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A Revolta dos Forcados

Uma revolta em Italia? Espanto.
Uma revolta no Sul de Italia? Mais espanto.
E os media? Silêncio. Normal.

Mas é revolta: a “Revolta dos Forcados”. Pois quem decidiu mexer-se foram os agricultores. E da Sicilia, onde nasceu, passou até a Calabria. Desenvolvimentos? Ninguém sabe, pode ser que tudo acabe hoje, pode ser que não. Mas é um sinal, pois não é a primeira e nem será a última das manifestações no Velho Continente. Aliás, é provável que com a total implementação das medidas de austeridade, este tipo de manifestações possam intensificar-se.

Partiu dos agricultores para depois incluir outras categorias de cidadãos, praticamente todas.

A intenção é de parar pacificamente toda a Sicilia, bloqueando os pontos cruciais do transporte regional: pontes, autoestradas, portos, em qualquer canto da região, incluídas as refinarias.

Em foco: de-fiscalização dos carburantes e da energia eléctrica, plano de desenvolvimento rural, intervenção da justiça para a protecção dos produtos locais.


Lojas e escolas fechadas em algumas localidades, como Gela, onde os supermercados foram assaltados e bandeiras italianas queimaram. Mas apesar destes incidentes, o resto da revolta está a resultar: nada de comícios, nada de verbosas reuniões, funciona bem melhor a ocupação dos pontos estratégicos.

Conseguirão os Sicilianos obter alguma coisa? Provavelmente não, mas para já mostraram uma forma eficaz para que a própria voz seja ouvida e lançaram um novo sinal: debaixo das cinzas há fogo.

Extremamente interessante a atitude dos diários nacionais: é uma autêntica corrida para desacreditar o movimento. Os jornais falam de “protesto dos auto-transportadores”, o que é falso (mesmo hoje os estudantes decidiram unir-se aos protestos, o mesmo tinham já feito os pescadores, os trabalhadores dos portos…) e dedicam pouco espaço aos acontecimentos, pois os títulos são ainda dedicados ao navio da Costa Crociere afundado perto da Ilha do Giglio (óptimo como desvio das atenções nesta altura).

Os mesmos diários já insinuaram que nos bastidores havia a Mafia, depois optaram para as forças de direita como realizador oculto, evidenciam os aspectos negativos (ambulâncias paradas, serviços públicos em crise), falam de “movimento dividido” e, como no caso de Repubblica, publicam a notícia tendo ao lado outra cujo título é “Infraestruturas, outros 3.900 milhões para o Sul”.

Nos diários estrangeiros nem uma palavra.
O português Diário de Notícias dedica espaço à alegada amante do comandante do navio Costa, mas nada acerca do que se passa na Sicilia..

“Não sou amante de Schettino”, garantiu Domnica Cemortan ao diário italiano Corriere della Sera. [assim: os jornalistas do DN lêem o Corriere, mas escolhem cuidadosamente as notícias…, ndt]. A jovem reconhece ter seguido um “oficial” até à ponte onde traduziu para russo as ordens do comandante para os passageiros.

A jovem moldava que viajava a bordo do Costa Concordia voltou a dar a sua versão dos factos da noite do naufrágio do navio na costa da Toscânia. Em declarações ao diário italiano, Cemortan afirmou não ser amante de Francesco Schettino. E explicou: “Porque ele mostra sempre as fotografias das suas filhas. Um homem que faz isso não pode ter uma amante”.

Numa palavra: épico.
Os media em grande, sem dúvidas e sem surpresa.

Ipse dixit.

Fontes: Il Corriere della Sera, La Repubblica, Diário de Notícias