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Falkland: Acto II

Em 1983, os Pink Floyd publicaram The Final Cut, 12º álbum do grupo.

Não o melhor trabalho deles, sem dúvida, mas interessante porque descreve o Reino Unido num particular momento histórico: a época conservado do governo de Margareth Tatcher e a guerra das Falklands (ou Malvinas).

As ilhas ao largo da Argentina tinham sido ocupadas pelas forças do regime militar de Leopoldo Galtieri, na altura ditador do País, e isso provocou a intervenção das forças inglesas: foi uma guerra de curta duração (19 de Março – 14 de Junho), que custou a vida de 900 soldados e reafirmou a soberania britânica neste canto do mundo perdido no meio do Oceano Atlântico. 

Em Buenos Aires, como em outras cidades argentinas, há vários monumentos dedicados aos soldados que morreram nas Ilhas Falkland e centenas de cartazes com uma única frase:. “Las Malvinas são argentinas”. Ainda? Sim, ainda.


30 anos após o conflito, há uma nova escalada de tensões entre Argentina e Grã-Bretanha, intensivamente tratada pelos media. Isso significa que “Las Malvinas” poderiam voltar a ser um cenário de guerra? A resposta é sim. E desta vez as razões não são políticas (na altura tanto Galtieri como a Tatcher desfrutaram a intervenção para fins propagandistas), mas económicas: nas Falkland há petróleo, e muito.

Quanto? Segundo os especialistas britânicos, as reservas das Malvinas têm a mesma importância do petróleo do Mar do Norte: 60 biliões de barris, mas é provável que o total seja superior e que Londres tenha “cortado” as estimativas para não enervar ainda mais Buenos Aires.

Os relacionamentos entre os dois Países, restabelecidos desde 1990, arriscam assim voltar a estragar-se.
Em 1995 as duas nações assinaram um acordo sobre a investigação conjunta de petróleo e gás no fundo das Malvinas, cooperação que foi supervisionada pela comissão argentino-britânica.

No entanto, os dois Países não conseguiram estabelecer uma benéfica parceria para a produção e a venda de hidrocarbonetos. Os britânicos tentaram tirar proveito da situação e acusaram os argentinos de “egoísmo e intratável”; a notícia sobre os unilaterais planos britânicos, ao abrigo dos quais algumas empresas começarem a exploração das reservas, provocou a reacção negativa de Buenos Aires.

Em Abril de 2007, no primeiro Energy Summit dos Países da América do Sul, Argentina fez saber que pretendia encerrar a sua cooperação com a Inglaterra para a prospecção e a exploração das reservas de hidrocarbonetos. Em Fevereiro de 2010, a presidente Cristina Fernandez aprovou uma lei que obriga todos os Países estrangeiros a solicitar uma autorização para entrar no raio de 500 quilómetros da costa da Argentina: esta área inclui as ilhas Malvinas, localizadas a 480 quilômetros da costa da Argentina.

No mesmo mês, a primeira plataforma petrolífera foi instalada no território das Ilhas Malvinas, de propriedade da Desire Petroleum, que começou a perfuração. Buenos Aires não escondeu o seu desagrado: a Grã-Bretanha era acusada de usurpar a soberania da Argentina e nem faltavam ameaçam, entre as quais aquela de dificultar a entrega de cargas utilizadas para a produção de petróleo. As palavras foram seguidas pelos factos: as autoridades argentinas, com navios militares, impedem a chegada de embarcações suspeitas de transportar equipamentos para a produção de petróleo.

As forças militares da Marinha e da Força Aérea Argentina intensificaram os exercícios na região e já com o ex-primeiro ministro Gordon Brown o Reino Unido alertou que a situação poderia rapidamente degenerar.

Buenos Aires continua as medidas contra as “ambições colonialistas” da Grã-Bretanha e considera que as Nações Unidas deveriam intervir para garantir também que Londres siga as decisões da Assembleia Geral, da Comissão de descolonização e começar a negociar.

Todas as organizações locais, como a Mercosulm, a Unasul, Selac, e ALBA apoiam a Argentina. Buenos Aires está a tentar transformar a solidariedade numa frente unida de resistência contra “o colonialismo britânico”.

Uma das possíveis medidas que foram discutidas é a de limitar o acesso nos portos da América do Sul aos navios com carga destinada para as companhias de petróleo das Falkland da América do Sul. Sem as bases de apoio na costa, as operações das empresas britânicas não seriam tão eficientes. Em resposta, Londres anunciou planos para organizar fontes alternativas de abastecimento e, ao mesmo tempo, tenta dividir a South America Coalition (Coligação para a América do Sul).

Se Hugo Chávez já manifestou o pleno apoio ao governo de Buenos Aires, os Estados Unidos preferiram mantiver uma posição neutral, por enquanto. Mas não é difícil prever quais dos dois lados apoiaria no caso dum conflito.

É uma situação extremamente delicada, pois a aposta não é apenas representada pelas ilhas ou pelo petróleo: em caso de choque, um revés militar teria um impacto profundo entre as forças anti-americana da região. E poderia representar o começo duma possível “reconquista” do continente, cujas reservas de petróleo atraem o resto do mundo.

A nova disputa sobre as Ilhas Falkland ou Malvinas está por enquanto apenas na fase inicial. Mas a vontade de vingança dum lado e os interesses económico do outro podem ter um preço muito elevado.

Ipse dixit.

Fonte: Strategic Culture