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O fim do mundo. Como sempre.

É Sexta-feira, dia da ficção científica. Desde quando? Desde hoje.

Circula na internet o resumo dum “evento planetário”, uma espécie de The Big One, que é suposto acontecer nestes dias-semanas-meses.

Tudo parte das centenas de demissões que efectivamente tiveram lugar nos últimos tempos e que atingem lugares-chave no mundo da política mas sobretudo da economia e da finança.

Vamos ler, do site Stampa Libera:

Instruções anti-pânico: The Big One

O primeiro passo do evento que irá literalmente mudar a face do mundo como nós o conhecemos consistirá na prisão em massa de funcionários corruptos nos governos e nas instituições financeiras das grandes potências mundiais: ao todo, mais de 10.000 pessoas serão presas e informadas das suas responsabilidades. [nota: só 10.000 corruptos em todo o mundo? Eu disse que era ficção científica…]

A notícia da operação terá uma força de impacto que os media, mesmo que controlados de forma centralizada e instruídos para negar o conhecimento dos factos reais, não poderão ignorar por muito tempo. [poderiam, poderiam, fiquem descansados…]

Acontecerá a seguinte situação: um pequeno grupo de jornais e televisões, que já assinou acordos com a coligação que está a gerir a operação The Big One, vai quebrar o silêncio, dando a notícia das prisões excelentes e contagiando todos os outros jornais.

Ao longo de alguns tempos (horas ou dias, depende de muitos factores) haverá uma situação mista, com uma atmosfera muito estranha, onde a população será totalmente não preparada, em confusão, enquanto aqueles que estão a ler isso já terão sido preparados e saberão como mexer-se. [grande sorte a nossa]

Importante nesse intervalo de tempo é olhar ao redor com cuidado para ver quais os posicionamentos dos media e compreender a verdadeira função de doutrinação que tiveram em todos esses anos: os últimos jornais que abandonarem o silêncio sobre as prisões excelentes mostrarão com certeza que tinham sido até então os mais controlados pelos criminosos ao poder. [no comment]

Em seguida, todos divulgarão as notícias para manter o ritmo.

Neste ponto, as pessoas, percebendo a grandiosidade do evento, poderão pensar com horror num golpe de estado global, realizado para colocar em prática um governo mundial centralizado, acerca do qual os líderes já falaram em várias ocasiões, chamando-o “Nova Ordem Mundial”. [cá está ela]

É importante entender que a operação, que nós aqui chamamos The Big One, é exactamente o oposto: é na verdade a frustração cirúrgica deste projecto louco dum governo mundial com base na lei marcial.

Como prova irrefutável do carácter positivo da operação e o facto desta ser feita para a nossa vantagem, logo após as prisões será anunciada a introdução dum novo sistema financeiro, com o qual as dívidas que constituem a base da crise global serão apagadas, dívidas que são o resultado de truques elaborados mas totalmente desprovidos de qualquer fundamento e legitimidade.

O artigo continua com delírios para todos os gostos. Resultado final: apesar dos problemas (retaliações, falta de comida, etc.) o bem triunfa.

Eu fico triste cada vez que leio estas coisas. Vivemos uma situação complicada, somos espectadores da queda do império, uma época dominada por graves injustiças e abusos, com guerras em vários cantos do planeta, exploração humana, progressivo esgotamento dos recursos naturais: e tudo o que o mundo da informação alternativa consegue produzir é este monte de lixo.

“Tudo”? Sim, tudo: porque escrever acerca das centenas de ogivas nucleares de israel é algo que fica entre um restrito número de “aficionados”, enquanto partilhar idiotices como estas significa sucesso garantido.

Culpa de quem? Nossa, de quem escreve, e vossa, dos Leitores.

Nós, os blogueiros, sempre à procura de notícias bombásticas que possam garantir cada vez mais leitores para o nosso blog ou site e possam assim alimentar a nossa mania de protagonismo, de “bem informado”, de “sabedoria”. E paciência se o facto de ser “bombástico” implica basear-se em fontes duvidosas ou não ter mesmo alguma base de veridicidade.

Vocês, os Leitores, sempre à procura de algo que consiga mexer nos sentidos cada vez mais habituados à sobreposição dos excessos mediáticos.

E quando os blogueiros são também leitores, o que é normal, o círculo é fechado.

Alienígena, Nova Ordem Mundial e anti-eméticos

Não passa dia sem que algures na internet seja anunciado o fim do mundo. Ou são os extraterrestres que dominam o planeta e utilizam os humanos como gado. Ou são os mesmos extraterrestres que querem voltar para a Terra para empregar a raça humana nas minas de ouro. Ou são lagartos disfarçados de políticos. Ou políticos disfarçados de lagartos (por acaso ninguém pensou ainda nisso: acho que vou explorar o assunto). Quando o tema extraterrestres já não pega, eis que surge a Nova Ordem Mundial.

Meus amigos: não há nenhuma raça extraterrestre que quer explorar a raça humana. Pela simples razão que o Homem não precisa de alienígenas: é já suficientemente estúpido e cruel assim. Pelo contrário: acho que seriam os alienígenas a fugirem horrorizados. Nos mapas interestelares, a Terra deve estar indicada com um aviso do tipo “Atenção: a visita a este lugar pode gravemente afectar a vossa saúde mental. Não desembarcar sem anti-eméticos”.

O Sol não está a explodir, podem ficar descansados: funciona há 5 mil milhões de anos e continuará a funcionar ao longo de igual tempo. Não há contas de electricidade para pagar, funciona de forma natural e  tenciona continuar a fazê-lo. Pode estar um pouco enervado, isso sim, mas não irá explodir ou desligar-se.

E a Nova Ordem Mundial? Como dizia a um Saraiva empenhado em afundar o garfo num enorme prato de massa com tomates cherry, não existe nenhuma Nova Ordem Mundial. Pela simples razão que não é “Nova”: sempre existiu e sempre existirá um grupo de pessoas que querem dominar o mundo.

O Império romano era uma Nova Ordem Mundial, as invasões árabes eram uma Nova Ordem Mundial, Napoleão era uma Nova Ordem Mundial, Hitler era uma Nova Ordem Mundial, os Estados Unidos são uma Nova Ordem Mundial, talvez a China e a Rússia amanhã. Nada de lojas maçónicas e satanismo; que existem, sem dúvida, mas são aspectos folcloristas. O verdadeiro poder é económico, tal como sempre foi.

O problema de fundo somos nós: este é o resumo de tudo o que foi dito neste blog ao longo dos últimos dois anos. “Nós” enquanto raça e “nós” enquanto indivíduos.

O problema: nós

Enquanto raça, temos de admitir: após dezenas de milhares de anos, ainda estamos aqui empenhados na procura dum metal amarelo que extraímos do subsolo para fecha-lo numa cave, outra vez no subsolo. E já isso deveria ser motivo de reflexão acerca da nossa alegada superioridade.

Empregamos boa parte das nossas riquezas para produzir armas que possam destruir o homem de forma cada vez mais eficiente. E aqui entramos em cena “nós” enquanto indivíduos: porque estas armas são construídas com o nosso dinheiro, os nossos impostos. E aceitamos isso com extrema naturalidade. Porque falar de tolerância e irmandade é muito bonito, mas a defesa das fronteiras, uuuh a defesa das fronteiras, quantos perigos há lá fora…

“Lá fora” há pessoas como nós, com famílias como a nossa, cujo desejo é ter uma vida tranquila, com algumas satisfações, rodeadas pelo afecto dos entes queridos.

Mas “nós” somos as mesmas pessoas que correm para as urnas e elegem uma cambada de corruptos pervertidos, ao serviço de empresas enlouquecidas. Somos “nós” que decidimos entregar o nosso destino nas mãos dum grupo de doentes mentais, elementos tarados da nossa espécie com princípios no mínimo alterados.

Então voltemos ao discurso do princípio: se aceitarmos entregar as nossas vidas nas mãos destes degenerados, e de facto aceitamos (aliás, desejamos isso e até criamos um termo apropriado para este ritual: Democracia), isso significa que o problema somos “nós”.

O “povo é bom” e os “políticos são maus”? Nada disso. O povo deixa que os elementos mais pervertidos tomem o controle da situação: o povo tem o governo que merece. Até nos poucos ataques de raciocínio, em ocasião das revoluções, deixamos que a situação fuja de mão e acabe invariavelmente sob o controle dos pervertidos.

Agora, os pervertidos criaram um sistema económico-financeiro que nem nos sonhos do pior serial killer poderia tomar forma. E que faz o povo? Nada. Observa, critica, queixa-se. No máximo reúne-se em épicas manifestações de rua que deixam tudo como antes (como em Portugal ontem). “É uma vergonha”. Sim, de facto é. Mas como chegámos até aqui? Quem foi às urnas? Quem elegeu estes gajos? Quem continua a eleger?

“Somos controlados pelos media”. Sim, correcto. Correcto? Não, lamento: incorrecto. Os media são outro álibi que gostamos de utilizar para justificar a nossa cobardia. Têm um papel essencial na manutenção da situação, está fora de dúvida. Mas nós gostamos que a situação seja mantida. Desejamos fortemente que assim seja.

Porque dos milhões de pessoas que morrem de fome no mundo não queremos saber. Não ligamos. Continuamos a comprar produtos que são fabricados por trabalhadores explorados que ganham um Dólar por dia (e alguns nem isso). Ficamos em êxtase perante o nosso novo iPhone, Mac, Blackberry ou tablet, sabemos que são o fruto da exploração de nossos similares mas não queremos pensar nisso. É mais fácil.

Assim, somos obrigados a inventar o quê? O fim do mundo, com o Sol que explode ou os extraterrestres malvados que invadem o planeta. Isso exorciza o nosso sentimento de culpa, pomos nas mãos dos outros (o imponderável) o que nós não temos a coragem para fazer. Nos casos mais patéticos, como aquele apresentado aqui, imaginamos uma obscura mas positiva força que magicamente possa emergir e fazer limpeza num The Big One.

Porque, que fique claro, há sentimentos de culpa: somos bem conscientes da nossa cumplicidade. Toleramos os pervertidos no poder não por estes controlarem o mundo com a força (alguma vez o Leitor foi espancado por não ter adquirido o iPhone?), mas porque fazem o trabalho sujo que nós desejamos. E o trabalho sujo é a manutenção da nossa sociedade tal como ela está.

Votamos nas urnas porque sabemos que esta é a melhor forma de preservar o ambiente, o nosso ambiente. Quando a nossa hipocrisia atingir um bom nível, escolhemos a oposição porque “eles sim que são diferentes”.

Diferentes? Em quê? O vosso partido “diferente” alguma vez explicou o que realmente é a dívida pública? Como funciona? Quem cria o dinheiro? Como? O papel das grandes famílias que controlam a finança mundial? O que fazem os bancos? O que é um derivativo ou as outras anomalias que gostamos de chamar “finanças”? O facto dos bancos centrais serem privados ou serem controlados por privados? O facto de juros e usura serem a mesma coisa? O facto de ser possível um sistema bancário sem juros? Alguma vez o vosso partido diferente explicou que a política é feita todos os dias, na escolha dos supermercados e dos produtos?

O vosso partido alguma vez explicou isso? Não? Simples: não pode. E não quer, exactamente como os seus eleitores: ninguém está interessado nisso. Nem o mundo da informação alternativa, que prefere os ataques alienígenas.

Pena, pois há alternativas.

Os Valores Universais

Ao longo da nossa aventura na Terra surgiram ideias realmente revolucionárias. Boas ideias.
Infelizmente a maioria delas acaba cedo sob a rotulagem de “religião” e isso estraga tudo. Porque as religiões institucionalizadas são outra forma de poder e, enquanto tais, têm de ser controladas e geridas por outros degenerados.

Mas os princípios dum Buda ou dum Cristo são positivos. Aliás, a maioria das religiões têm princípios que na origem (e só na origem) são bons princípios. Depois, como afirmado, chega um degenerado qualquer e tudo fica estragado. Mas os princípios ainda lá estão para quem deseje vê-los.

É um discurso complicado este: quem por uma questão de preconceito ficar afastado das religiões (Cristianismo, Budismo, Comunismo, Islamismo, Confucionismo, Hinduísmo, Taoismo, são apenas alguns dos exemplos possíveis) não percebe que afinal estes são os mesmos princípios que qualquer pessoa com um mínimo de matéria cinzenta em funcionamento não pode não apreciar. São valores universais, por isso as religiões têm sucesso e, no início, ampla difusão. Por exemplo: entre o Comunismo e o Cristianismo praticado pelos primitivos grupos de Cristãos, as diferenças são realmente mínimas (e quem afirmar o contrário significa que não sabe como viviam estas primeiras comunidades, não venham com histórias).

Respeitar os outros. Não roubar. Não matar. O tempo do justo descanso. Cuidar da família. Não ter inveja. Aprender a perdoar. Ser tolerantes. As religiões de maior sucesso, Comunismo incluído, têm estes princípios. Pelo menos no início. Depois, como vimos, a coisa degenera, mas este é outro discurso. O que importa é que o Homem consegue estabelecer estes Valores, que continuam acessíveis para todos.

Fiquem descansados, não estou em crise mística, nem quero converter os Leitores, bem pelo contrário: é só que é possível ter esperança, apesar de ser complicado, e o Homem, como afirmado, já conseguiu imaginar sociedades bem melhores do que a presente. Existiram e ainda existem determinados Valores que incidentalmente (mas com lógica) constituem também a bagagem doutrinal das religiões mas que, na verdade, são Valores absolutos, independentes da presença dum Deus.

Tais Valores, como afirmado, ainda existem. É só desejar vê-los.
E aqui começam os problemas: porque vê-los não é suficiente, depois é preciso aplica-los. E quem renuncia ao seu iPhone?

Bom fim de semana para todos.

Ipse dixit.

Fontes:Stampa Libera
Imagem: Tra Cielo e Terra