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Falar do Tibete fica mal

Acho que nunca este blog falou do Tibete.
Mau.

Resumo dos últimos 60 e poucos anos.
Em 1949 Mao Tzedong proclama a República Popular Chinesa e invade o Tibete: revoltas, dezenas de milhares de mortos, destruição de templos e de obras artísticas. O Comunismo no seu melhor.

Mas porquê falar do Tibete agora?
O facto é que cada vez mais monges budistas tibetanos usam a imolação como forma de protesto contra a repressão da liberdade religiosa por parte de Pequim. O suicídio, no entanto, não consegue atrair a atenção mundial sobre a questão tibetana.

Os observadores atribuem isso ao crescimento da China até o status de super-potência económica, e, portanto, as delegações dos governos ocidentais evitam tratar o problema com Pequim. Nenhum primeiro-ministro ocidental vai para Washington para falar da base de Guantanamano, certos assuntos devem ser evitados. O mesmo se passa na China.

Desde Fevereiro de 2009, pelo menos vinte e oito tibetanos morreram entre as chamas numa vaga de protestos, e nos últimos três meses outros quinze casos foram notificados no Himalaia. Isto levou a que os tibetanos no exílio lançassem um alerta mundial contra as políticas chinesas contra o Tibete. No entanto, nenhum governo estrangeiro está disposto a fazer pressão sobre Pequim e o alerta ficou letra morta.

Dibyesh Anand, professor adjunto de relações internacionais na Universidade de Westminster, Londres:

Com o crescente poder económico da China e o declínio do Ocidente, a causa tibetana é susceptível de ser limitada a uma pequena parte da sociedade civil. No passado, os governos ocidentais prestaram ainda formalmente um pouco de atenção aos direitos dos tibetanos. Como a China aumentou o nível, as intenções de desestabilização ocidentais desapareceram.

Frustrados pela indiferença do mundo, os seguidores do Dalai Lama, líder espiritual tibetano no exílio, continuam a luta dentro e fora da China para um Tibete Livre.

As autoridades chinesas intensificaram a vigilância nas áreas habitadas por tibetanos em Março. O dia 10 deste mês marcou o aniversário da fuga do Dalai Lama para a Índia depois de uma revolta armada fracassada em 1959 contra o domínio chinês e a luta mortal nos protestos em Lhasa, capital do Tibete. Observadores alertam que os sacrifícios poderia aumentar este mês.

De acordo com a Xinhua News Agency, o último sacrifício ocorreu no passado dia 14, na província de Qinghai. Jamyang Palden, um monge do mosteiro de Rongwo, saiu do seu templo às 10:42, usava roupas encharcadas de gasolina, e com um isqueiro pôs-se em chamas.

Xinhua, citando um porta-voz local, disse que os seguranças nas proximidades correram para apagar o fogo e transportar o monge para o Hospital do Povo de Huangnan. Mas ao meio-dia, alguns monges e moradores locais foram até o hospital e trouxeram Jamyang Palden para a rua, para que pudesse completar o próprio sacrifício.

Quatro dias antes, no dia 10 de Março, um jovem monge tibetano, Gepey, do mosteiro de Kirti, Prefeitura de Aba, na província de Sichuan, deu-se fogo. O grupo de activistas de Londres, Free Tibet, comenta:

Gepey, 18 anos, imolou-se atrás de um acampamento militar no dia 10 de Março em Aba. […] Os moradores tentaram ficar com o corpo mas o pessoal de segurança não permitiu.

Poucos dias antes, em 6 de Março, um manifestante de 18 anos, Dorjee, pôs-se em chamas e morreu, também na prefeitura de Aba. O grupo Save Tibet comenta:

Antes de se sacrificar e morrer, Dorjee tinha entrado num escritório do governo no condado de Naba (prefeitura de Aba) gritando palavras de ordem contra as políticas do governo chinês.

Os sacrifícios estão a aumentar em áreas habitadas por tibetanos em Sichuan e Gansu, fora da Região Autónoma do Tibet.

Alguns funcionários do governo chinês recentemente denunciaram os actos de sacrifício como “terrorismo suicida”, e consideram responsável o Dalai Lama.

Alguns comentaristas chineses dizem que o Dalai Lama incita deliberadamente os protestos suicidas fora do Tibete apenas para “justificar” a reivindicação de um “Grande Tibete”, em outras palavras para mostrar que a sua influência se estende até áreas habitadas fora do Tibete.

Zegang Wu, chefe da prefeitura de Sichuan, em princípio tinha feito acusações semelhantes:

Alguns dos suicídios foram cometidos por homens religiosos que tinham regressado a uma vida laica, e todos tinham anteriores actividades criminosas ou suspeitas. Eles tinham uma má reputação na sociedade.

No entanto, numa conferência de imprensa em Pequim, em 14 de Março, no final da sessão anual do Congresso Nacional Popular, primeiro-ministro chinês Wen Jiabao parecia tocar outras teclas, dizendo que estava “profundamente chocado” com os sacrifícios:

Os jovens tibetanos são inocentes. Estamos profundamente chocados com o comportamento deles.

Também acrescentou que o governo chinês se opõe a tais actos radicais que perturbam e prejudicam a harmonia social.

Wen acusou também o Dalai Lama e o governo tibetano no exílio em Dharamsala de tentar separar o Tibet da China: “Acerca desta matéria temos uma firme posição de princípio.”

Enquanto isso, os exilados tibetanos negam as acusações e continuam a série de protestos contra as políticas de Pequim, pedindo a intervenção dos governos das Nações Unidas.

Na véspera do aniversário da revolta fracassada de 1959, foram organizados fortes protestos desde a capital do exílio em Dharamsala, Índia, até Times Square, New York. Greves de fome, vigílias, protestos e oposição popular têm sido testemunhadas em cada comunidade tibetana no mundo.

Em 8 de Março, no final dos Cinco Dias de Monlam Chenmo (um grande festival de oração), em Dharamsala, o Dalai Lama disse:

Agora a verdade é reprimida violentamente no Tibete […] a verdade está perdendo força e poder, mas não podemos fazer muita coisa.

No dia 10 de Março, aniversário da revolta, Dr. Lobsang Sangay, o primeiro-ministro do governo tibetano no exílio, disse:

Faço um brinde para as pessoas corajosas que sacrificaram tanto para o Tibete. Apesar de 53 anos de ocupação pela República da China (RPC), o espírito do Tibete e a sua identidade permanecem intactos […] É culpa da intransigência dos dirigentes em Pequim. Esperamos que no futuro os líderes chineses possam começar uma mudança real e encontrar a sabedoria para admitir que a longa e rígida política do governo no Tibete falhou.

Os Países que fazem fronteira com a China, como Nepal e Índia, parecem ter sucumbido ao poder económico da China e fazem o seu melhor para evitar qualquer activismo anti-China. Não há outros Países asiáticos que têm demonstrado uma preocupação real com os acontecimentos do Tibete. Em vez disso, os governos enfatizam cada vez mais o reconhecimento do Tibete como parte da República da China (RPC) e o facto deste ser um assunto interno da China.

Os Países ocidentais, que primeiros levantaram a questão do Tibete nas relações com a China, agora parecem ignorar o assunto quando negoceiam com Pequim.

Durante uma visita nos Estados Unidos do vice-presidente chinês Xi Jinping (provável sucessor de Hu Jintao no final deste ano), Barack Obama e altos funcionários norte-americanos nunca abordaram a questão do Tibete. Não admira: Obama é Nobel da Paz e deseja paz sobretudo nas conversações com os dirigentes chineses.

Esquisito pois pouco antes o Coordenador Especial dos EUA para os Assuntos Tibetanos, Maria Otero, tinha declarado:

O governo dos EUA tem directamente e constantemente levantado o problema dos sacrifícios tibetanos. O governo dos EUA instou repetidamente com governo chinês para que sejam travadas as políticas contraproducentes na área tibetana, que têm criado tensões e ameaçam a identidade separada de diversidade religiosa, cultural e linguística do povo tibetano.

Conclui o professor de Westminster, Dibyesh Anand:

Com respeito às questões de direitos humanos, os relatórios provenientes dos Países do Sudeste da Ásia são terríveis. Enquanto o Nepal está a agir contra os seus habitantes tibetanos como se fosse um substituto do governo chinês, a conduta da Índia é apenas melhor “, disse Anand, da Universidade de Westminster.

E Elliot Sperling, professor e especialista sobre a história do Tibete da Indian University:

A China exerce influência sobre os críticos dela por causa do poder económico e isso se

Lobsang Wangyal, um empresário tibetano que vive exilado na Índia:

Há muito os tibetanos no Tibete não são felizes sob o regime chinês. Os sacrifícios dizem que eles não brincam, mas o mundo presta pouca atenção. Isso dá a sensação que vinte e cinco tibetanos que põem em perigo as suas vidas ainda não são suficientes e que há necessidade de sacrificar mais vidas.

Profecia tibetana do IX século contida num Gterma, os papeis escondidos dos mestres:

Quando a ave de ferro voar, os cavalos correrão sobre rodas,  chegarão o homem vermelho e a destruição.

Ipse dixit.

Fonte: Asia Times