Site icon

Holanda, dezenas de milhares de abusos sexuais

Em 50 anos, mais ou menos, dezenas de milhares de crianças e rapazes foram abusados por padres pedófilos. Esta é a conclusão da Comissão de inquérito independente que tinha como objectivo analisar o novo escândalo da Igreja católica.

A Comissão, com base em 1.795 queixas, conseguiu individuar os nomes de pelo menos 800 pessoas, das quais uma centena ainda em vida. A Comissão foi o fruto de várias pressões exercitadas também pela imprensa holandesa: em Março de 2010 foi formada tendo como investigadores seis pessoas: um ex-ministro (Wim Deetman), um juiz, professores universitários e uma psicóloga.

Segundo a Comissão, os abusos foram cometidos por sacerdotes e laicos (que trabalham ao serviço dos bispos), incluem violações e foram sistematicamente encobertos pela Igreja.


Os bispos holandeses estão chocados pelos abusos e as praticas pormenorizadas contidas no relatório. E a Conferencia Episcopal ofereceu “sinceras desculpas”. Os religiosos acusam também as autoridades da Igreja que não actuaram de forma correcta e não deram prioridades aos interesses das vítimas.

Quantas vítimas? Entre 10 mil e 20 mil. Dezenas de milhares de actos pedófilos no interior das instituições católicas, como orfanatos.

Explica Deetman:

A afirmação pela qual as pessoas não sabiam é insustentável: o problema dos abusos sexuais era conhecido desde a década dos anos ’40, a Igreja católica holandesa sabia e tentou resolver o problema mas não foram tomadas medidas eficazes.

O escândalo da Holanda não é o primeiro e segue os da Irlanda, da Alemanha, dosa Estados Unidos, do Canada…e pensar neste como um fenómeno ligado exclusivamente à Igreja católica seria um erro.

No link a seguir é possível ver um vídeo que ganhou em 2006 vários prémios mas que aqui, nos Países mais religiosos, passou despercebido: conta uma realidade muito diferente, feita de violações, raptos, assassinatos, e que tem como protagonista não apenas os católicos mas todas os principais ramos da Cristandade.

O vídeo é em língua original (Inglês), dura quase duas horas e se alguém encontrar uma versão traduzida é favor apitar.

Link: Unrepentant: Kevin Annett e o genocídio do Canada.

Voltemos ao problema dos padres pedófilos.

Além do desgosto pelas notícias, não podemos não realçar a maciça campanha para o desmantelamento dos valores e princípios que constituíram as bases da nossa sociedade ao longo de séculos. 

É um assunto delicado: dum lado temos criminais (os padres pedófilos), que não têm desculpa possível; doutro lado a Igreja, que com a sua vergonhosa atitude encobriu os acontecimentos ao longo de décadas e que permitiu o sofrimento de milhares de crianças e rapazes (que, em princípio, deveria ter protegido e ajudado); doutro lado ainda temos esta obra de demolição controlada, que tem como objectivo destruir os já citados valores e substitui-los com os novos (nunca chamados com os nomes deles mas sempre repetidos de forma obsessiva com o auxílio dos media).

Claro: se a Igreja tivesse feito o trabalho dela, nesta altura um tal problema não existiria. O Catolicismo, tal como a Cristandade no geral, poderia erguer-se como autentico “farol” no meio da obscuridade imperante. Mas isso não pode acontecer, pela simples razão que a Igreja abandonou há tempo a função primária para abraçar outros interesses; a Palavra do Cristo ficou no Novo Testamento, a Igreja de hoje está bem mergulhada em interesses muito mais “terrenos” e economicamente satisfatórios.

Resultado: a Igreja não pode apresentar o nível moral requerido a quem deseje ser uma “guia”. E, mais uma vez, assistimos aos pedaços da nossa antiga sociedade que caem no mar da indefinição, substituídos pelo nada absoluto.

Muitos entre os Leitores deste blog vêem a religião como algo de negativo, como uma droga dos povos, parafraseando as palavras de Marx. E encontram nestes escândalos razões para argumentar o próprio ponto de vista.
Eu, que Católico não sou, discordo fortemente desta visão simplicista e simplória: é curioso observar as pessoas queixarem-se das perdas dos valores e, ao mesmo tempo, renegar as próprias raízes (eis, Rita, algumas das nossas) com os princípios nelas contidos.

Mas este é outro discurso que mereceria bem outro espaço.
Por enquanto nada mais podemos fazer a não ser observar uma Igreja doente que mergulha num oceano de vergonha, arrastando uma boa fatia do nosso passado.

Ipse dixit.

Fontes: Il Fatto Quotidiano