A Primavera da Nigéria

A Nigéria, um dos Países mais azarados do mundo.

Quase 160 milhões  de habitantes que vivem flutuando por cima duma camada de petróleo. Se a Nigéria fosse um País da América do Norte seria uma potência; se fosse um País da América do Sul seria um País em forte desenvolvimento. Mas a Nigéria fica em África, por isso é só exploração por parte das companhias ocidentais.

Um quinto de toda a população preta da África vive neste País, mas mesmo assim apenas 25% mora em cidades. Islâmicos e Cristãos, quando não empenhados em massacrar-se uns com outros, são administrados por uma governo onde a corrupção é a regra e onde as multinacionais do “ouro negro” mandam.

De infraestruturas nem falar, os transportes são uma lástima, o desemprego fica perto de 30%, doenças provocadas pelas ausentes normas higiénicas, pobreza: este o resumo. A Nigéria é um inferno petrolífero.

Única consolação: a gasolina é muito barata, isso por causa dos subsídios estatais..
Sorte? Não: azar.


Porque com uma gasolina barata, construir refinarias não compensa. Isso mesmo: mais conveniente importar o produto já refinado. Por isso, um dos maiores produtores mundiais de petróleo importa gasolina. Quanta gasolina? 70% dos consumos internos. Nem vale a pena comentar.

O Presidente Jonathan disse “basta”, a despesa tinha que ser controlada e a gasolina dobrou o próprio preço dum dia para outro: de 45 para 94 cêntimos ao litro. Problema: ao aumentar o preço da gasolina, aumenta tudo o resto. Tudo o quê? Tudo, comida em primeiro lugar. E num País onde muitos sobrevivem com 2 Dólares por dia, este não é apenas um simples inconveniente.

O resultado foi uma revolta geral, povo nas praças e uma greve que tem paralisado até a industria petrolífera: os cidadãos não aceitam as pesadas medidas do governo corrupto. Assim, dum lado os kalashnikov da polícia, do outro lado as pessoas que pedem energia eléctrica e água que nunca tiveram.

É uma espécie de “Primavera”, tal como já aconteceu em outros Países árabes e até africanos. Só que aqui não há uma realização oculta; e, se houver, tem que enfrentar o poder das multinacionais petrolíferas. E isso torna o cenário sem encanto, pelo que não há títulos nas primeiras páginas ou Twitters enlouquecidos: mesmo com trocas de tiros e feridos, o interesse é pouco.

José Adekolu, um contabilista de 42 anos de idade:

Os nossos líderes não estão preocupados com os Nigerianos. Estão preocupados com eles mesmos

Sim conhecemos o estilo. E também as desculpas. Ngozi Okonjo-Iweala, Ministro das Finanças:

A Grécia chegou onde está agora porque durante anos não fizeram a coisa certa. Mantiveram-se com os empréstimos para financiar o desenvolvimento. Não podemos continuar com os empréstimos também para financiar o nosso desenvolvimento.

Grécia? Não sei porquê mas acho que as prioridades e os problemas da Nigéria são um bocado diferentes.
 
Os organizadores dos protestos pediram manifestações pacíficas, mas a situação piorou de forma rápida.
Os ataques chegam dos activistas do grupo Occupy Nigéria, cuja raiva vai além do preço da gasolina.
Só no ano passado, por exemplo, pelo menos 510 pessoas foram mortas por uma seita radical muçulmana e a resposta do governo foi demasiado fraca. Definitivamente, a justiça não mora aqui.

Doutro lado, que esperar num País governado pela Shell?

Ipse dixit.

Fontes: Petrolio, Washington Post

One Reply to “A Primavera da Nigéria”

  1. Azar… Não… Para já é sorte… Esperem para quando o petróleo que por lá existe deixar de ser financeiramente rentável… e aí vão ver o que é AZAR! Depois disso apenas terão a sorte de por lá andarem as Industrias Farmacêuticas e as ONG do VIH/SIDA… isto sim uma Verdadeira SORTE…

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