As palavras proibidas

Estupidificação.

Lenta, mas inexorável, procede nas várias frentes. E chega até os bancos da escola. Não é por acaso: é aí que os cidadãos do futuro são criados, condicionar desde a tenra idade os cerebrinhos significa metade do trabalho já feito.

A melhor forma de condicionamento? Há muitas, mas as palavras têm um lugar especial: é que as palavras são a porta de acesso dos conceitos. Presas as palavras, os conceitos ficam menos visíveis.

E assim o Departamento da Educação de New York trava a guerra das palavras, algumas das quais podem ser removidas dos textos escolares. Para já são 50, no futuro quem sabe?

Por exemplo, a palavra “dinossauro”. Uhhh, que palavra horrível, quase um palavrão. Porque “dinossauro” faz lembrar a evolução e isso não fica bem: e se a família da criança for criacionista? A criança fica perturbada.
Quer isso dizer que desaparece também a palavra “Deus” para não perturbar os evolucionistas? Não, “Deus” fica porque In God We Trust, em Deus acreditamos, como é possível ler imprimido nos Dólares.

“Halloween” também tem que ser apagado. É que faz lembrar o paganismo.

“Aniversário”? Também, porque as Testemunhas de Jeová não celebram isso, depois ficam perturbadas.
Obviamente há quem ache tudo isso ridículo: fazer passar a lista das palavras “proibidas” não será fácil.

 Jamella Lewis, estudante da Curtis High School, diz à CBS:

Se você não comemorar uma coisa, pode sempre ter um amigo que faz isso. Não há nada de ofensivo nisso.

Justo. Mas esta Jamella deveria ser chumbada. Assim, tanto para tornar claro quem é que manda aqui.
A rapariga tem ideias esquisitas e não está a ver bem o ponto: poderia ser definida uma “doente” se a palavra não constasse da lista.

– Olá Peter. Como estás?
– Um bocado doen…
– Eh?
– Bem, professor, estou bem.
– Ahhh…e os teus pais?
– Enfim, divorciar…
– Ehhhh?!?
– Bem, professor, estão bem e são felizes.
Porque a ideia do “divorcio” pode ser perturbadora também. Melhor evitar.

Dennis Walcott, do Departamento de Educação, explica que estas são simplesmente orientações para os desenvolvedores de testes. E se são orientações, e não leis, qual o problema? Como dizia Estaline.

Eis a lista das 50 palavras que podem tornar-se proibidas:

Abuse (abuso)
Alcohol, tobacco, or drugs (álcool, tabaco ou drogas)
Birthday celebrations and birthdays (aniversário e celebrações de aniversário)
Bodily functions (funções corporais)
Cancer and other diseases (cancro e outras doenças)
Catastrophes/disasters, tsunamis and hurricanes (catástrofes/desastres, tsunamis e furacões)
Celebrities (celebridades)
Children dealing with serious issues (crianças com problemas)
Cigarettes and other smoking paraphernalia (cigarros e artigos para fumadores)
Computers in the home (computador em casa)
Crime (crime)
Death and disease (morte e doença)
Divorce (divórcio)

Evolution (evolução)
Expensive gifts, vacations, and prizes (prendas caras, férias e prémios)
Gambling involving money (jogo que envolva dinheiro)
Halloween
Homelessness (sem abrigo)
Homes with swimming pools (casas com piscina)
Hunting (caça)
Junk food (comida de plástico)
In-depth discussions of sports that require prior knowledge (discussões aprofundadas acerca do desporto que exijam conhecimentos prévio)
Loss of employment (perda de emprego)
Nuclear weapons (armas nucleares)
Occult topics(assuntos relacionados com o ocultismo)
Parapsychology (parapsicologia)
Politics (politica)
Pornography (pornografia)
Poverty (pobreza)
Rap Music (música rap)
Religion (religião)
Religious holidays and festivals (festividades religiosas, incluído Natal)
Rock-and-Roll music (música rock)
Running away (fugir)
Sex (sexo)
Slavery (escravidão)
Terrorism (terrorismo)
Television and video games excessive use (uso excessivo de televisão e videojogos)
Traumatic material including material that may be particularly upsetting such as animal shelters (material traumático, tal como abrigo de animais)
Vermin, rats and roaches (animais nocivos, como ratos ou baratas)
Violence (violência)
War and bloodshed (guerra e derramamento de sangue)
Weapons, guns, knives, etc. (armas, facas)
Witchcraft, sorcery, etc. (bruxaria, feiticeira, etc.)

Imaginem uma juventude sem estas palavras: não é bem melhor, mais limpa, mais politicamente correcta? O objectivo é este: criar uma sociedade de deficientes.

Obviamente é possível levantar uma questão: então, vamos proibir as palavras para depois deixar que as crianças fiquem horas na frente duma televisão com homicídios e violências sem interrupções? Sim, são duas formas pedagógicas diferentes.
No primeiro caso, o cérebro é treinado para afastar determinados conceitos que poderiam ser desenvolvidos de forma individual (e perigosa); no segundo caso, a televisão espalha violência institucionalizada, permitida e propedêutica, num cérebro meramente passivo.

Seja como for, os Estados Unidos dão o exemplo, agora é só os outros Países seguir. Eis uma ideia acerca de alguns termos que, no meu ver, seria possível retirar das escolas portuguesas enquanto supérfluos ou perturbadores:

Alternativa, Austeridade, Contas, Corrupção, Crise, Depressão, Desemprego (incluído o  subsidio de desemprego), Equipas de futebol (permitido: Benfica), Esquerda, Extremistas, Fascistas, Gasolina, Governo, Greve, Oposição, Ordenado, Pobreza, Políticos, Protestos, Reforma, Revolução, Tristeza, Velhice, Beterraba.

“Beterraba”? À sério, odeio beterrabas…

Ipse dixit.

Fonte: CBS

5 Replies to “As palavras proibidas”

  1. Ótimo post Max

    Quer mudar a geração futura comece mudando a educação das crianças hoje, podemos condicionar as crianças da forma que bem entendermos, toda a educação que recebemos na infância se reflete depois em nós como adultos.
    As mudanças só acontecerão quando mudarem a educação das crianças, seja para um mundo melhor ou para um mundo pior, mas a verdade seja dita que as crianças são a solução. E "eles" bem sabem disso.
    E foi pensando nisso que se institucionou a obrigatoriedade da escola na vida das crianças, os pais são obrigados a deixarem seus filhos serem manipulados.

    Cabe aos pais agora tomarem um providência e deixar de serem omissos com a educação dos filhos em casa e na escola.

    Um grande abraço meu amigo

  2. Olá Max e BURGOS: grande post Max, nada a comentar, está tudo dito no post. Só acho, BURGOS, que no ponto em que chegamos a educação em casa, ia resultar igualzinha, na maior parte dos casos.Também já fui absolutamente contra a educação institucionalizada…mas. Considera pensar que o jeito de ser no mundo está tão homogeneizado que a educação dos lares não muda muito com a fornecida nas escolas, claro, com honrosas exceções. Considera também que é nas escolas que as crianças pobres comem, e muitas vezes encontram um tipo de apoio que não recebem dos pais. Só um exemplinho mínimo: na escolinha que a Mariazinha "aprende a viver" são as professoras que tiram os piolhos das cabeças de muitas crianças pequenas. Abraços

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