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Origens – Parte I

Po popó po po…tudo bem, então começamos um artigo épico: as origens.
Porquê? Olhem, culpa da Rita:

Gostava muito de ver um artigo sobre as tais raízes.

Ahie? Então eis as raízes: não apenas as nossas, mas de todos os bípedes e quadrúpedes do planeta. E os animais com 6 patas? Também. E aqueles com 8 patas? Também. E aqueles…ohé, ohé, todos os animais, com patas e sem patas, tá bom? Toda a história do mundo e arredores em apenas 348 post, um grande negócio.

Doutro lado é Natal, altura certa para fazer um resumo, recolhendo as últimas informações das várias áreas: astrofísica, geologia, pré-história, história, culinária. 

Vamos fazer assim: uma série de artigos épicos que ilustrem os derradeiros conhecimentos acerca de como tudo começou. Ok, talvez Rita entendesse outras raízes. Mas no entanto começamos por construir os moldes: antes as origens, depois as raízes, não sei se perceberam. Eu não percebi, mas vamos em frente.

Última pergunta: mas que tem isso a ver com Informação Incorrecta?
Resposta: nada, porquê?
Não, assim, só para saber…

Muito bem.

O começo

Para começar a nossa história temos que recuar muito, muito tempo. E encontramos as primeiras dificuldades.
Os religiosos dizem “Havia Deus”, os outros dizem “Havia o Nada”.
Parece uma primeira batalha ganha pelos religiosos: como pode surgir algo do nada?

Na verdade esta afirmação contem dois erros fundamentais:
1. O nada não existe, no sentido que nunca foi observado
2. Mas quanto antes recuamos?

Primeiro ponto: na Natureza o Nada nunca foi observado. Até no gélido espaço intergaláctico, há sempre alguma coisa, nem que seja um átomo. O Nada absoluto só foi criado em laboratório.
Assim temos o primeiro paradoxo: para justificar a existência dum Deus (um qualquer) qual “princípio de tudo”, a religião precisa de recorrer a algo criado com meios científicos, algo que na Natureza nunca foi observado.

Mas ultrapassamos isso: vamos atrás, até um tempo em que o nosso Universo não existia. Será que aí podemos encontrar o Nada? A resposta é “depende”.
Se aceitarmos a ideia pela qual o nosso Universo foi o primeiro e único, então podemos afirmar que sim, antes havia o Nada. Mas temos a certeza de que esta visão esteja correcta? Não, não temos.

E aqui surge o segundo ponto: “Mas quanto antes recuamos?”.

Big Band? Não, “Bang”

As religiões e filosofias orientais sugerem que o nosso não seja o primeiro dos Universos. O Big Bang, a grande explosão que tudo iniciou, pode ter tido origem na deflação dum universo anterior. Dito de outra forma: um universo anterior pode ter-se tornado tão pequeno e tão denso que, numa data altura, explodiu (Big Bang) tendo assim originado o actual Universo.

É esta uma ideia tão absurda? Não, é uma hipótese científica. Uma das hipóteses. Neste aspecto, o nosso seria apenas um entre uma longa cadeia de universos.

Mas não compliquemos, aliás, vamos simplificar: consideremos o nosso como o primeiro e único Universo.

As religiões (a maioria delas) dizem que nesta altura Deus (ou os Deuses) criaram tudo: planetas, estrelas, provavelmente a Goldman Sachs também. O Antigo Testamento da Bíblia apresenta até uma cronologia, mas hoje a Igreja reconhece o Big Bang como possível começo; neste caso teria sido Deus a gerar a tal grande explosão.

Dito assim parece a quadratura do círculo: o Big Bang cria o Universo e faz felizes os cientistas; Deus cria o Big Bang e faz felizes os religiosos.

Na verdade esta afirmação tem profundas implicações. Porque os cientistas conseguem reconstruir o desenvolvimento do Universo até poucos instantes após a explosão (mas seria mais correcto afirmar “poucos instantes após o começo da explosão”) e parece evidente de que a partir daí o Universo tem seguido as suas próprias regras, que depois são as regras que estamos a tentar descobrir e interpretar.

Isso significa que Deus criou algo que depois não teve necessidade de intervenção divina: para intervir, Deus deveria ter alterado as Leis que Ele mesmo criou. Mas faz sentido conceber um Deus condicionado pelas Suas próprias regras?

Ok, vamos simplificar neste caso também.
Se o Leitor for religioso: Deus criou o Big Bang
Se o Leitor não for religioso: houve o Big Bang.

Mas quando?

O Bispo e a abelha de Rita

O Bispo James Ussher no século XVII, calculou a data tendo como base as genealogias do Antigo Testamento: o Universo tinha sido criado no dia  23 de Outubro do ano 4004 Antes de Cristo. Ussher era uma pessoa muito precisa.

Só que depois foram encontradas coisas chamadas “fósseis”. E os fósseis tinham muito mais de que 6.000 anos (4004 a.C. mais 2000 d.C.). Ainda há pessoas que duvidam dos fósseis e pensam: “Será que estas coisas são mesmo tão velhas? Não será que alguém pôs estas coisas por baixo da terra para que todos pensassem serem fósseis? Não será que foi o mesmo Deus a criar os fósseis para entreter os arqueólogos? E como poder ter a certeza de que estas coisas são realmente tão velhas?”.

Epá, quantas perguntas…simplifiquemos ao máximo.

Uma abelha fica com vertigens, cai no meio da lama e afunda. Coitada. Passa o tempo, a lama endurece e o corpo da abelha fica irremediavelmente preso na camada de terra e água. Os tecidos degradam até desaparecer, mas entretanto a lama tinha já solidificado e não vai encher o espaço deixado vazio pelos tecidos desaparecidos.

Após uns anitos, chega Rita que diz: “Olha, vou plantar uma árvore de cerejas mesmo aqui”. Porque Rita quer plantar uma árvore de cereja? Não sabemos, mas ao cavar, Rita encontra a impressão da abelha solidificada na lama endurecida. E Rita pensa: “Ahi que nojo, uma abelha fóssil!”.

É possível determinar há quanto tempo a abelha estava enterrada? Sim, é possível: ao saber quanto tempo a lama demora para endurecer e quanto tempo demoram os tecidos da abelha a desaparecer, podemos ter uma ideia de quando a abelha mergulhou.

É um exemplo muito estúpido, não é? Sim, claro que é: mas serve apenas para ter uma ideia. A realidade é um pouco mais complexa (muito mais complexa), mas o princípio é este.

Os fósseis demonstravam que havia coisas mais velhas do que 6000 anos: e como não fazia sentido ter fósseis mais antigos do que a própria Terra, foi lógico pensar que a Terra fosse muito mais antiga.

Ok, isso a Terra. Mas o Universo? Como se pode calcular a idade do Universo?

A viagem da luz

A luz viaja. Parte do ponto A e chega até o ponto B. Aqui, na nossa casinha, ligamos o interruptor e ao mesmo tempo o candeeiro liga-se: a luz parece ser uma coisa imediata. Mas não é: é apenas terrivelmente veloz. Na verdade, a luz demora tempo para deslocar-se do ponto A até o ponto B, e se A e B forem suficientemente afastados, podemos calcular a velocidade.

A velocidade da luz é de 299.792.458 metros/segundo ou, para simplificar, 300.000 km/segundo. Rápida, não é? Mesmo assim, demora 8 minutos para percorrer a distância entre o Sol e a Terra. Isso significa que a luz que chega agora ao planeta partiu 8 minutos atrás do Sol.
E a Lua? Dois segundos e picos, quase três.

Agora paremos e pensemos: é a luz que permite observar as imagens e isso significa que as imagens viajam com a mesma velocidade da luz, correcto? Mas isso significa que a imagem do Sol que conseguimos ver neste preciso momento viajou com a luz e, portanto, demorou 8 minutos para deixar a nossa estrela e chegar até nós.
Portanto: não conseguimos ver como é o Sol agora, mas apenas como era há 8 minutos, quando a luz (e a imagem do Sol) partiu.

Dito de outra forma: o Sol poderia tornar-se verde mas ao longo de 8 minutos continuariam a chegar as imagens do Sol amarelo. Só após 8 minutos chegariam até nós as primeiras imagens do Sol verde. Parece uma coisa sem sentido, não é? Mas faz todo o sentido.

Por isso costuma dizer-se que o Sol fica a 8 minutos/luz, isso é: é o tempo que a luz demora para percorrer a distância entre nós e a nossa estrela. São 8 minutos percorridos com a velocidade de 300 mil km/segundo.

Tudo bem, mas que isso tem a ver com a idade do Universo, eh?

A idade do Universo

É simples: o Sol fica a 8 minutos e é a estrela mais próxima. Uma estrela mais distante ficará a uma distância maior.

Por exemplo, Próxima Centauri fica a 4,22 anos luz de nós: a luz dela demora 4,22 anos para percorrer toda a distância (4,22 anos percorridos com a velocidade de 300 mil km/segundo); e isso significa que o que conseguimos ver agora é a imagem de Próxima Centauri há 4,22 anos.

Sírio, a estrela mais brilhante do céu nocturno, fica a 8,58 anos/luz (8,58 anos percorridos com uma velocidade de 300 mil km/segundo).

O mesmo princípio vale para todos os outros objectos do céu. Como as galáxias, que são grupos de estrelas. A Grande Nuvem de Magalhães, visível a partir do Hemisfério Sul, fica a 157.000 anos/luz (157.000 anos percorridos com a velocidade de 300 mil km/segundo). O que significa que a luz da Grande Nuvem partiu há 157.000 anos atrás.

A Grande Nuvem de Magalhães poderia desligar-se mesmo agora mas aqui na Terra ninguém repararia: seria preciso esperar 157.000 anos antes de alguém no Brasil dizer “Ehi, será que um dos ministros da Dilma ficou com a Grande Nuvem?”.

Por isso, ao olhar para as estrelas não podemos ver como elas são agora, mas como eram quando a luz delas começou a viagem para chegar até nós. E como nada viaja mais rápido do que a luz (mas acerca deste ponto será preciso falar mais para a frente), esta é a visão mais actualizada que é possível ter.

O que doutro lado é uma vantagem também. Porque se olhar uma estrela significa ver como ela era, se conseguir encontrar uma estrela muito, muito, mas mesmo muito longe posso ter uma ideia aproximada da idade do Universo, não é?
Por exemplo: se encontrarmos uma estrela com 1.000.000 de anos luz, podemos dizer com certeza que o Universo tem, pelo menos, 1 milhão de anos. Porque não pode existir uma estrela mais velha do que o Universo e a luz daquela estrela começou a sua viagem até nós há 1 milhão de anos.

As observações efectuadas e alguns cálculos indicam um Universo com 13,7 biliões de anos. Mas é uma medida temporária, no sentido que não podemos ter a certeza de que seja o último valor que será alcançado. E em qualquer caso é um valor aproximado.

O máximo que podemos dizer é que o Universo tem mais de 13 biliões de anos, quase 14.
Muito mais velho do que este blog.

Ipse dixit.