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O sexo da Goldman Sachs

Para alguns, Goldman Sachs, a mãe de todos os bancos, é o mal supremo, enquanto segundo aqueles que trabalham na finança é o sonho duma vida.

Na realidade Goldman Sachs não é o mal absoluto: é simplesmente um dos muitos rostos do mal. E como tal pode actuar impunemente, com a certeza de não ter problemas.

O banco, por exemplo, ajudou a Grécia a falsificar as contas para que Atenas pudesse entrar no círculo do Euro (grande negócio, diga-se…): e esta não é uma teoria da conspiração, é já história. Consequências? A Grécia é hoje o que é, mas Goldman Sachs passou através das acusações como uma alma cândida e pura  poderia atravessar o Inferno.

Mas se até hoje a maior parte das acusações têm sido focadas nas práticas financeiras, agora as coisas mudaram: as novas acusações são de prostituição infantil e tráfico de seres humanos.
Outra teoria conspirativa? Não, notícia do New York Times, que decidiu começar a investigar acerca do simpático banco.

Nicholas Kristof, jornalista duas vezes Prémio Pulitzer, explica o pano de fundo duma história assustadora.
O mundo dos sites online que oferecem serviços para o sexo é um dos sectores mais lucrativos nos Estados Unidos. Mas muitas vezes, como no caso do site Backpage.com, os anúncios desses sites não são publicado pelos directos interessados (os que oferecem sexo), mas pelos donos. Que podemos identificar como os donos do escravos.

Uma recente pesquisa descobriu um ignóbil tráfico de meninas menores de idade que tinham sido raptadas, drogadas, violadas, reduzidas à escravidão, obrigada a entrar no mundo da pedofilia e, então, oferecida ao público neste tipo de site. Os investigadores conseguiram condenar os culpados, mas infelizmente não conseguiram fazer o mesmo com a sociedade proprietária do site, que não foi considerada legalmente responsável pelos anúncios colocados online. E isto apesar da intervenção de dezanove senadores norte-americanos.

Kristof decidiu perceber melhor esta vertente e começou a investigar a propriedade do site, um dos mais populares, com milhões de visitantes. E descobriu que 51% da empresa pertence ao Village Voice Media, a mesma empresa que gere o histórico diário gratuito The Village Voice, distribuído em cada esquina de Nova York; diário que é financiado com dezenas de páginas de publicidade relativas ao sexo online.
Mas Village Voice Media detém 51% do site de sexo online: a quem pertence o outro 49%?

O Leitor já adivinhou? Exacto: a quota minoritária pertence a diversos bancos de investimento, e o segundo maior accionista (com 16 %) é Goldman Sachs. O banco adquiriu a sua participação em 2000, pouco antes da empresa ter posto as mãos no sector do sexo pago.

Um dos directores da empresa, até 2010, era o gerente sénior da Goldman Sachs Scott Lebovitz.
Elizabeth McDougall, um consultor sénior do Village Voice Media, entrevistada pela New York Times, afirma que nenhum dos proprietários alguma vez demonstrou qualquer desacordo com a política da empresa.

Resumindo: até o pescoço.
Nos últimos dias, o banco e as outras empresas financeiras envolvidas tentaram livrar-se das acções, com uma certa pressa mas sem sucesso. Como crianças apanhada com as mãos na geleia: uma tristeza. Mas neste caso a geleia é uma mistura obscena de prostituição, exploração e escravidão de crianças.

Dúvida: agora que acontecerá?
Resposta: nada.

Ao longo de alguns dias a investigação ocupará as páginas dos diários norte-americanos (fora dos Estados Unidos nem uma palavra), depois a história será sepultada nos emaranhados legais e, simplesmente, desaparecerá.

Porque o mercado do sexo é uma das empresas mais lucrativa e tem um papel de relevo na manutenção da nossa sociedade.
Porque a Goldman Sachs é um dos poucos Masters of the Universe, Senhores do Universo que tudo podem, impunemente.
E porque as pessoas nem querem saber de certas coisas.

Por isso, esta notícia não passa duma simples curiosidade.

Ipse dixit.

Fonte: The New York Times