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O exemplo (e um conselho)

Hoje um post.
Só???
Ah pois. Um post e um conselho.

O conselho é o seguinte: não fiquem doentes. Sério, não tem graça nenhuma. Uma pessoa pode pensar “Sei lá, uma gripe, de vez em quando, até pode dar jeito, não é?”. Não, não dá. E se mesmo assim decidirem estar doentes, pelo menos fiquem longe das infecções alimentares, aquelas com vírus, náusea, disenteria e tudo o resto.

“Dieta hídrica ” até pode soar bem, mas é uma mentira. É “dieta”, disso não há dúvida, mas não é “hídrica” no sentido amplo do termo, pois não inclui bebidas óbvias como chocolate quente, milk shake, cocktail ou cerveja. Nada disso, tudo fica resumido ao chá, pelo que deveria chamar-se “dieta chática”.

Mas vamos em frente.
O Diário de Notícias publica as poupanças dum cidadão português. Nunca é bom fazer as contas no bolso dos outros, até acho um bocado de mau gosto, mas também é verdade que este blog chama-se “Informação Incorrecta”, por isso…

O cidadão em questão é o idoso Aníbal Cavaco Silva que, como vimos num post anterior, sobrevive no limiar da indigência com umas reformas de 10.000 Euros mensais.


10.000 Euros por mês não permitem muitas coisas, mas mesmo assim Aníbal, o azarado, conseguiu juntar uns trocos ao longo da vida. Quantos trocos? Mais ou menos 800.000 Euros, assim repartidos:

39.000 € Depósitos à ordem
612.000 € Contas a prazo
15.000 € Obrigações
53.000 € Poupanças reforma
101.000 € Acções

Obviamente isso não inclui os imóveis (Aníbal tem uma favela em Lisboa e uma barraca no Algarve), as actuais remunerações (140.000 € anuais), os pormenores não declarados (que Aníbal com certeza queria declarar mas esqueceu ou ficaram em nome dos familiares, coisas que acontecem) e as pequenas facilidades do dia a dia.

Por exemplo: uma vez acabado de ser Presidente da República, o pobre Aníbal terá direito a um gabinete, uma secretária, um assessor, um carro com motorista, combustível (claro, se estiver o carro tem que estar a gasolina também) e ajudas de custos para deslocações oficiais (mas só se forem além da área de residência, ora essa).
Um total de 300.000 Euros anuais, todos pagos pelo Estado. E o Estado somos nós.

É importante fazer estas contas? Sim, muito. Por duas razões.

A primeira: se eu tiver um problema nas canalizações, chamo um canalizador, não uma manicura. O mesmo se passa com uma sociedade: para resolver os problemas de quem ganha uma média de 750 Euros por mês, não faz sentido pedir ajuda a quem é habituado a lidar com 10.000 Euros. Simplesmente, são dois estilos de vida diferentes, as prioridades e as necessidades não podem ser as mesmas.

Aqui temos o antigo problema: é justo que os políticos ganhem tanto? Muitas vezes o salário médio?
Este é uma problema sem solução.

A classe política é formada por profissionais que decidem prestar os próprios serviços para o bem comum (estamos a falar em linha teórica, é claro): mas porquê prestar os serviços em prol do bem comum e ganhar X se no sector privado os mesmos serviços podem ser pagos X+X?
A concorrência do sector privado é um elemento desestabilizador que tende a privar o sector público dos elementos melhores caso os ordenados não sigam de perto os valores do privado. O perigo é ficar com os elementos mais “escassos” no público e os melhores nas empresas privadas.

Solução? Sim, uma: limitar por lei o valor dos ordenados, de todos os ordenados. É uma medida que dói e que acho ser profundamente injusta (se eu tiver capacidade de acumular dinheiro, porque raio deve existir uma lei que me impeça de fazer isso? É esta liberdade?). Mas a alternativa qual pode ser? Esperar que haja pessoas tão patrióticas que decidam ganhar menos a favor do País? E porquê não esperar que apareça o Homem Aranha para combater o crime?

Segunda questão. É justo que o pobre Aníbal ganhe todo aquele dinheiro?
Vamos ver. Aníbal é um dos políticos que há mais tempo vive à custa dos cidadãos trabalha em prol da sociedade portuguesa, mais de 20 anos. Foi Ministro, Primeiro Ministro, Presidente da República. Isso significa que se Portugal é o Jardim das Delícias que hoje é, a parte de responsabilidade dele não é pequena.

Mas em vez que ficar preso por alta traição, ganha 10.000 € por mês, tem guardados uns trocos de (mínimo) 800.000 € e ainda tem algumas mordomia à sua espera.

Pelo que temos uma pergunta: que raio de exemplo pode ser o pobre Aníbal? O exemplo é o seguinte: trabalhar mal compensa.

Não importa qual o fruto das nossas acções, não importa se houve desrespeito para a res publica, a coisa pública, não importa se ficarmos calados perante as evidentes distorções dos quais somos testemunhas, não importa se boa parte dos nossos colegas políticos fazem parte de sociedades secretas (maçons), não importa se esvaziarmos o Estado por ordem dos bancos, não importa nada disso: no final seremos compensados.

Isso é ser político hoje, esta é a mensagem recebida pela sociedade.
Um chá, por favor.

Ipse dixit.