas do mundo do sector da electricidade.

Doutro lado, como criticar a Georgia Power, uma empresa que fornece trabalho a mais de 9.000 pessoas, numa altura em que a economia de Washington está em claro sofrimento?

E a Southern Company? Sozinha produz  42,000 megawatts de electricidade e serve 4.3 milhões de utentes na Alabama, Geórgia, Florida e Mississippi.

O presidente,Thomas Fanning, é também administrador da Federal Reserve de Atlanta e no Conselho de administração encontramos:
Jon Boscia, da Sun Life Financial;
William Habermeyer, da Raymond James Financial Inc.;
Warren Hood, do banco BancorpSouth Bank;
Donald James, da Wells Fargo;
William Smith, da Capital City Bank.

Não se brinca com pessoas assim.    

Robert Maddox vive em Juliette. E está doente, claro. Começou a acordar de noite, com o nariz a sangrar uma mistura de muco claro com sangue. Os seus músculos começaram a contrair-se, ficou com os rins doentes e esclerose do fígado.
O médico perguntou se Maddox fosse alcoólico. “Eu não bebo” diz Maddox.

Também tinha uma vesícula biliar que teve de ser removida, tenho uma possibilidade em seis chances de sobreviver.

O vizinho que morava na casa ao lado teve câncer abdominal. Mais duas casas e há uma mulher que antes estava em saúde, agora tem uma forma de demência que tornou a senhora “irreconhecível”.

Além de todos nós estarem doente, temos sido abordados pela Georgia Power, querem comprar as propriedades. A casa ao lado, ficou bem selada.

Pois: A casa arrasada, o poço selado, um pequeno bosque de pinheiro. É o que sobrará de Robert Maddox e dos outros moradores de Juliette.

Quantas Juliette haverá pelo mundo fora?

Ipse dixit.


Fontes: CNN, CNN Money, Southern Company, Petrolio