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Só algumas notas acerca do que ” tem que ser feito”…

Olá pessoal!

Bom, vamos ver algumas notas antes de retomar a actividade normal do blog.
A intenção não é deitar abaixo a Assembleia da República. E, se fosse, não publicaria isso no Blogger LOLOLOL.

Não, que dizer, haverá algo um pouco mais “soft”, não é?

Voz, percebo o que dizes e em boa parte partilho o teu ponto de vista. Já te aconteceu fechar os olhos antes de dormir e imaginar como seria ter 24 horas para fazer um pouco de limpeza por aí fora? Tipo ser “Rei do Mundo” e endireitar um pouco as coisas.

A parte triste é que por enquanto ninguém decidiu nomear-me Rei do Mundo, o que é lamentável e, do meu ponto de vista, incompreensível.
Por isso, não podendo gozar duma imunidade de origem nem divina, sou obrigado a fazer as contas com o mundo que temos, um mundo onde há regras que têm de ser respeitadas. Acho que, até quando for possível, é sem dúvida preferível seguir um caminho pacífico.


É possível combater o actual sistema usando as mesmas regras do sistema? Acho que não. Custa-me afirmar isso, mas se vamos observar as forças em campo, podemos ver uma enorme disparidade. Sim, temos sempre os exemplos de David e Golias ou de Gandhi, mas enfim, tentamos ser realistas…

Todavia, repito, continuo a pensar que até quando for possível, qualquer forma de “resistência” terá de passar pelo uso da palavra. E isso por várias razões.

Poderia falar numa suposta “superioridade” nossa em relação aos dirigentes do sistema, mas esta é uma idiotice. Acho que os pontos mais importantes sejam especificamente dois:
1. é muito simples cair na rotulagem do terrorismo
2. a maioria das pessoas nem sabe o que se está a passar.

Ponto 1: quem quer ser um terrorista?

É muito simples: é só usar a força contra um alvo qualquer do sistema. Uma molotov contra a Assembleia da República? Eis criado um perigoso grupo armado que põe em risco as instituições democráticas da República.

E, claro está, perante um ataque ao coração da Democracia é obrigatório o uso de forças especiais, altamente treinadas para enfrentar tais perigos: sorte nossa, estas forças existem e poderá contar com a ajuda dos media que , sem dúvida, irão relatar as vergonhosas acções dos terroristas caseiros com pormenores inéditos, coisas que nem os alegados “terroristas ” conhecem.

Depois há as consequências: porque pode haver atentados que os mesmos terroristas até desconhecem, mas são atentados que acontecem e que criam um clima de insegurança no País. E, perante a insegurança, o povo não tem dúvida: é serrar as fileiras em defesa da ordem constituída.

Como já disse algumas vezes, tive a ocasião de viver os últimos anos do terrorismo em Italia e sempre tentei perceber quais as ideias dos terroristas em questão (mesmo sem partilha-las): já vi estas coisas e com um pouco de imaginação todos podem ter uma ideia.

A violência acaba por jogar contra quem deseja mudar um sistema. A não ser que o sistema já esteja em avançado estado de decomposição. Mas não é este o caso. Então vamos ao segundo ponto.

Ponto 2: o grande sono
  
Nesta altura não é possível falar de verdadeira alternativa neste País: simplesmente não há, não existe. Não há circulação de ideias contrárias, tudo está limitado à óptica mainstream.

Os únicos que poderiam difundir um discurso alternativo são os partidos de Esquerda, mas fazem isso de forma tão delicada que resulta não perceptível. E, claro está, não é um mero acaso. Quando vejo os gajos na televisão é uma depressão total.

O Partido Comunista, por exemplo: a mensagem que está a passar agora é que os salários têm que subir. Bonito, bonito mesmo, um programa e pêras, sem dúvida. Aumentamos os salários, no prazo de três meses a inflação aumenta e será cómodo dizer “Viste que aconteceu? Aumentaram os salários e fizeram subir a inflação”. Mas que raio de programa é “aumentar os salários”?

Nos próximos meses já espero “Aumentamos as reformas”, até o final do ano, com um pouco de sorte, teremos o “Aumentamos as férias”.

O Bloco de Esquerda desapareceu. Tinham falado de recusar a dívida, depois evidentemente receberam alguns telefonemas (tipo “Vocês têm que fazer a oposição mas não se estiquem”) e abandonaram a ideia. Agora estão desaparecidos em combate.

O Partido Socialista (que de Esquerda já não é) casou o programa do governo, nem a fadiga de fazer oposição.

A oposição não existe. E não existe também porque ninguém sente a necessidade duma verdadeira oposição: como podem as pessoas pedir uma verdadeira oposição se desconhecem a existência duma alternativa? A oposição que é pedida fica sempre no âmbito das soluções já apresentadas.

A mesma existência dum partido que ainda se faz chamar “comunista” em Portugal é o sinal mais claro de que estamos perante uma oposição de fachada. Ou alguém ainda pode acreditar num governo português liderado pelo PCP (Partido Comunista Português)? A única forma do PCP chegar ao governo seria, eventualmente e bem pouco possivelmente, numa coligação com o PS, o Partido Socialista (o segundo partido em Portugal). O que significa: em coligação com o sistema. E isso porque a oposição em Portugal é parte integrante do sistema.

A palavra

Se existisse uma oposição digna deste nome, nesta altura já estaria nas ruas. Para fazer o quê? Para dizer as coisas que já forma publicadas neste blog. Não teorias, mas factos.
Por exemplo: explicar aos cidadãos que o dinheiro utilizado (o Euro) não é dinheiro de Portugal e nem da União Europeia, mas dinheiro dum banco na posse dos privados (o Banco Central Europeu).
Ou que existe um conjunto de pessoas não eleitas que decidem o que o Parlamento Europeu (este sim eleito) pode votar para a aprovação ou não.
Coisas tão simples mas que mesmo assim a maioria das pessoas ignora.

Será que a situação poderia melhorar se as pessoas conhecessem tal género de coisas? A minha resposta é “não”. E sem dúvida alguma. Porquê? Porque o sistema somos nós. Foi criado e continua a viver com a nossa ajuda e cumplicidade, já falámos disso muitas vezes.

Mas há pessoas lá fora, tal como aquelas que nesta altura estão a ler estas linhas. E se há mais de 150 pessoas que a cada dia gostam de receber os artigos via e-mail, isso pode significar três coisas:

  1. esqueceram a password da conta do correio e não conseguem anular a subscrição
  2. são masoquistas
  3. querem encontrar repostas ou, no mínimo, querem duvidar. 

Acredito que a maioria faça parte da terceiro grupo. Pelo menos espero. E se um pequeno blog consegue fazer isso (150 e-mail mais 600 Leitores por dia) apenas com a simples força dum rato (o hardware, não o bicho), o que pode acontecer com um discurso “cara a cara”?

Não uma revolução, sem dúvida insultos e discussões, mas também o encontro de outras pessoas que desejam mudar algo. Pessoas com ideias.

Peguem no exemplo da Rita. Da primeira vez que li as sugestões dela pensei “esta rapariga tem problemas”. Depois li com mais calma: Rita tem razão, completamente. Difundir, envolver, partilhar. Está aqui um blog que tem a participação de cabecinhas pensantes de dois continentes. Não é pouco. Agora quero encontrar outras cabezinhas, desta vez nas ruas.

Não estou a ver-me como O Grande Despertador, o Homem que vai pelas ruas afastando a capa maléfica para libertar a alma das pessoas. Não sou a versão lusitana de Neo, o herói de Matrix. Seria o primeiro a rir de mim. E Neo não tinha um cão. Sou uma pessoa que tem dúvidas (estas nunca faltam) e que acredita que algo pode ser feito. Talvez demore, quem sabe? Mas cedo ou tarde é preciso começar, como costuma dizer Leonardo.

Ipse dixit.