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O simpático mundo de Angela Merkel

Acabámos de entrar num novo mundo.

Neste mundo, imaginado pela chancelera alemã Angela Merkel, as pessoas vivem em humildes cabanas, percorrem trilhos que ligam as longínquas aldeias e quando encontrarem um rio…bom, ou voltam atrás ou arriscam a vida, pois de pontes nem a sombra.

Provavelmente são as lembranças da juventude da chancelera, quando com a sua manta vermelha corria feliz entre as árvores da Floresta Negra para alcançar a cabana onde vivia a avó. Preocupa que estas lembranças agora se tornem uma visão económica.

Ao falar aos alunos da Bela Foundation de Berlim, a simpática Angela disse:

Quem já esteve na Madeira, pôde ver para onde foram os fundos estruturais europeus. Há muitos túneis e auto-estradas bonitas, mas isso não contribuiu para que haja mais competitividade

Na opinião de Merkel, os referidos fundos devem servir para apoiar as pequenas e médias empresas, por exemplo, como ficou decidido no recente Conselho Europeu, em Bruxelas, e não mais para construir estradas, pontes e túneis, como sucedeu, na sua opinião, naquela região autónoma portuguesa.


Agora, eu não gosto nada do governador da ilha, Alberto João Jardim, que tem um conceito de democracia bastante parecido com aquele do Don Vito Corleone interpretado por Marlon Brando. Mas se houver uma coisa que Jardim fez foi melhorar as infraestruturas da Madeira.

Podemos discutir acerca das motivações de Jardim, podemos afirmar que com as infraestruturas o presidente recolheu os votos necessários para manter-se em função desde 1978. Mas ninguém pode negar que a Madeira hoje apresenta obra feita: as infraestruturas existem e com certeza facilitam (e de que maneira) a actividade das empresas locais.

Porque nem podemos esquecer que ajudar uma empresa não significa apenas pô-la em condição de produzir: após o processo de produção, é preciso que a mercadoria possa circular e alcançar os mercados.
A bem ver, o único papel determinante dum político neste sentido é assegurar a existência de tais estruturas, pois da produção trata o empresário.

Na óptica da simpática Angela, pelo contrário, a classe política tem o dever de “criar empregos e crescimento económico”, como afirmado na proposta apresentada em conjunto com a França no início deste mês. Mas qual o sentido da criação de emprego por parte dos Estados? Como pode um político favorecer o crescimento económico? Porque não podemos ignorar que a simpática Angela é a mesma pessoa que apoia as medidas draconianas na Grécia, com cortes no sector público, nos salários e nas reformas, privatização dos serviços.

Então, Portugal (outro País falido, tal como a Grécia) tem que abdicar das infraestruturas, despedir milhares de trabalhadores e ao mesmo tempo “gerar emprego”? A competitividade não passa pelas infraestruturas fornecidas pelo Estado?

Não seria mal ouvir a descrição deste fantástico mundo que existe na cabezinha da chancelera. De certeza deve ser um mundo bem interessante e até divertido.

Ipse dixit.

Fontes: Público